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SABOR PARÁ
Expert, mãe do chef Paulo Martins fala do início do restaurante e do rito do tucupi e da mandioca-brava
Lá em Casa coloca à mesa ensinamento de "dona" Anna
DA ENVIADA ESPECIAL A BELÉM (PA)
No fogão do Lá em Casa tem
sempre um panelão fervendo.
Se tirar a enorme tampa que o
cobre, o curioso verá uma espécie de lama borbulhante soltando fumaça. O que parece a cratera de um vulcão é a maniçoba,
servida todos os dias na hora do
almoço. O ritual de ferver as folhas da maniva -planta que dá
a mandioca-brava- é feito desde 1972 por "dona" Anna Maria
Martins, 80, fundadora desse
restaurante, que é o melhor lugar em Belém para experimentar a comida típica do Pará.
Anna nunca deu para dondoca. Dois anos depois de casar,
"muito amor, pouco dinheiro",
começou a fazer doces e salgados "para fora".
Foi crescendo a fama e logo
veio o restaurante. O Lá em Casa começou lá mesmo, na casa
da família de Anna, mais precisamente no porão. Passados 27
anos, em 1999, mudou de endereço -a casa, quando foi comprada, era metade alagada. Ela
se lembra com cansaço do
quanto de trabalho que deu para desalagar. E tão logo começa
a se lembrar do que aconteceu
há pouco tempo, já se lembra
de tempos remotos. De quando
a abertura da rodovia Belém-Brasília trouxe legumes e verduras para a cidade, "que hoje
já tem caranguejo tirado, açaí
batido, camarão descascado".
E dá risada quando questionada se faz seu próprio tucupi.
"Imagina, você vai no tucupizeiro e compra. Antes, eles
amassavam a mandioca. Hoje,
colocam a mandioca em uma
máquina. De um lado sai o tucupi, do outro, a goma."
Por ser venenosa, a mandioca-brava exige que o cozinheiro
conheça seus segredos. Anna
explica alguns: ela tem que ser
posta de molho antes de qualquer coisa -daí vem o nome da
farinha-d'água, feita dessa
raiz-, o tucupi tem que ser fervido antes de ser usado -com
alho, pimenta, alfavaca e chicória-, e as folhas, usadas na maniçoba, têm que ser piladas
-para extrair o sumo perigoso.
Depois de soletrar receitas e
relembrar o começo do restaurante, chega o momento do orgulho coruja. A mãe se exibe
pelo filho, o chef Paulo Martins,
que tomou gosto pela cozinha
ao passar a infância entre as panelas. Arquiteto de formação,
Martins chama a atenção para a
cozinha paraense ao introduzir
renovações, como usar o jambu, tradicional tempero, como
ingrediente principal do prato.
"Invencionices", como diz
Anna, com orgulho materno.
Para, depois, arrematar: "Nós
somos muito imitados, nunca
igualados".
(HELOISA LUPINACCI)
LÁ EM CASA - av. Gov. José Malcher, 247, tel. 0/xx/91/3242-4222
e Estação das Docas, tel. 0/xx/91/3212-5588
www.laemcasa.com.br
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