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PÓS-FURACÃO
Polêmica sobre a reconstrução da cidade esbarra no turismo, que rende US$ 10 bilhões anuais a Nova Orleans
Centro histórico fica de pé após furacão
DA REDAÇÃO
Quando o Pelourinho estava à
beira de desabar, em 1991, Larry
Rohter, correspondente do jornal
"New York Times" no Brasil, publicou artigo sobre a decadência
do centro histórico da capital da
Bahia. Tombado pela Unesco em
1986, o conjunto de cerca de 3.000
prédios estava desabando.
À época, o arquiteto inglês Peter
Cook, com alguma neurose, sugeriu "eutanásia" para esse conjunto arquitetônico edificado nos séculos 17 e 18 e que, ocupando 750
mil m2, tem área comparável à do
Quartier Latin, em Paris. O tempo
passou e muito do centro histórico soteropolitano foi recuperado.
Hoje, nos EUA, depois que o furacão Katrina arrasou 80% de Nova Orleans, há polêmica sobre a
reconstrução da cidade.
É improvável que as autoridades norte-americanas optem realmente pela destruição de uma cidade inteira -ainda mais de uma
metrópole de meio milhão de habitantes com a importância cultural de Nova Orleans.
Mas o fato é que, três metros
abaixo do nível do mar, "Big
Easy" (como os locais chamam a
cidade) está suscetível a catástrofes como a ocorrida recentemente. Há quem queira protege-la
com diques ou transformá-la em
cidade flutuante, edificada sobre
plataformas. Há quem veja na reconstrução de Nova Orleans desperdício de dinheiro do Estado.
Limpar a casa
Já definida, pelo geógrafo francês Peirce Lewis, como uma "cidade inevitável em um lugar impossível", Nova Orleans só terá
seu futuro definido depois de
uma grande faxina. A enchente
precisa ser drenada, o solo, limpo.
A água potável está contaminada,
e as condições de abastecimento,
o sistema de esgoto e a eletricidade funcionam precariamente.
A polêmica sobre a reconstrução da cidade, que, com 300 anos
de história moldada pelo comércio marítimo, ocupa um lugar singular na indústria do turismo nos
EUA, divide opiniões.
Em artigo publicado no site Slate (www.slate.com/?id=2125810&nav=tap1), Jack Shafer, editor
do veículo defende que reerguer
Nova Orleans seria construir uma
Atlantis. Para sustentar seu ponto
de vista, usa a pobreza das áreas
afetadas e a falência dos serviços
de educação, policiamento e saúde como argumento.
Mas, apesar dos velozes ventos
do furacão Katrina e da enchente
que tomou a cidade, o histórico
bairro Francês foi relativamente
poupado. E é aí que entra uma
forte argumentação a favor da
manutenção da cidade. O bairro
Francês concentra a vida turística
de Nova Orleans.
E isso não é pouco: a cada ano, o
turismo gera US$ 10 bilhões para
a cidade. A atividade responde
por 15% dos empregos locais.
"Eu garanto que custaria muitos
mais milhões abandonar a cidade
do que reconstruí-la", afirma
Laurence Geller, presidente e
CEO do Strategic Hotel Capital,
companhia dona do Hyatt Regency New Orleans, hotel instalado próximo do Superdome. "O
hotel foi bastante danificado pelo
furacão, mas vale a pena consertá-lo", disse Geller.
O plano seria recuperar a região
do Superdome e do hotel para integrá-la melhor ao bairro Francês,
nas cercanias, recriando a região
turística da cidade de maneira
mais articulada.
Entorno
Antes de decidir se as casas das
áreas mais afetadas serão reerguidas ou destruídas, a cidade precisa ser seca e descontaminada. Estima-se que demorará um mês
para que toda a água seja drenada.
As casas que estão submersas
desde a passagem do furacão deverão ser destruídas, pois a estrutura já não é recuperável.
Os que defendem a reconstrução da cidade, apontam como solução a construção de casas suspensas de acordo com o risco de
inundação. Será preciso esperar
para definir quão altas seriam as
novas construções. A região está
afundando por conta da compactação natural dos sedimentos no
delta do rio Mississippi. Além disso, o aquecimento global causa o
derretimento de glaciares, aumentando o nível do mar.
(SILVIO CIOFFI e HELOISA LUPINACCI)
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