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PARIS COSSACA
Erguida em 2005, torre em vila reforça vínculos com a França
Rússia cria versão de Eiffel
MARIA GOLOVNINA
DA REUTERS
Depois da notoriedade de uma
Paris, no Texas (EUA), com o lançamento do filme do diretor Win
Wenders, em 1984, agora outra
Paris tenta entrar no mapa: bem-vindo a Paris, Rússia.
Uma dura jornada pela estepe
ao longo da fronteira russa com o
Cazaquistão e lá está a vila cossaca
de Paris, com sua torre Eiffel.
Fundada por soldados que voltavam após derrotar Napoleão
em 1815, esse punhado de cabanas
brancas e jardins ainda está perdido no tempo e na história.
"Faz tempo que os nossos pais
do terceiro regimento cossaco
Orenburg voltaram da França,
gloriosos e de repente sofisticados", diz Rosa Alchinova, ao andar pela rua Soviet, a principal.
"Não surpreende que eles tenham decidido chamar seu novo
lar de Paris após conquistarem a
capital francesa", continua.
Para consolidar o vínculo de 190
anos com a França, as autoridades regionais construíram sua pequena torre Eiffel no centro da vila neste ano. A versão cossaca tem
um sexto do tamanho da original
francesa, mas ainda assim é reconhecível -e funciona também
como antena de telefone celular.
"É provavelmente a maior construção dessa região em quilômetros", orgulha-se Pyotr Batrayev,
na casa dos 60 anos, representante de um dos mais antigos clãs de
Paris, enquanto olha para a torre
de 50 m de altura e pastoreia sua
vaca aos pés do monumento.
Separada de sua xará francesa
por 4.000 quilômetros, Paris aparenta ser uma vila russa razoavelmente rica, com suas casas de madeira, poucos prédios no estilo da
era soviética, e vacas ruminando.
Carroças de um cavalo andam
ao lado de carros importados nas
estreitas ruas do vilarejo. Imóveis
custam de US$ 2.000 a US$ 7.000.
Localizada em um vale sem árvores cortado por um rio turquesa, Paris é lar de 2.000 cossacos
nagaibak, descendentes de tribos
muçulmanas. Mesmo depois de
terem sido forçados a se converter
ao cristianismo por Ivan, o Terrível, mantiveram as tradições.
Os moradores de Paris ainda
usam apelidos nagaibak, como
"dedão branco" ou "lobo preto"
no lugar de nomes russos. Apenas
três pessoas na vila falam francês.
A cultura local mistura antigos
contos nagaibak, baladas medievais e histórias sobre o líder cossaco Matvei Platov, cujo regimento
lutou nas guerras napoleônicas.
Depois da guerra, Platov foi à Inglaterra, mas suas tropas voltaram às montanhas e fundaram
um arquipélago de vilas de nomes
europeus, incluindo a cidade batizada com nome de campo de batalha: Fere-Champenoise, conhecida também como Fershanka.
A cinco minutos da torre Eiffel
fica o Museu de História de Paris.
A curadora, Nadezhda Gavrilova,
espera que a torre atraia turistas a
essa parte remota da Rússia. "Mas
os moradores são contra a construção de outros ícones franceses,
como cafés "Moulin Rouge" e a
mudança de nomes de ruas para
Champs-Elysées. O que aconteceria com a identidade se tudo começasse a ser copiado da França?", indaga Gavrilova.
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