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Refeição à madrilena acaba quando termina
DA ENVIADA ESPECIAL
Repleta de travessas e cercada
de pessoas que parecem que jamais vão arredar suas garupas da
cadeira. Bem-vindo à mesa espanhola, na qual nunca falta comida
tampouco papo. A dimensão do
tempo numa refeição espanhola é
elástica. Gasta-se quanto tempo
for necessário para comer.
Uma das maneiras de constatar
essa agradável relação entre o espanhol e sua refeição é experimentar um cozido madrileno.
Prepare-se para enfrentar sérias
dificuldades ao contabilizar as tigelas servidas, pois isso vai longe.
Antes de mais nada, é servida
uma sopa de grão-de-bico e macarrão fininho, tipo fidelinho,
preparada com o caldo no qual
foram cozidos os itens do prato
principal. A sopa é vigorosa. Mas
não exagere, uma vez que ela é só
o aquecimento de uma verdadeira maratona gastronômica.
Depois que todos se fartaram da
sopa, começam as rodadas de travessas. Primeiro, os vegetais:
grão-de-bico, repolho, cenoura e
batata. Esqueça esse papo de cenoura em rodelas ou cubos. Ela
pode vir inteira, com a cabeleira
de folhas inclusive, e vai assim, incólume, para o prato. Em seguida
vêm o frango, a carne, o porco, a
costela, o presunto, o mocotó, o
toucinho e a linguiça. Um pedaço
de cada um para cada conviva.
Agora, façamos as contas: no
seu prato há uma colher de grão-de-bico, uma cenoura, uma batata inteira, uma colher de repolho,
uma coxa de frango, um pedaço
de carne, uma costela, uma cabeça de presunto, um pedaço de osso com mocotó, um quadrado de
toucinho e uma linguiça. Dimensione o prato. Errou. Ele fica
maior do que é possível imaginar.
O osso recheado com mocotó
talvez seja o item que mais cause
dúvidas. Afinal, poucas pessoas se
mostram dispostas a sugar a gelatina intra-óssea de qualquer bicho. Mas aí os madrilenos explicam como efetuar a operação:
"Pegue a gelatina com uma faca e
passe-a no pão". Simples assim. O
resultado se assemelha a um pão
com manteiga. No caso, uma
manteiga quentinha, com um
gosto um pouco mais forte.
Outro item que centraliza os
olhares é a cabeça de presunto.
Trata-se da parte mais larga da
peça, oposta ao osso, cozida. O resultado é que as faixas de gordura
se separam da carne, que fica fibrosa e altamente saborosa.
Refestelados e estatelados em
suas cadeiras, os comensais, nesse
momento, acreditam ter acabado
de quebrar o recorde de quantidade de alimento consumida de
uma só vez. No entanto, em cada
prato, por mais guloso que seja o
seu dono, há sobras.
O cozido, por ser de preparo demorado e cuidadoso, é servido
em apenas alguns dias da semana.
O restaurante Charolés (r. Floridablanca, 84, tel.: 00/xx/34/91/
890-5975), em San Lorenzo de el
Escorial, a 50 minutos de Madri,
serve o prato às quartas e sextas. É
obrigatório fazer reservas.
(HL)
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