São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 2003

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BAHIA DE TODAS AS FESTAS

Multidão disputa gostas de água-de-cheiro durante a lavagem, que é palco de campanha política

Salvador homenageia Bonfim na quinta

PALOMA VARÓN
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Festa baiana que se preze mistura sempre religião e Carnaval. E o verão concentra algumas das mais conhecidas celebrações, como a do Bonfim, que neste ano será na próxima quinta, e a de Iemanjá, sempre em 2 de fevereiro, que culminam com o Carnaval.
Os baianos já sabem: a segunda quinta-feira depois do Dia de Reis (6 de janeiro) é dia da Lavagem do Bonfim. A festa está na agenda dos habitantes e de quem visita Salvador nesta época. Sincretizado com Oxalá, o deus da criação no candomblé, o Senhor do Bonfim é muito cultuado na Bahia.
A exemplo da procissão de Bom Jesus dos Navegantes, no dia 1º de janeiro (leia na pág. F12), o ponto de partida é a igreja da Conceição da Praia. Lá, milhares de pessoas (segundo a Prefeitura de Salvador, chega a 1 milhão) se reúnem para iniciar a caminhada de 8 km em direção à igreja do Bonfim, cujas escadas são lavadas.
O templo, cartão-postal de Salvador, fica no bairro homônimo, no alto de uma colina, chamada Sagrada. O cortejo começa às 10h e reúne, além de fiéis, cerca de 500 baianas com água-de-cheiro, bandas de sopro e percussão, grupos de manifestações folclóricas e carroças adornadas puxadas por jegues. Daí surgiu a expressão "mais enfeitado que jegue na Lavagem do Bonfim" para designar, em bom "baianês", uma pessoa que exagera na hora de colocar acessórios em suas vestimentas.
A lavagem das escadarias da igreja é considerada a segunda maior manifestação popular da Bahia, perdendo apenas para o Carnaval. Sua origem remonta ao século 18, quando o oficial da Armada portuguesa Teodósio Rodrigues de Faria trouxe, em 1740, de Lisboa, uma imagem de Cristo, que, em 1745, foi conduzida com grande acompanhamento para a igreja da Penha, no bairro de Itapagipe. Em julho de 1754, a imagem foi transferida em procissão para a sua própria igreja, no bairro do Bonfim, na Cidade Baixa.
O culto ao Senhor do Bonfim existe em Portugal desde a Idade Média. Em 1740, com a chegada da imagem, foi fundada, em Salvador, a Irmandade do Senhor do Bonfim. A lavagem em si foi iniciada pelos romeiros e escravos que limpavam e enfeitavam a igreja para a festa do santo.
Por ter visibilidade, a festa virou um palco para políticos. ACM e seus aliados sempre vão. O presidente Lula já foi várias vezes. Em ano de eleição, quase não dá para contar o número de políticos que aparecem no evento.
A chegada das baianas às escadarias da igreja e a lavagem são o ponto alto da festa. Enquanto as baianas entoam canções em iorubá, as caixas de som da prefeitura repetem várias vezes o "Hino ao Senhor do Bonfim", que, de tão popular, já foi gravado por vários artistas, incluindo os tropicalistas na década de 60.
A igreja permanece fechada nesse dia. No pequeno espaço externo, a multidão disputa algumas gotinhas da água-de-cheiro levada pelas baianas em jarras. Os fiéis fazem questão de "se purificar" com o líquido.
Com a confusão toda, aqueles que acompanham o cortejo num ritmo mais lento acabam perdendo o espetáculo ao chegar à igreja.

Visita ao interior
Se quiser conhecer o interior dela, escolha um outro dia para voltar lá. Dê uma passada na sala dos ex-votos, onde os fiéis fazem ofertas pelos milagres do Senhor do Bonfim na cura de doenças.
Às sextas-feiras, dia de Oxalá, a igreja está cheia de fiéis com roupas brancas, a cor do orixá. Mesmo os baianos que se dizem católicos vestem o branco nesse dia da semana para homenagear Oxalá.
O branco, aliás, também é a cor mais apropriada para acompanhar o cortejo, pois, além de seguir a tradição, cai muito bem no escaldante verão de Salvador.
É na igreja do Bonfim que se compram as fitinhas do Senhor do Bonfim, que também podem ser encontradas em muitos outros pontos da cidade. A fita, também conhecida como medida do Bonfim, por ter o comprimento do braço da imagem que está na igreja, deve ser amarrada no punho com três nós, um para cada pedido que deverá ser realizado quando a fitinha cair.


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