|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
démodé?
Postal destila saudade e completa álbum
EMPOEIRANDO Cartão também pode nunca sair de gavetas ou, revisto, não evocar as circustâncias de quando comprado
THIAGO MOMM
DA REDAÇÃO
Acotovelados entre os apreciadores das luzes do Palácio
Nacional e da fonte Montjuic,
em Barcelona, estão dois estudantes de jornalismo. Ou pelo
menos foi o que eu imaginei e
pedi que ela imaginasse, no verso do postal com o cenário catalão estampado nesta página.
Escrevi, mas não enviei: alguns euros a menos nas minhas
economias de mochileiro fariam diferença; algumas palavras a mais contra a irredutibilidade dela, não.
Abrigar saudades súbitas é
uma das funções dos postais.
Há também a serventia frívola de servir de lembrancinha:
após a viagem, duas ou três pessoas ganham presentes que requerem verba, procura, imaginação. As restantes caem na vala comum dos postais.
O turista em Barcelona que
está apaixonado não por alguém no Brasil, mas pelo movimento nas Ramblas, as obras de
Gaudí, as compras do Passeig
de Gràcia, a literatura de Quim
Monzó ou o futebol do Ronaldinho no Camp Nou também
compra cartões-postais.
Eis outra função: completar o
próprio álbum. Há quem ache
os cartões muito estilizados e
estereotipados, mas há quem
prefira esse apelo visual ao das
próprias fotos.
A idéia é a de que não dá para
competir com o Coliseu retratado pelo fotógrafo romano
profissional -alguém que,
aliás, penteou a imagem com
Photoshop (sim, lamento esfarelar ilusões feéricas, mas a lua,
em Roma, é do mesmo tamanho que em outras cidades).
Existem ainda imagens reais
mas improváveis de serem conseguidas pelo turista, como as
aéreas. E postais temáticos, como alguns que você vê nesta
matéria, na página F10.
Há 19 anos, José Carlos Daltozo começou (pelo que lembra, com chavões como o Cristo
Redentor) uma coleção que hoje é de 130 mil postais. "São fotos bonitas. Posso pegar uma
cachoeira em um dia nublado, e
o fotógrafo do postal tenta vários cliques em um dia melhor."
Além de simpatizar com esse
tipo de imagens, descobriu na
Folha a existência da (atualmente extinta) Sociedade Brasileira de Cartofilia. Empolgou-se. Não sabe qual seu último cartão: "O correio acaba de
entregar mais uma pilha."
Gavetas
Os primórdios do cartão-postal envolvem o austríaco
Emmanuel Herman, que simplificou as correspondências e
reduziu seu custo criando as
então chamadas cartas postais,
que eram menores e dispensavam o uso de envelopes.
Isso em 1869. Décadas depois, na virada do século, surgem as primeiras versões com
fotos, deflagrando o auge dos
postais. Além de servir de alternativa aos caros e complicados
telefonemas, traziam cenários
ainda não tão presentes no
imaginário comum.
Como outros artigos, um cartão-postal pode estar fadado a
gavetas quase nunca mais abertas. Ou ser revisto várias vezes
sem nunca evocar as circunstâncias de quando comprado.
Mas também podem desencadear uma série revolta de
lembranças. E, quem sabe, a
dúvida: será que você precisava
ter sido tão pão-duro assim?
Texto Anterior: À esquerda do Tibre: Restaurantes fazem as vezes de mãe judia Próximo Texto: Démodé?: Empresa rejuvenesce velho cartão com internet Índice
|