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BAHIA DE TODAS AS FESTAS
Multidão disputa gostas de água-de-cheiro durante a lavagem, que é palco de campanha política
Salvador homenageia Bonfim na quinta
PALOMA VARÓN
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Festa baiana que se preze mistura sempre religião e Carnaval. E
o verão concentra algumas das
mais conhecidas celebrações, como a do Bonfim, que neste ano será na próxima quinta, e a de Iemanjá, sempre em 2 de fevereiro,
que culminam com o Carnaval.
Os baianos já sabem: a segunda
quinta-feira depois do Dia de Reis
(6 de janeiro) é dia da Lavagem do
Bonfim. A festa está na agenda
dos habitantes e de quem visita
Salvador nesta época. Sincretizado com Oxalá, o deus da criação
no candomblé, o Senhor do Bonfim é muito cultuado na Bahia.
A exemplo da procissão de Bom
Jesus dos Navegantes, no dia 1º de
janeiro (leia na pág. F12), o ponto
de partida é a igreja da Conceição
da Praia. Lá, milhares de pessoas
(segundo a Prefeitura de Salvador, chega a 1 milhão) se reúnem
para iniciar a caminhada de 8 km
em direção à igreja do Bonfim,
cujas escadas são lavadas.
O templo, cartão-postal de Salvador, fica no bairro homônimo,
no alto de uma colina, chamada
Sagrada. O cortejo começa às 10h
e reúne, além de fiéis, cerca de 500
baianas com água-de-cheiro,
bandas de sopro e percussão, grupos de manifestações folclóricas e
carroças adornadas puxadas por
jegues. Daí surgiu a expressão
"mais enfeitado que jegue na Lavagem do Bonfim" para designar,
em bom "baianês", uma pessoa
que exagera na hora de colocar
acessórios em suas vestimentas.
A lavagem das escadarias da
igreja é considerada a segunda
maior manifestação popular da
Bahia, perdendo apenas para o
Carnaval. Sua origem remonta ao
século 18, quando o oficial da Armada portuguesa Teodósio Rodrigues de Faria trouxe, em 1740,
de Lisboa, uma imagem de Cristo,
que, em 1745, foi conduzida com
grande acompanhamento para a
igreja da Penha, no bairro de Itapagipe. Em julho de 1754, a imagem foi transferida em procissão
para a sua própria igreja, no bairro do Bonfim, na Cidade Baixa.
O culto ao Senhor do Bonfim
existe em Portugal desde a Idade
Média. Em 1740, com a chegada
da imagem, foi fundada, em Salvador, a Irmandade do Senhor do
Bonfim. A lavagem em si foi iniciada pelos romeiros e escravos
que limpavam e enfeitavam a
igreja para a festa do santo.
Por ter visibilidade, a festa virou
um palco para políticos. ACM e
seus aliados sempre vão. O presidente Lula já foi várias vezes. Em
ano de eleição, quase não dá para
contar o número de políticos que
aparecem no evento.
A chegada das baianas às escadarias da igreja e a lavagem são o
ponto alto da festa. Enquanto as
baianas entoam canções em iorubá, as caixas de som da prefeitura
repetem várias vezes o "Hino ao
Senhor do Bonfim", que, de tão
popular, já foi gravado por vários
artistas, incluindo os tropicalistas
na década de 60.
A igreja permanece fechada
nesse dia. No pequeno espaço externo, a multidão disputa algumas gotinhas da água-de-cheiro
levada pelas baianas em jarras. Os
fiéis fazem questão de "se purificar" com o líquido.
Com a confusão toda, aqueles
que acompanham o cortejo num
ritmo mais lento acabam perdendo o espetáculo ao chegar à igreja.
Visita ao interior
Se quiser conhecer o interior
dela, escolha um outro dia para
voltar lá. Dê uma passada na sala
dos ex-votos, onde os fiéis fazem
ofertas pelos milagres do Senhor
do Bonfim na cura de doenças.
Às sextas-feiras, dia de Oxalá, a
igreja está cheia de fiéis com roupas brancas, a cor do orixá. Mesmo os baianos que se dizem católicos vestem o branco nesse dia da
semana para homenagear Oxalá.
O branco, aliás, também é a cor
mais apropriada para acompanhar o cortejo, pois, além de seguir a tradição, cai muito bem no
escaldante verão de Salvador.
É na igreja do Bonfim que se
compram as fitinhas do Senhor
do Bonfim, que também podem
ser encontradas em muitos outros pontos da cidade. A fita, também conhecida como medida do
Bonfim, por ter o comprimento
do braço da imagem que está na
igreja, deve ser amarrada no punho com três nós, um para cada
pedido que deverá ser realizado
quando a fitinha cair.
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