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VIZINHO EM PROMOÇÃO
Museu Marítimo exibe sintéticos recortes de jornais com relatos sobre navios que passaram pela região
Lendas de náufragos rondam a cidade
DA ENVIADA ESPECIAL A USHUAIA
O Endurance, de Ernest Shackleton, encalhou ali perto (1914), e
o Beagle, dos capitães William
Parker King (1829) e Robert Fitz
Roy (1831), foi o primeiro a atravessar o canal que margeia a cidade, onde afundou o Monte Cervantes (1930), do capitão Dreyer,
fazendo 1.500 náufragos hospedarem-se em Ushuaia.
O cabo Horn, considerado o
Everest dos mares, fica a 100 km, e
as Ilhas Malvinas, a 800 km (a jurisdição das ilhas, chamadas Falkland pelos britânicos e Malvinas
pelos argentinos, foi objeto de
uma guerra entre Londres e Buenos Aires, vencida em 1982 pelos
ingleses).
No pavilhão 3 do antigo presídio funciona o museu Marítimo,
com réplicas dos principais navios que passaram pela região e
textos ou reproduções de jornais
relatando sua história. Mas os aficionados por relatos de aventura
se frustam com a natureza sintética das narrativas emocionantes e,
por isso, devem tentar expedições
mais ousadas: à Antártida (saídas
de cruzeiros do porto de Ushuaia
no verão) ou aos excelentes livros
disponíveis no Brasil.
Alan Gurney, em "Abaixo da
Convergência" (Cia. das Letras),
que conta as viagens à Antártida
de 1699 a 1839, relata a descoberta
do cabo Horn: "Em 29 de janeiro
de 1616 o Eendracht dobra o cabo
mais meridional da Terra do Fogo
e o batiza, passando do Atlântico
ao Pacífico. Schouten escreve em
seu registro de bordo: "Cabo
Hoorn a 57o48s. Dobrado às 20h".
Com essa anotação lacônica o temível cabo faz sua estréia nas histórias, lendas e sagas náuticas".
O primeiro homem a encontrar
a passagem entre os oceanos
Atlântico e Pacífico e a descobrir a
rota de circunavegação da Terra,
entretanto, fora Fernão de Magalhães, 96 anos antes, muito acima
do cabo Horn. A história foi reconstituída na narrativa invulgar
de Stefan Zweig "Fernão Magalhães - O Homem e a sua Façanha" (ed. Record), escrita na primeira viagem do escritor austríaco à América do Sul.
Zweig assim imagina o momento em que o navegador batizou a
Terra do Fogo: "Deve ter sido
uma cena estranha e fantasmagórica, quando os primeiros quatro
navios da humanidade atravessaram suave e silenciosamente, sem
ruído, esta passagem negra, sombria, que desde tempos imemoriais nunca houvera sido transposta por um ser humano. Um silêncio monstruoso os espera. (...)
Ao longe, brilham montanhas cobertas de neve, e à noite o vento
traz um hálito gelado. Nenhum
ser humano aparece, mas devem
morar por ali homens, pois de
noite vêem-se fogos trêmulos em
meio à escuridão, razão pela qual
Magalhães chama esta região de
Terra do Fogo".
(JM)
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