São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

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TERRA DE PINGÜIM

Para explorar a gélida região, é preciso usar tecnologia

GPS "salva" a falta de orientação da bússola

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma andorinha sozinha pode não fazer um verão, mas basta um pingüim para mostrar como o inverno na Antártida pode ser frio, muito frio. Apesar de andarem de casaca e comerem peixe cru, são aves sensatas e sensíveis que migram para lugares mais quentes.
Já os seres humanos podem ser vistos na região mesmo no pior inverno, guarnecendo estações científicas de vários países, confiantes na tecnologia -que, ainda assim, pode dar sustos. Bússolas comuns surtam ao se aproximarem do pólo sul magnético.
É raro achar pingüins na Antártida na estação mais fria. Mas são bichos inesquecíveis, como o caso de um atrasadinho com quem este repórter topou por lá. Com o terreno todo coberto de neve, o bicho aproveitava para praticar tobogã. Ao chegar a uma elevação, deslizava de barriga até a próxima. E assim prosseguia a sua elegante marcha migratória.
Se você não é um explorador, andar na Antártida é loucura. No inverno, não há marcos geográficos, só um deserto branco, que ainda por cima pode ser alvo de uma tempestade de neve, que bloqueia toda a visão. Andar rápido, em um veículo adaptado, só se você estiver totalmente coberto. O vento gelado amplifica o frio -a ponto de parecer que estão enfiando lâminas no seu rosto.
Felizmente inventou-se o GPS, um aparelho posicionador por satélite. Pois a agulha das bússolas tende a apontar para baixo, na direção do pólo Norte, abaixo dos seus pés. Mas ela também pode enlouquecer de modo mais original, girando feito louca graças ao pólo magnético próximo.
Para os cientistas, a Antártida é um petisco tentador. Pesquisas únicas sobre clima, sobre fauna e mesmo sobre o convívio de seres humanos são feitas ali.
Brasileiros, especialmente do Sul e do Sudeste, sabem bem o que são frentes frias, que vêm dali. O gelo e o ar puríssimos são fontes importantes de informações geoquímicas. Os bichos são quase incomparáveis -obviamente, só com os do antípoda pólo Norte.
Estar em uma estação isolada, em pequenos grupos que têm que conviver cotidianamente, é o melhor laboratório para uma futura viagem espacial a Marte, que exigirá algo parecido. Não há como pular fora facilmente. Mas, claro, o melhor na Antártida é ser turista. Visitar, em relativo conforto; comportar-se de modo ambientalmente correto; e lembrar para sempre a experiência.


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