São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2011

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Sede da Al Jazeera, país é mediador no mundo árabe

Emir deu golpe de Estado no pai, em 1995, mas implantou sistema que critica ditadores da região

Local ostenta o maior índice de crescimento, 16,3%, e, também, a maior renda per capita do mundo, US$ 179 mil


SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO

O pequeno e rico Qatar não só se mantém imune aos protestos antigoverno que varrem o mundo árabe como tira proveito desses tumultos.
O vendaval que sacode o Oriente Médio joga luz sobre esse país singular que, ao contrário dos vizinhos, transformou a bonança petroleira em Estado de bem-estar e em instrumento de política externa arrojada e popular.
A liquidez permitiu ao Qatar resistir à instabilidade deflagrada pela crise global de 2008, e o país hoje ostenta a renda per capita mais alta do mundo: US$ 179 mil. Qatar também tem o mais alto crescimento no planeta (16,3% e o desemprego, de 0,5%, perde só para o de Mônaco.
Serviços, como saúde e educação, são acessíveis aos 850 mil habitantes.

PAZ SOCIAL E POLÍTICA
Mas boas condições de vida não bastam para garantir a paz social -a Líbia de Muammar Gaddafi, envolta em conflitos, tem indicadores positivos, incluindo o Índice de Desenvolvimento Humano mais alto da África.
Um cenário de conflito, no entanto, parece improvável no Qatar. Lá, o emir Hamad bin Khalifa al Thani tomou o lugar do pai num golpe não violento, em 1995, e está longe de ser um democrata.
Mas implementou um sistema que é um dos mais liberais da região, pelo menos em direitos morais e sociais.
Apesar de baseado numa interpretação conservadora do islã, o Qatar não impõe nenhum código vestuário, ao contrário da vizinha Arábia Saudita. Bebidas alcoólicas são toleradas, com restrições.
O Qatar preza uma liberdade de expressão que, segundo diz, se reflete na TV Al Jazeera, criada, bancada e dirigida pelo emir.
A Al Jazeera surgiu nos anos 90 com a promessa de ser a primeira TV do mundo árabe livre de censura.
Foi pioneira ao tratar de temas tabus, como a homossexualidade e a corrupção dos regimes árabes, e foi o primeiro canal a dar voz a Israel.
A diplomacia qatariana desde então se confunde com a popular linha editorial da Al Jazeera, e a emissora, que hoje tem um canal em inglês para rivalizar com CNN e BBC, apoia as revoltas árabes e a queda dos ditadores.
Não por acaso, o Qatar foi um dos primeiros países a reconhecer o governo egípcio pós-Mubarak e o Conselho Nacional de Transição dos rebeldes líbios. O governo qatariano admite fornecer dinheiro e armas à insurgência anti-Gaddafi. Em troca, ganhou o direito de ajudar a administrar as reservas de petróleo em território rebelde.
Para os críticos, o Qatar usa a Al Jazeera para praticar uma demagogia e um denuncismo que enxerga problemas nos vizinhos e fecha os olhos ao abusivo poder do emir.
O governo rebate e diz que sua suposta independência política é o que lhe permite ser um mediador geopolítico relevante: ao mesmo tempo um aliado dos EUA (o Qatar hospeda uma importante base americana) e amigo do Irã, interlocutor do Hezbollah que também dialoga ocasionalmente com Israel.


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