São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

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TERRA DE PINGÜIM

Clube Alpino Paulista mantém parceria com o Proantar e desde a 1ª expedição oferece apoio logístico

Veteranos, alpinistas dão segurança aos cientistas

MARGARETE MAGALHÃES
DA REDAÇÃO

O herói irlandês Ernest Shackleton e a tripulação náufraga do Endurance adorariam ter alpinistas como companheiros. Esses profissionais são "anjos da guarda" da estação brasileira Comandante Ferraz na Antártida e veteranos desse continente gelado.
Há 20 anos, os alpinistas do CAP (Clube Alpino Paulista) dão apoio logístico à base e garantem a segurança dos brasileiros que estão lá, graças a um convênio com o Proantar (Programa Antártico Brasileiro).
A história entre o CAP e o Proantar remonta ao início do programa -que foi criado em 1982. O clube ofereceu ajuda para a Marinha e enviou dois alpinistas em 1983, na primeira expedição brasileira às terras do pólo Sul, quando o navio que os levava ainda era o Barão de Teffé -desativado em 2002. Neste ano, 12 alpinistas estão escalados para ir ao continente antártico.
A explicação para essa parceria vem de Silvio Martins, do Clube Alpino Paulista. "Gostamos de gelo e de montanha alta. Por isso, pensamos: "Como eles vão se virar no gelo?'", conta Martins, que embarca em fevereiro para a estação brasileira, onde esteve em 1986 pela primeira vez.
As técnicas do alpinismo, segundo Martins, são fundamentais para dar assistência durante o trânsito no gelo e zelar pela segurança dos pesquisadores. Um cientista só sai para fazer pesquisa de campo se o alpinista for junto. Ele estará com barraca, saco de dormir e equipamento de comunicação para eventuais problemas. "Vamos para garantir a segurança dessas pessoas", explica.
A presença dos alpinistas nos acampamentos e na estação brasileira é uma marca verde-amarela quase exclusiva: "É uma regra nossa, brasileira, da qual nos orgulhamos. Por causa da presença deles, não tivemos nenhum evento mais sério", confirma o capitão-de-mar-e-guerra José Eduardo Martins Pinto Villanova.
Embora estações de outros países utilizem esses profissionais, não existe a mesma sistematização que a da Comandante Ferraz, que funciona como uma pequena cidade, podendo abrigar até 45 pessoas.
As operações do Proantar normalmente começam em novembro e terminam em março, embora haja cientistas que fiquem na Antártida durante o ano todo.

Navio
O Ary Rongel, navio de apoio oceanográfico da Marinha brasileira, leva cerca de 20 dias para chegar à Antártida e fica lá durante o verão. Ao longo do ano, são realizados sete vôos de apoio. O percurso é longo. O avião sai do Rio de Janeiro, pára em Pelotas (RS), segue para Punta Arenas (Chile), rumo à ilha Rei George, arquipélago das Shetland do Sul, na Antártida, aterrissando na base chilena, a única que tem pista de pouso para o Hercules C-30. Só então embarca-se no navio que leva à estação brasileira.
Manter tudo funcionando em bom estado é custoso. De acordo com o capitão-de-mar-e-guerra Villanova, só a manutenção anual do Ary Rongel toma R$ 2,5 milhões, comprometendo 83% do orçamento do Proantar, que é de R$ 3 milhões. Com isso, a Marinha contribui com parte do seu próprio orçamento para manter o navio brasileiro.
"Estamos passando por um período de revitalização e reconstrução da estação, que já completou 22 anos."
Diferentemente de outras estações que faturam com a venda de suvenires para cruzeiristas, a Comandante Ferraz não recebe turistas. Mais informações sobre a estação brasileira na Antártida podem ser obtidas no site http://tucupi.cptec.inpe.br/antartica.


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