São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2005

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PARIS COSSACA

Erguida em 2005, torre em vila reforça vínculos com a França

Rússia cria versão de Eiffel

MARIA GOLOVNINA
DA REUTERS

Depois da notoriedade de uma Paris, no Texas (EUA), com o lançamento do filme do diretor Win Wenders, em 1984, agora outra Paris tenta entrar no mapa: bem-vindo a Paris, Rússia.
Uma dura jornada pela estepe ao longo da fronteira russa com o Cazaquistão e lá está a vila cossaca de Paris, com sua torre Eiffel.
Fundada por soldados que voltavam após derrotar Napoleão em 1815, esse punhado de cabanas brancas e jardins ainda está perdido no tempo e na história.
"Faz tempo que os nossos pais do terceiro regimento cossaco Orenburg voltaram da França, gloriosos e de repente sofisticados", diz Rosa Alchinova, ao andar pela rua Soviet, a principal.
"Não surpreende que eles tenham decidido chamar seu novo lar de Paris após conquistarem a capital francesa", continua.
Para consolidar o vínculo de 190 anos com a França, as autoridades regionais construíram sua pequena torre Eiffel no centro da vila neste ano. A versão cossaca tem um sexto do tamanho da original francesa, mas ainda assim é reconhecível -e funciona também como antena de telefone celular.
"É provavelmente a maior construção dessa região em quilômetros", orgulha-se Pyotr Batrayev, na casa dos 60 anos, representante de um dos mais antigos clãs de Paris, enquanto olha para a torre de 50 m de altura e pastoreia sua vaca aos pés do monumento.
Separada de sua xará francesa por 4.000 quilômetros, Paris aparenta ser uma vila russa razoavelmente rica, com suas casas de madeira, poucos prédios no estilo da era soviética, e vacas ruminando.
Carroças de um cavalo andam ao lado de carros importados nas estreitas ruas do vilarejo. Imóveis custam de US$ 2.000 a US$ 7.000.
Localizada em um vale sem árvores cortado por um rio turquesa, Paris é lar de 2.000 cossacos nagaibak, descendentes de tribos muçulmanas. Mesmo depois de terem sido forçados a se converter ao cristianismo por Ivan, o Terrível, mantiveram as tradições.
Os moradores de Paris ainda usam apelidos nagaibak, como "dedão branco" ou "lobo preto" no lugar de nomes russos. Apenas três pessoas na vila falam francês.
A cultura local mistura antigos contos nagaibak, baladas medievais e histórias sobre o líder cossaco Matvei Platov, cujo regimento lutou nas guerras napoleônicas. Depois da guerra, Platov foi à Inglaterra, mas suas tropas voltaram às montanhas e fundaram um arquipélago de vilas de nomes europeus, incluindo a cidade batizada com nome de campo de batalha: Fere-Champenoise, conhecida também como Fershanka.
A cinco minutos da torre Eiffel fica o Museu de História de Paris. A curadora, Nadezhda Gavrilova, espera que a torre atraia turistas a essa parte remota da Rússia. "Mas os moradores são contra a construção de outros ícones franceses, como cafés "Moulin Rouge" e a mudança de nomes de ruas para Champs-Elysées. O que aconteceria com a identidade se tudo começasse a ser copiado da França?", indaga Gavrilova.


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