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TERRA DE PINGÜIM
Elefantes-marinhos e focas não se incomodam com turistas; visita à base faz parte de cruzeiro
Rumo ao sul, navio flerta com geleiras, poloneses e fauna
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA ANTÁRTIDA
Depois de visitar a Geórgia do
Sul, o navio singra o mar de Scotia
para entrar de cheio na convergência antártica (o ponto do oceano onde as águas geladas da Antártica se encontram com as águas
quentes no norte), considerada
uma das grandes zonas físicas e
biológicas do planeta.
Suas águas têm até 5C de diferença com o Atlântico, o que produz fortes turbulências marinhas,
fato que enriquece o plâncton e os
nutrientes na sua superfície. Isso
faz que a convergência antártica
seja extremamente produtiva e
ecologicamente rica.
Após dois dias de navegação,
chega-se até a ilha Elefante, um
impressionante e solitário rochedo com vários quilômetros de
comprimento, montanhas sempre cobertas de gelo e praticamente desprovido de praia. Foi
aqui que chegou a tripulação do
Endurance, com Ernest Shackleton liderando um grupo de 27 homens, após mais de um ano vivendo em cima de bancos de gelo
à deriva pelo mar de Weddell.
Os cruzeiros geralmente se detêm diante de uma estreita e pequena planície de gelo, brita e rochas, de onde, sem esperanças de
serem resgatados no mar, saíram
Shackleton e cinco marinheiros à
procura de socorro. O resto da tripulação, 22 homens, esperou meses nesse desolado lugar pela ajuda prometida.
Nenhum passageiro fala, todos
rendem uma silenciosa e emocionada homenagem à coragem humana. O navio faz soar três vezes
sua sirene, em saudação ao heróico grupo do navio Endurance.
Bípedes forasteiros
Os icebergs já são presença
constante na paisagem. O frio
também. Desde a saída de Buenos
Aires até esse ponto da viagem, o
termômetro desce 19C. Já se navegam águas antárticas, e a primeira parada nesse território é
Turret Point.
Mora nessa região uma imensa
colônia de pingüins adelie e
chinstrap, acompanhados por petréis gigantes do sul, cormorões-imperiais, de incríveis olhos azuis,
skuas, elefantes-marinhos e focas-de-weddell. Uma overdose de
fauna antártica logo no primeiro
desembarque.
Nenhum bicho se incomoda
com a presença desses bípedes
com casacos azuis -fornecidos
pelo navio-, carregando máquinas fotográficas e de vídeo. Mas é
sempre bom manter uma distância prudente desses animais: cinco metros é a recomendação dos
guias da viagem.
Há ninhos e ovos por todo lado,
e tanto elefantes-marinhos como
focas se confundem com a areia
escura, sendo fácil tropeçar neles
ou levar um susto com os gritos
guturais que disparam quando a
gente menos espera.
A próxima parada é a base polonesa de Arctowski. Estamos a exatos 5.223 km de Brasília, mas só a
15 minutos de lancha da base verde-amarela Comandante Ferraz.
Sabe falar polonês? Não fique
preocupado se sua resposta for
negativa, eles tampouco entendem muito de português, embora
as visitas entre nossa base e a deles
sejam bem freqüentes. Os membros da base Arctowski aprenderam a falar feijoada e caipirinha.
A simpatia entre eles e nós é forte, quem sabe isso faz que, com alguns sinais de mãos, consigamos
que nos sirvam um reconfortante
gole de vodca, enquanto os outros
viajantes compram postais e suvenires. Antes de entornar o copo
diga: nasdróvia (saúde em polonês), e estaremos em casa.
(JAIME BÓRQUEZ)
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