São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PÓS-FURACÃO

Polêmica sobre a reconstrução da cidade esbarra no turismo, que rende US$ 10 bilhões anuais a Nova Orleans

Centro histórico fica de pé após furacão

DA REDAÇÃO

Quando o Pelourinho estava à beira de desabar, em 1991, Larry Rohter, correspondente do jornal "New York Times" no Brasil, publicou artigo sobre a decadência do centro histórico da capital da Bahia. Tombado pela Unesco em 1986, o conjunto de cerca de 3.000 prédios estava desabando.
À época, o arquiteto inglês Peter Cook, com alguma neurose, sugeriu "eutanásia" para esse conjunto arquitetônico edificado nos séculos 17 e 18 e que, ocupando 750 mil m2, tem área comparável à do Quartier Latin, em Paris. O tempo passou e muito do centro histórico soteropolitano foi recuperado.
Hoje, nos EUA, depois que o furacão Katrina arrasou 80% de Nova Orleans, há polêmica sobre a reconstrução da cidade.
É improvável que as autoridades norte-americanas optem realmente pela destruição de uma cidade inteira -ainda mais de uma metrópole de meio milhão de habitantes com a importância cultural de Nova Orleans.
Mas o fato é que, três metros abaixo do nível do mar, "Big Easy" (como os locais chamam a cidade) está suscetível a catástrofes como a ocorrida recentemente. Há quem queira protege-la com diques ou transformá-la em cidade flutuante, edificada sobre plataformas. Há quem veja na reconstrução de Nova Orleans desperdício de dinheiro do Estado.

Limpar a casa
Já definida, pelo geógrafo francês Peirce Lewis, como uma "cidade inevitável em um lugar impossível", Nova Orleans só terá seu futuro definido depois de uma grande faxina. A enchente precisa ser drenada, o solo, limpo. A água potável está contaminada, e as condições de abastecimento, o sistema de esgoto e a eletricidade funcionam precariamente.
A polêmica sobre a reconstrução da cidade, que, com 300 anos de história moldada pelo comércio marítimo, ocupa um lugar singular na indústria do turismo nos EUA, divide opiniões.
Em artigo publicado no site Slate (www.slate.com/?id=2125810&nav=tap1), Jack Shafer, editor do veículo defende que reerguer Nova Orleans seria construir uma Atlantis. Para sustentar seu ponto de vista, usa a pobreza das áreas afetadas e a falência dos serviços de educação, policiamento e saúde como argumento.
Mas, apesar dos velozes ventos do furacão Katrina e da enchente que tomou a cidade, o histórico bairro Francês foi relativamente poupado. E é aí que entra uma forte argumentação a favor da manutenção da cidade. O bairro Francês concentra a vida turística de Nova Orleans.
E isso não é pouco: a cada ano, o turismo gera US$ 10 bilhões para a cidade. A atividade responde por 15% dos empregos locais.
"Eu garanto que custaria muitos mais milhões abandonar a cidade do que reconstruí-la", afirma Laurence Geller, presidente e CEO do Strategic Hotel Capital, companhia dona do Hyatt Regency New Orleans, hotel instalado próximo do Superdome. "O hotel foi bastante danificado pelo furacão, mas vale a pena consertá-lo", disse Geller.
O plano seria recuperar a região do Superdome e do hotel para integrá-la melhor ao bairro Francês, nas cercanias, recriando a região turística da cidade de maneira mais articulada.

Entorno
Antes de decidir se as casas das áreas mais afetadas serão reerguidas ou destruídas, a cidade precisa ser seca e descontaminada. Estima-se que demorará um mês para que toda a água seja drenada.
As casas que estão submersas desde a passagem do furacão deverão ser destruídas, pois a estrutura já não é recuperável.
Os que defendem a reconstrução da cidade, apontam como solução a construção de casas suspensas de acordo com o risco de inundação. Será preciso esperar para definir quão altas seriam as novas construções. A região está afundando por conta da compactação natural dos sedimentos no delta do rio Mississippi. Além disso, o aquecimento global causa o derretimento de glaciares, aumentando o nível do mar.
(SILVIO CIOFFI e HELOISA LUPINACCI)

Texto Anterior: Peixe grande: Atlanta anuncia o maior aquário do mundo
Próximo Texto: Pós-furacão: Cidade recebia dobro de turistas do Brasil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.