São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 2002

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VIZINHO EM PROMOÇÃO

Museu Marítimo exibe sintéticos recortes de jornais com relatos sobre navios que passaram pela região

Lendas de náufragos rondam a cidade

DA ENVIADA ESPECIAL A USHUAIA

O Endurance, de Ernest Shackleton, encalhou ali perto (1914), e o Beagle, dos capitães William Parker King (1829) e Robert Fitz Roy (1831), foi o primeiro a atravessar o canal que margeia a cidade, onde afundou o Monte Cervantes (1930), do capitão Dreyer, fazendo 1.500 náufragos hospedarem-se em Ushuaia.
O cabo Horn, considerado o Everest dos mares, fica a 100 km, e as Ilhas Malvinas, a 800 km (a jurisdição das ilhas, chamadas Falkland pelos britânicos e Malvinas pelos argentinos, foi objeto de uma guerra entre Londres e Buenos Aires, vencida em 1982 pelos ingleses).
No pavilhão 3 do antigo presídio funciona o museu Marítimo, com réplicas dos principais navios que passaram pela região e textos ou reproduções de jornais relatando sua história. Mas os aficionados por relatos de aventura se frustam com a natureza sintética das narrativas emocionantes e, por isso, devem tentar expedições mais ousadas: à Antártida (saídas de cruzeiros do porto de Ushuaia no verão) ou aos excelentes livros disponíveis no Brasil.
Alan Gurney, em "Abaixo da Convergência" (Cia. das Letras), que conta as viagens à Antártida de 1699 a 1839, relata a descoberta do cabo Horn: "Em 29 de janeiro de 1616 o Eendracht dobra o cabo mais meridional da Terra do Fogo e o batiza, passando do Atlântico ao Pacífico. Schouten escreve em seu registro de bordo: "Cabo Hoorn a 57o48s. Dobrado às 20h". Com essa anotação lacônica o temível cabo faz sua estréia nas histórias, lendas e sagas náuticas".
O primeiro homem a encontrar a passagem entre os oceanos Atlântico e Pacífico e a descobrir a rota de circunavegação da Terra, entretanto, fora Fernão de Magalhães, 96 anos antes, muito acima do cabo Horn. A história foi reconstituída na narrativa invulgar de Stefan Zweig "Fernão Magalhães - O Homem e a sua Façanha" (ed. Record), escrita na primeira viagem do escritor austríaco à América do Sul.
Zweig assim imagina o momento em que o navegador batizou a Terra do Fogo: "Deve ter sido uma cena estranha e fantasmagórica, quando os primeiros quatro navios da humanidade atravessaram suave e silenciosamente, sem ruído, esta passagem negra, sombria, que desde tempos imemoriais nunca houvera sido transposta por um ser humano. Um silêncio monstruoso os espera. (...) Ao longe, brilham montanhas cobertas de neve, e à noite o vento traz um hálito gelado. Nenhum ser humano aparece, mas devem morar por ali homens, pois de noite vêem-se fogos trêmulos em meio à escuridão, razão pela qual Magalhães chama esta região de Terra do Fogo". (JM)


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