São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2006

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SOB O SOL DO MARANHÃO

Tradição que remonta ao séc. 18 reconta a história de animal ressuscitado, em analogia ao ciclo da terra

Bois dominam ruas de São Luís nas férias

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA NO MARANHÃO

O boi é uma das figuras mitológicas mais presentes nas festas populares brasileiras. De norte a sul do país, aparece representado em atividades culturais que misturam dança, teatro, música e circo. Mas é no Maranhão que ele ganha status de protagonista da festa, principalmente em junho e julho.
Só em São Luís mais de 300 grupos de boi se apresentam em vários arraiais montados em praças, ruas e associações existentes por toda a cidade. É difícil passear pela capital maranhense nessa época e não se deparar com um aglomerado de pessoas cantando e pulando em meio a pessoas vestidas com fantasias de boi.
A tradição vem do século 18 e resgata uma história típica das relações socioeconômicas do período colonial, marcado por monocultura, criação extensiva de gado e escravidão.
Diz a lenda que, numa fazenda de gado, Pai Francisco matou um boi de estimação de seu senhor para satisfazer o desejo de sua esposa grávida, Mãe Catirina, que queria comer língua.
Quando descobriu o sumiço do animal, o senhor obrigou Pai Francisco a trazer o boi de volta. Pajés e curandeiros foram convocados para salvar o escravo e, quando o boi ressuscitou urrando, todos fizeram festa para comemorar o milagre.
O bumba-meu-boi encena o rapto, a morte e a ressurreição do boi -história que, segundo especialistas, metaforiza o ciclo agrário. Nem todos os grupos que hoje se apresentam narram todo o auto. Deram lugar à chamada "meia-lua", com enredos simplificados.
Cada um dos mais de 300 grupos tem um sotaque com características próprias que se manifestam nas roupas, nos instrumentos musicais, na cadência da música e na coreografia (veja quadro abaixo).
O boi, figura central do auto, geralmente é feito de uma armação metálica, de madeira ou de cipó, coberta de chita ou algum pano colorido e barato. A cabeça do animal pode ser confeccionada com papelão ou com a caveira de um boi.
As cantigas, entoadas em tom de lamento, são acompanhadas por instrumentos de percussão. A zabumba e a matraca são os principais. Ao redor, centenas de pessoas pulam e dançam. Se estiver na cidade nessa época, é provável que você seja uma delas. (FABIO SCHIVARTCHE E ANA CLÁUDIA MARTONI)

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