São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

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TERRA DE PINGÜIM

Elefantes-marinhos e focas não se incomodam com turistas; visita à base faz parte de cruzeiro

Rumo ao sul, navio flerta com geleiras, poloneses e fauna

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA ANTÁRTIDA

Depois de visitar a Geórgia do Sul, o navio singra o mar de Scotia para entrar de cheio na convergência antártica (o ponto do oceano onde as águas geladas da Antártica se encontram com as águas quentes no norte), considerada uma das grandes zonas físicas e biológicas do planeta.
Suas águas têm até 5C de diferença com o Atlântico, o que produz fortes turbulências marinhas, fato que enriquece o plâncton e os nutrientes na sua superfície. Isso faz que a convergência antártica seja extremamente produtiva e ecologicamente rica.
Após dois dias de navegação, chega-se até a ilha Elefante, um impressionante e solitário rochedo com vários quilômetros de comprimento, montanhas sempre cobertas de gelo e praticamente desprovido de praia. Foi aqui que chegou a tripulação do Endurance, com Ernest Shackleton liderando um grupo de 27 homens, após mais de um ano vivendo em cima de bancos de gelo à deriva pelo mar de Weddell.
Os cruzeiros geralmente se detêm diante de uma estreita e pequena planície de gelo, brita e rochas, de onde, sem esperanças de serem resgatados no mar, saíram Shackleton e cinco marinheiros à procura de socorro. O resto da tripulação, 22 homens, esperou meses nesse desolado lugar pela ajuda prometida.
Nenhum passageiro fala, todos rendem uma silenciosa e emocionada homenagem à coragem humana. O navio faz soar três vezes sua sirene, em saudação ao heróico grupo do navio Endurance.

Bípedes forasteiros
Os icebergs já são presença constante na paisagem. O frio também. Desde a saída de Buenos Aires até esse ponto da viagem, o termômetro desce 19C. Já se navegam águas antárticas, e a primeira parada nesse território é Turret Point.
Mora nessa região uma imensa colônia de pingüins adelie e chinstrap, acompanhados por petréis gigantes do sul, cormorões-imperiais, de incríveis olhos azuis, skuas, elefantes-marinhos e focas-de-weddell. Uma overdose de fauna antártica logo no primeiro desembarque.
Nenhum bicho se incomoda com a presença desses bípedes com casacos azuis -fornecidos pelo navio-, carregando máquinas fotográficas e de vídeo. Mas é sempre bom manter uma distância prudente desses animais: cinco metros é a recomendação dos guias da viagem.
Há ninhos e ovos por todo lado, e tanto elefantes-marinhos como focas se confundem com a areia escura, sendo fácil tropeçar neles ou levar um susto com os gritos guturais que disparam quando a gente menos espera.
A próxima parada é a base polonesa de Arctowski. Estamos a exatos 5.223 km de Brasília, mas só a 15 minutos de lancha da base verde-amarela Comandante Ferraz. Sabe falar polonês? Não fique preocupado se sua resposta for negativa, eles tampouco entendem muito de português, embora as visitas entre nossa base e a deles sejam bem freqüentes. Os membros da base Arctowski aprenderam a falar feijoada e caipirinha.
A simpatia entre eles e nós é forte, quem sabe isso faz que, com alguns sinais de mãos, consigamos que nos sirvam um reconfortante gole de vodca, enquanto os outros viajantes compram postais e suvenires. Antes de entornar o copo diga: nasdróvia (saúde em polonês), e estaremos em casa. (JAIME BÓRQUEZ)


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