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TERRA DE VULCÕES
Ilha rural e pouco povoada é recheada de resorts e campos de golfe, mas mantém aparência agrícola
Kauai ainda está como James Cook deixou
DA ENVIADA ESPECIAL AO HAVAÍ
Um cenário tropical e 43 praias
de areia branca desenham na ilha
de Kauai o mais belo litoral de todo o arquipélago havaiano. Sem
as ondas gigantes de Oahu ou as
areias multicoloridas da ilha do
Havaí, a costa banhada por água
cristalina surge protegida por encostas íngremes e vales esculpidos
sem pressa por derrames de lava e
chuvas torrenciais.
Muitas praias parecem verdadeiros oásis abertos em meio a
florestas exuberantes. Outras permanecem isoladas, acessíveis apenas por barco, helicóptero ou longas caminhadas.
Aquários naturais protegidos
por recifes de coral abrigam enormes populações de peixes tropicais, que podem ser observados
em um mergulho raso a apenas
alguns metros da areia.
O sobe-e-desce dos picos e das
escarpas cobertos de vegetação
impede a construção de estradas
no litoral norte, criando um interessante paradoxo. É justamente
essa ausência de modernidade
que torna Kauai um paraíso que
ainda lembra aquele que fascinou
o explorador inglês James Cook
quando pisou ali em 1778, para
ser conhecido como o primeiro
viajante ocidental a desembarcar
no Havaí. Estabeleceu-se na região o cultivo de cana-de-açúcar,
que ainda hoje ocupa vastas extensões ao sul da ilha.
A menos desenvolvida das ilhas
permanece praticamente rural e
pouco povoada, pontuada aqui e
ali por luxuosos resorts e enormes
campos de golfe, como os que cobrem de verde os pequenos morretes da região de Princeville.
Restaurantes, lojas e galerias de
arte e até um pequeno aeroporto
marcam o local mais refinado de
toda a ilha. Fora dali, mesmo a capital, Lihue, não passa de uma cidadezinha de aparência agrícola e
ruas desordenadas.
No interior, conhecido como o
lugar mais úmido do planeta, apenas o monte Waialeale, um vulcão
extinto há seis milhões de anos,
toma conta da paisagem. A chuva,
que não dá trégua o ano todo, ajuda a completar a paisagem com
brilhantes arco-íris, com aparição
quase diária.
Um balé de cachoeiras espetaculares chega a confundir a vista
com suas delgadas linhas brancas
e alimenta o único rio navegável
de todo o arquipélago, o Wailua.
Não é raro que as estradas litorâneas, principalmente no inverno, sejam interrompidas de repente por inundações-relâmpago, tomadas por pequenos rios,
incapazes de dar vazão ao volume
de água que desce das montanhas. No caminho para a costa
norte, dezenas de pontes estreitas
que ligam a pacata cidade de Hanalei às praias mais frequentadas
de Kauai podem ser cobertas pelas águas dos riachos em questão
de minutos, isolando vilarejos, às
vezes por alguns dias.
Aliada ao tempo, a força da água
também erodiu o maior cânion
do Pacífico, o Waimea, facilmente
comparável ao Grand Canyon, no
oeste americano, não fosse o verde que cobre suas encostas. Inundou também a grande área que
forma hoje o pântano de Alakai.
Nos dois parques estaduais que
protegem a região, dezenas de trilhas percorrem o centro da ilha e
acompanham a base do cânion.
Outras delas partem do norte da
ilha. A principal, a Kalalau, percorre a costa de Na Pali. Considerada uma das caminhadas mais
espetaculares do mundo, requer
no mínimo sete horas para percorrer seus 18 quilômetros. Mas
mesmo o menos preparado dos
turistas pode se arriscar nos 30
minutos iniciais, atravessando
riachos e cachoeiras, para ser recompensado por uma inesquecível vista de Na Pali.
A trilha parte da praia de Kee, a
mais bela de Kauai, ao final da estrada que leva para o norte. À esquerda, uma encosta de mais de
400 metros, início da caminhada,
emoldura a praia de areia dourada e suas águas cristalinas, protegidas ainda por um recife de coral.
Verdadeiro aquário natural, Kee
abriga dezenas de espécies de peixes tropicais, que nadam tranquilamente ao lado dos banhistas.
A calmaria da ilha só foi subvertida três vezes, por furacões violentos. O último, o Iniki, de 1992,
destruiu quase toda a costa, incluindo hotéis luxuosos. Muito já
foi reconstruído, mas alguns marcos locais, como o hotel Coco
Palms, onde Elvis Presley gravou
cenas do filme "Feitiço Havaiano"
(1961), continuam em ruínas 11
anos depois.
(ANA LUCIA BUSCH)
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