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TERRA DE PINGÜIM
Jornada do irlandês ao pólo Sul acabou com navio preso no gelo; para sobreviver, tripulação ficou mais de 16 meses à deriva, em banquisas
Shackleton virou herói com fracasso dramático
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA NA ANTÁRTIDA
Embora o conquistador do pólo
Sul tenha sido o norueguês Roald
Amundsen, em 14 de dezembro
de 1911, é ao irlandês Ernest
Shackleton que são rendidas todas as homenagens quando se fala
em expedicionários antárticos.
Filho de uma família de classe
média irlandesa, casou-se com
Emily Dorman, filha de um rico
advogado. Isso fez que ele lutasse
para ser reconhecido socialmente
-e não fosse considerado simplesmente um marido à sombra
da mulher.
Shackleton era fascinado pelo
pólo Sul. Já tinha viajado para lá
com o capitão Robert Falcon
Scott, em 1902 (Scott e Amundsen
foram protagonistas da famosa
corrida ao pólo Sul. Scott chegou
ao ponto em disputa 33 dias após
o norueguês e morreu a caminho
do retorno ao seu acampamento-base, de fome e cansaço).
Entre 1907 e 1909, Shackleton
dirigiu sua própria expedição, no
navio Nimrod, tendo de dar meia-volta a apenas 155 km do pólo. Pelo feito, recebeu o título de cavaleiro do império britânico, tornando-se sir.
Após a conquista de Amundsen, entretanto, chegar ao pólo
Sul não era mais uma aventura interessante, mas cruzar o continente antártico sim, já que ninguém havia feito até então.
Assim, organizou a Trans Antartic Expedition, que, a bordo do
Endurance, atravessaria a Antártida de um extremo ao outro, entrando pelo mar de Weddell e
saindo pelo de Ross, onde seriam
resgatados pelo navio Aurora.
Shackleton e seus 27 homens
iniciaram a aventura em 1º de
agosto de 1914, saindo do porto de
Londres. Um dia depois começaria a Primeira Guerra, que durou
até 1918. Sua viagem foi tranqüila
até janeiro de 1915, quando seu
navio foi aprisionado pelo gelo no
mar de Weddell.
Encalhado
Seus homens tentaram inúmeras vezes liberar a embarcação,
mas foi em vão. Tiveram que salvar o que era mais importante antes de o Endurance fosse esmagado e afundasse.
Viveram em barracas, à deriva,
em banquisas de gelo, comendo
focas, pingüins e leões-marinhos
e usando sua gordura para cozinhar e obter iluminação.
Depois de mais de um ano nessas condições e vendo que a situação de seus homens chegava a um
ponto muito perigoso, Shackleton embarcou seu grupo em dois
botes salva-vidas e rumou em direção à ilha Elefante, numa viagem de 16 dias.
Depois de 16 meses sem pisar
em terra firme, conseguiram desembarcar na ilha, mas descobriram que, assim que chegasse a
maré alta, seu acampamento ficaria submerso. Procuraram, então,
outro lugar, mais seguro. Mas
Shackleton sabia que ninguém
iria salvá-los naquela ilha e, quatro dias depois, decidiu sair em
busca de ajuda.
Embarcou com cinco de seus
homens no bote James Caid, de
sete metros, com destino à Geórgia do Sul, a 1.500 km dali. Tiveram de enfrentar tormentas, nevascas e ondas com mais de quatro metros para atracar na baía de
Haakon, na Geórgia do Sul, 17
dias depois. Mas entraram pelo
lado sudoeste da ilha, onde não
existia vida humana.
Assim, o irlandês escolheu dois
de seus homens e, juntos, cruzaram montanhas e campos nevados, caminhando 27 km em 36
horas -sem dormir. Chegaram a
Stromness, e o gerente de uma
usina baleeira os acolheu. O irlandês pediu então um navio para
resgatar seus homens, o que conseguiu dois dias depois.
Resgate
Incansável, Shackleton tentou
salvar seus 22 homens na ilha Elefante três vezes. Acabou conseguindo na quarta tentativa, a bordo do navio Yelcho, da Marinha
chilena. A tripulação ficou 137
dias esperando por essa ajuda.
Seu maior orgulho foi, sempre,
o fato de não ter perdido nenhum
homem nessa odisséia, que terminou em 30 de agosto de 1916.
Shackleton morreu durante outra expedição ao pólo, em Grytviken, na Geórgia do Sul, em 5 de janeiro de 1922, aos 47 anos. Está sepultado nesse povoado, e seu túmulo é o único que está voltado
para o sul.
(JAIME BÓRQUEZ)
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