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Brasil/Japão
Santos chegou a ser considerada refúgio pelos japoneses
SEGUNDA GUERRA Em 1943, antes do final do conflito, só puderam ficar na costa brasileira os naturalizados brasileiros
MAURÍCIO KANNO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Santos não foi só a porta de
entrada dos imigrantes japoneses no país: serviu também de
abrigo para os que se sentiram
injustiçados. "Muitos imigrantes, quando se achavam lesados
em seus contratos nos cafezais
do interior paulista, acabaram
fugindo", explica Sadao Nakai,
47, presidente do Clube Estrela
de Ouro Futebol Clube e diretor da Associação Japonesa de
Santos. "Eles voltavam para
Santos, sua referência como
único outro lugar no Brasil."
Nakai conta que, de acordo
com o livro "O Imigrante Japonês", de Tomo Handa, a comunidade japonesa na cidade portuária começou logo no primeiro ano da imigração, 1908,
quando imigrantes da Província de Okinawa foram parar
num hotel sírio de Santos.
Um membro da companhia
de imigração do governo do Japão, que resolvia problemas assim, quitou o débito no hotel e
conseguiu empregos para eles
na construção do cais.
Santos era economicamente
efervescente graças ao corredor do café e ao processo imigratório: todos passavam por
lá. A comunidade nipônica foi
se estabelecendo na agricultura, pesca e outros negócios. Há
registros das chácaras de imigrantes japoneses ali antes dos
bairros serem constituídos.
Os terrenos eram na verdade
de grandes proprietários locais,
explica o diretor da Associação
Japonesa; mas como eram
inexplorados, os nipônicos puderam se instalar e produzir
hortifrutigranjeiros. Em 1928,
no início do auge imigratório,
haviam chácaras nos atuais
bairros de Vila Matias (centro),
Sabó, Campo Grande, Marapé e
Ponta da Praia.
"Exílio" da costa
A documentação histórica,
porém, é difícil de ser obtida,
pois foi confiscada e destruída,
junto a outros patrimônios japoneses, na Segunda Guerra
Mundial (1939-1945). O então
presidente Getúlio Vargas havia promulgado uma lei em
1942, quando o Brasil entrou na
guerra, proibindo a difusão da
cultura dos países do Eixo: Japão, Itália e Alemanha.
"Toda a faixa litorânea foi
ocupada por quartéis, e os integrantes da colônia da baixada
sofreram muito", conta Nakai.
Em 1943, todos os japoneses,
italianos e alemães tiveram de
sair da costa. Isso fazia parte,
afirma Nakai, da pressão norte-americana, com suspeitas de
espiões na região. Os imigrantes tiveram de largar casas e
bens: "Saíram com a mão no
bolso", diz ele, "e foram para a
Hospedaria do Imigrante, no
Brás, em São Paulo, e depois ao
interior, sempre monitorados
pelo Departamento de Ordem
Política e Social (DOPS)."
Só pôde permanecer em Santos quem já era brasileiro naturalizado. Assim, ficaram ali
apenas os nisseis (filhos dos japoneses) com idade entre 16 e
19 anos, inquestionavelmente
brasileiros -isso até que os pais
pudessem iniciar seu retorno, a
partir de 1946.
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