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PÓS-FURACÃO
Nova Orleans, que guarda suposta máscara mortuária de Napoleão Bonaparte, gerou música e literatura
Cidade recebia dobro de turistas do Brasil
SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO
A tragédia que emerge da drenagem de Nova Orleans expõe cadáveres, destruição, peste e saques. Mas, mesmo alagada e semidestruída, a despeito das discussões sobre sua reconstrução,
Nova Orleans tem, nos EUA, uma
luz cultural, na música e na literatura, comparável às de Chicago e
de San Francisco.
Antigo porto mais movimentado dos EUA, a cidade que se originou no bairro Francês recebia dez
milhões de turistas/ano -duas
vezes mais que o Brasil.
E é nesse coração boêmio, numa área de casas, com seis quadras diante do rio Mississippi, por
12 quarteirões de fundo, governado no passado por espanhóis e
franceses, que surgiu o jazz, em
1855. Antes, o local foi território
indígena e entreposto de escravos, recebeu imigrantes europeus,
transformou-se em cenário da peça "Um Bonde Chamado Desejo",
de Tennessee William, e do romance "O Vampiro L'Estat", de
Anne Rice, outra habitante ilustre
de Nova Orleans.
A máscara
Até mesmo Napoleão Bonaparte (1769-1821), que nunca esteve
em Nova Orleans -e nem no Estado da Louisiana- tem ligações
fortes com a cidade que os norte-americanos ironicamente chamam de "Big Easy".
Foi o imperador da França que
vendeu esse território a Thomas
Jefferson, em 1803, por US$ 15 milhões, num negócio imobiliário
que dobrou o tamanho do território dos EUA.
Até que o Katrina arrasou Nova
Orleans, no último dia 29, o singelo prédio do Cabildo guardava,
num pequeno museu, uma intrigante relíquia: a máscara mortuária com a expressão fúnebre de
Napoleão fixada em bronze.
Guardadas as proporções, o objeto era tão identificado com a cidade quanto o jazz e o drinque local, curiosamente batizado de
"hurricane" (furacão, em inglês).
O Cabildo, ou o que dele restou,
fica ao lado da pequena catedral
de St. Louis e diante da estátua
eqüestre de Andrew Jacskon -o
general que venceu os ingleses em
1815. Algo turístico, frágil com sua
fachada de arcos, o museu do Cabildo tinha, além da máscara, pinturas, painéis e objetos de época.
Sempre que a temperatura política de Nova Orleans esquentou, a
máscara napoleônica sumiu. Isso
ocorreu por exemplo em 1853,
quando, guardada em local desconhecido, o objeto com a expressão fúnebre do imperador desapareceu.
Foi achada em 1866 numa composição de trem abandonada, a
máscara foi para em Atlanta, na
Geórgia, na casa de um certo capitão William Greene Raoul, então
presidente da Mexican National
Railway.
Voltou a Nova Orleans apenas
em 1909, quando o general leu a
notícia da máscara perdida e propôs ao prefeito a devolução.
O imperador teve um destino
insular -nasceu na Córsega, exilou-se em Elba e morreu em Santa
Helena- e provavelmente morreu envenenado pelos ingleses, ao
longo de anos, com diminutas doses de arsênico ministradas por
seu mordomo.
Ao morrer, em 5 de maio de
1821, foi atendido por Francesco
Autommarchi, seu médico particular, que teria moldado em geso
a sua face.
Segundo Autommarchi, a máscara, depois foi fundida em bronze, teria sido feita 40 horas após a
morte do imperador. O médico
passou a viver em Nova Orleans e,
para ganhar prestígio, em 1834
doou o objeto à municipalidade.
Quatro anos depois, Autommarchi foi viver no México. Foi
então que uma nova história veio
à tona. O objeto teria sido roubado pelo inglês Francis Burton e
não seria a reprodução da expressão fúnebre do imperador e, sim,
de Francis Eugéne Robeaud, um
de seus sósias.
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