São Paulo, quinta-feira, 12 de abril de 2007

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démodé?

Postal destila saudade e completa álbum

EMPOEIRANDO Cartão também pode nunca sair de gavetas ou, revisto, não evocar as circustâncias de quando comprado

THIAGO MOMM
DA REDAÇÃO

Acotovelados entre os apreciadores das luzes do Palácio Nacional e da fonte Montjuic, em Barcelona, estão dois estudantes de jornalismo. Ou pelo menos foi o que eu imaginei e pedi que ela imaginasse, no verso do postal com o cenário catalão estampado nesta página.
Escrevi, mas não enviei: alguns euros a menos nas minhas economias de mochileiro fariam diferença; algumas palavras a mais contra a irredutibilidade dela, não.
Abrigar saudades súbitas é uma das funções dos postais.
Há também a serventia frívola de servir de lembrancinha: após a viagem, duas ou três pessoas ganham presentes que requerem verba, procura, imaginação. As restantes caem na vala comum dos postais.
O turista em Barcelona que está apaixonado não por alguém no Brasil, mas pelo movimento nas Ramblas, as obras de Gaudí, as compras do Passeig de Gràcia, a literatura de Quim Monzó ou o futebol do Ronaldinho no Camp Nou também compra cartões-postais.
Eis outra função: completar o próprio álbum. Há quem ache os cartões muito estilizados e estereotipados, mas há quem prefira esse apelo visual ao das próprias fotos.
A idéia é a de que não dá para competir com o Coliseu retratado pelo fotógrafo romano profissional -alguém que, aliás, penteou a imagem com Photoshop (sim, lamento esfarelar ilusões feéricas, mas a lua, em Roma, é do mesmo tamanho que em outras cidades).
Existem ainda imagens reais mas improváveis de serem conseguidas pelo turista, como as aéreas. E postais temáticos, como alguns que você vê nesta matéria, na página F10.
Há 19 anos, José Carlos Daltozo começou (pelo que lembra, com chavões como o Cristo Redentor) uma coleção que hoje é de 130 mil postais. "São fotos bonitas. Posso pegar uma cachoeira em um dia nublado, e o fotógrafo do postal tenta vários cliques em um dia melhor."
Além de simpatizar com esse tipo de imagens, descobriu na Folha a existência da (atualmente extinta) Sociedade Brasileira de Cartofilia. Empolgou-se. Não sabe qual seu último cartão: "O correio acaba de entregar mais uma pilha."

Gavetas
Os primórdios do cartão-postal envolvem o austríaco Emmanuel Herman, que simplificou as correspondências e reduziu seu custo criando as então chamadas cartas postais, que eram menores e dispensavam o uso de envelopes.
Isso em 1869. Décadas depois, na virada do século, surgem as primeiras versões com fotos, deflagrando o auge dos postais. Além de servir de alternativa aos caros e complicados telefonemas, traziam cenários ainda não tão presentes no imaginário comum.
Como outros artigos, um cartão-postal pode estar fadado a gavetas quase nunca mais abertas. Ou ser revisto várias vezes sem nunca evocar as circunstâncias de quando comprado.
Mas também podem desencadear uma série revolta de lembranças. E, quem sabe, a dúvida: será que você precisava ter sido tão pão-duro assim?


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