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SOB O SOL DO MARANHÃO
Tradição que remonta ao séc. 18 reconta a história de animal ressuscitado, em analogia ao ciclo da terra
Bois dominam ruas de São Luís nas férias
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA NO MARANHÃO
O boi é uma das figuras mitológicas mais presentes nas festas populares brasileiras. De
norte a sul do país, aparece representado em atividades culturais que misturam dança,
teatro, música e circo. Mas é no
Maranhão que ele ganha status
de protagonista da festa, principalmente em junho e julho.
Só em São Luís mais de 300
grupos de boi se apresentam
em vários arraiais montados
em praças, ruas e associações
existentes por toda a cidade. É
difícil passear pela capital maranhense nessa época e não se
deparar com um aglomerado
de pessoas cantando e pulando
em meio a pessoas vestidas
com fantasias de boi.
A tradição vem do século 18 e
resgata uma história típica das
relações socioeconômicas do
período colonial, marcado por
monocultura, criação extensiva
de gado e escravidão.
Diz a lenda que, numa fazenda de gado, Pai Francisco matou um boi de estimação de seu
senhor para satisfazer o desejo
de sua esposa grávida, Mãe Catirina, que queria comer língua.
Quando descobriu o sumiço
do animal, o senhor obrigou Pai
Francisco a trazer o boi de volta. Pajés e curandeiros foram
convocados para salvar o escravo e, quando o boi ressuscitou
urrando, todos fizeram festa
para comemorar o milagre.
O bumba-meu-boi encena o
rapto, a morte e a ressurreição
do boi -história que, segundo
especialistas, metaforiza o ciclo
agrário. Nem todos os grupos
que hoje se apresentam narram
todo o auto. Deram lugar à chamada "meia-lua", com enredos
simplificados.
Cada um dos mais de 300
grupos tem um sotaque com
características próprias que se
manifestam nas roupas, nos
instrumentos musicais, na cadência da música e na coreografia (veja quadro abaixo).
O boi, figura central do auto,
geralmente é feito de uma armação metálica, de madeira ou
de cipó, coberta de chita ou algum pano colorido e barato. A
cabeça do animal pode ser confeccionada com papelão ou
com a caveira de um boi.
As cantigas, entoadas em tom
de lamento, são acompanhadas
por instrumentos de percussão. A zabumba e a matraca são
os principais. Ao redor, centenas de pessoas pulam e dançam. Se estiver na cidade nessa
época, é provável que você seja
uma delas.
(FABIO SCHIVARTCHE E ANA CLÁUDIA MARTONI)
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