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VIZINHO EM PROMOÇÃO
Caminho por entre tocos de árvore lembra a história dos presos que povoaram Ushuaia
Trem turístico narra a saga dos antigos presidiários
DA ENVIADA ESPECIAL A USHUAIA
Na avenida San Martín há um
restaurante típico (Rancho Argentino) que oferece, além do
"cordero fueguino", um show de
música folclórica ao vivo. É lancinante escutar o violeiro Ramón
cantando em tom grave poemas
de Neruda musicados ou canções
melancólicas sobre Ushuaia.
Em uma delas, o ushuaiense bigodudo, vestindo bombachas,
botas, camisa branca, colete decorado, lenço e chapéu, lembra o
frio e o abandono dos encarcerados no presídio do Fim do Mundo
e os caracteriza como homens
com "coração de lenha". Os presos de Ushuaia não só construíram o próprio cárcere como produziam toda a madeira para abastecer o presídio, a cidade e o trem
a vapor que os levava ao alto das
montanhas para cortar lenha.
Uma réplica do trem dos condenados, construída com fins unicamente turísticos, está na estação
Ferrocarril Austral Fueguino, 8
km a oeste do centro de Ushuaia,
e leva os visitantes pela mesma rota que o antigo trem percorria.
A maior parte do trajeto, de 15
km, é feita dentro do Parque Nacional Terra do Fogo, com duração de duas horas (ida e volta) e
comentários em espanhol e inglês
sobre a história dos presos, do
trem e da região.
Apesar de concorrer com montanhas nevadas, rios, cascatas
congeladas, a floresta subantártica e a cordilheira dos Andes, o
mais assombroso da paisagem
são os milhares de tocos de árvore
espalhados perto dos trilhos, a
testemunhar quase meio século
de trabalho ininterrupto. O presídio começou a ser construído em
1902 e a estrada de ferro, em 1910.
Ambos funcionaram até 1947.
Presidiário-imigrante
No dia 5 de janeiro de 1896 partiram de Buenos Aires os 14 primeiros condenados, que voluntariamente foram se estabelecer na
colônia penal de Ushuaia em troca da redução de suas penas. Até o
fim do ano eram 74 homens e 21
mulheres, morando em dormitórios de madeira com teto de zinco.
O governo dava subsídios às famílias que quisessem viver em
Ushuaia, oferecia aos funcionários salários superiores aos do restante do país e possibilitava que as
famílias dos presos se transferissem para a cidade às custas do governo. Logo surgiram as primeiras lojas, com nomes como Al Pobre Diablo. Tudo tinha relação
com o presídio.
O Presídio Nacional foi construído entre 1902 e 1920, contando
com cinco pavilhões e 380 celas
-e capacidade para mais de 800
presos. Destinado inicialmente a
criminosos reincidentes, logo tornou-se destino dos presos mais
perigosos, com penas de maior
duração ou de prisão perpétua.
Em 1950, três anos depois de ser
desativado, o local se tornou a Base Naval de Ushuaia, daí a edificação se dividir hoje entre o museu
Marítimo e o museu do Presídio.
O sombrio pavilhão 1 é conservado tal qual era no início do século
20, sem luz elétrica, com piso e
portas de madeira. As paredes são
ásperas, úmidas e cinzentas e as
pequenas janelas com barras deixam passar o vento glacial.
No pavilhão 4, reformado, as celas reproduzem o ambiente original, com réplicas em cera dos presos mais famosos e fotos, documentos ou notícias de jornal da
época relatando seus crimes.
Uma estátua baixinha exibindo
sorriso macabro e um martelo na
mão representa o famoso Petiso
Orejudo, apelido de Santos Godino, "serial killer" que matava
crianças em Buenos Aires martelando pregos em suas cabeças.
Segundo conta o guia local,
quando começaram a remodelar
o presídio para abrigar o museu,
os militares proibiram que escavassem ou derrubassem as paredes do porão do pavilhão 1.
(JM)
Museu Marítimo de Ushuaia & Museu do Presídio - Entrada pela rua Yaganes, esquina com a Gobernador Paz,
tel. 00/xx/54/2901/437-481; ingressos:
US$ 9 (adultos) e US$ 7 (crianças).
Estação do Fim do Mundo - Ruta 3, km
3.042, tel. 00/xx/54/2901/437-696; preço: 33 pesos.
Rancho Argentino - Rua San Martín,
237, tel. 00/xx/54/2901/430-100; refeição com entrada, prato principal, saladas
e sobremesa: US$ 11.
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