São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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PÓS-FURACÃO

Nova Orleans, que guarda suposta máscara mortuária de Napoleão Bonaparte, gerou música e literatura

Cidade recebia dobro de turistas do Brasil

SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

A tragédia que emerge da drenagem de Nova Orleans expõe cadáveres, destruição, peste e saques. Mas, mesmo alagada e semidestruída, a despeito das discussões sobre sua reconstrução, Nova Orleans tem, nos EUA, uma luz cultural, na música e na literatura, comparável às de Chicago e de San Francisco.
Antigo porto mais movimentado dos EUA, a cidade que se originou no bairro Francês recebia dez milhões de turistas/ano -duas vezes mais que o Brasil.
E é nesse coração boêmio, numa área de casas, com seis quadras diante do rio Mississippi, por 12 quarteirões de fundo, governado no passado por espanhóis e franceses, que surgiu o jazz, em 1855. Antes, o local foi território indígena e entreposto de escravos, recebeu imigrantes europeus, transformou-se em cenário da peça "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee William, e do romance "O Vampiro L'Estat", de Anne Rice, outra habitante ilustre de Nova Orleans.

A máscara
Até mesmo Napoleão Bonaparte (1769-1821), que nunca esteve em Nova Orleans -e nem no Estado da Louisiana- tem ligações fortes com a cidade que os norte-americanos ironicamente chamam de "Big Easy".
Foi o imperador da França que vendeu esse território a Thomas Jefferson, em 1803, por US$ 15 milhões, num negócio imobiliário que dobrou o tamanho do território dos EUA.
Até que o Katrina arrasou Nova Orleans, no último dia 29, o singelo prédio do Cabildo guardava, num pequeno museu, uma intrigante relíquia: a máscara mortuária com a expressão fúnebre de Napoleão fixada em bronze.
Guardadas as proporções, o objeto era tão identificado com a cidade quanto o jazz e o drinque local, curiosamente batizado de "hurricane" (furacão, em inglês).
O Cabildo, ou o que dele restou, fica ao lado da pequena catedral de St. Louis e diante da estátua eqüestre de Andrew Jacskon -o general que venceu os ingleses em 1815. Algo turístico, frágil com sua fachada de arcos, o museu do Cabildo tinha, além da máscara, pinturas, painéis e objetos de época.
Sempre que a temperatura política de Nova Orleans esquentou, a máscara napoleônica sumiu. Isso ocorreu por exemplo em 1853, quando, guardada em local desconhecido, o objeto com a expressão fúnebre do imperador desapareceu.
Foi achada em 1866 numa composição de trem abandonada, a máscara foi para em Atlanta, na Geórgia, na casa de um certo capitão William Greene Raoul, então presidente da Mexican National Railway.
Voltou a Nova Orleans apenas em 1909, quando o general leu a notícia da máscara perdida e propôs ao prefeito a devolução.
O imperador teve um destino insular -nasceu na Córsega, exilou-se em Elba e morreu em Santa Helena- e provavelmente morreu envenenado pelos ingleses, ao longo de anos, com diminutas doses de arsênico ministradas por seu mordomo.
Ao morrer, em 5 de maio de 1821, foi atendido por Francesco Autommarchi, seu médico particular, que teria moldado em geso a sua face.
Segundo Autommarchi, a máscara, depois foi fundida em bronze, teria sido feita 40 horas após a morte do imperador. O médico passou a viver em Nova Orleans e, para ganhar prestígio, em 1834 doou o objeto à municipalidade.
Quatro anos depois, Autommarchi foi viver no México. Foi então que uma nova história veio à tona. O objeto teria sido roubado pelo inglês Francis Burton e não seria a reprodução da expressão fúnebre do imperador e, sim, de Francis Eugéne Robeaud, um de seus sósias.


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