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DEPOIMENTO
Fome comum reforça laços entre spasianos
Rejeitar refeição cria animosidade
RENATA IETTO
DA REPORTAGEM LOCAL
Final de almoço, e a minha fala foi: "Não, obrigada". A garçonete insistiu, e eu também:
"Não, obrigada". Ela ainda fez
uma terceira tentativa, e eu respondi definitiva: "Nunca como
sobremesa. Além do que, estou
sem fome". Nesse momento,
tarde demais, percebi que tinha
dado a resposta errada. Os
olhares de todas as mesas voltaram-se para a minha direção.
Era o meu primeiro dia num
spa e já tinha conseguido, em
menos de um minuto, ser a
pessoa mais odiada do lugar.
Contrariei a regra número um
dos spasianos: aceitar tudo o
que for servido. Mesmo que
você odeie aquele prato.
Os seus colegas de mesa serão
eternamente gratos por poderem repartir algo com você.
Mesmo que seja apenas a sensação de estarem "do mesmo
lado". Do mesmo lado dos que
compartilham de caminhadas,
step, dança, ioga, relaxamento,
musculação, meditação, enfim... as listas são grandes.
Os spasianos também serão
seus companheiros na hora da
sauna, do ofurô e do resto da
programação, que, às vezes, vira uma terapia de grupo.
A tal da programação que o
acompanhará o dia todo será,
ao mesmo tempo, sua melhor
amiga e inimiga. Hora para
acordar, para tomar café, para
caminhar, para almoçar (essa
parece que nunca chega), para
a ginástica, para lanchar, para
mais ginástica e, finalmente,
para o esperado jantar.
Entre uma atividade e outra,
pausas para uma massagem,
uma sauna ou um ofurô. Se você acha que se esquecerá da
programação, não se preocupe.
Eles, do "outro lado", sempre
saberão achá-lo. Vão ligar, bater na porta do seu quarto e insistir que aquela aula de aeróbica é muito importante. Se você
quiser apenas alguns dias de
descanso, deixe isso bem claro
desde o início. Pode ser cansativo convencer alguém de que
você precisa mais de uma soneca que de uma aula de step.
Chegou a hora da massagem?
Aviso: nem todos os tratamentos são como aparecem nas fotos de revistas, em que estrelas
de novela surgem maravilhosas em felpudas toalhas brancas. Não tão glamourosos e até
mesmo desconfortáveis, como
tratamentos com produtos
crioterápicos. Um gel é aplicado e, logo depois, você está
congelando. Ao ver a sua cara
de sofrimento, a massagista
diz: "Volto em 45 minutos".
Enfaixada e morrendo de tédio,
você tem a dimensão exata do
que são 45 minutos.
Finalmente o almoço está
pronto? Nada de atropelos,
aproveite cada folha de alface
porque o jantar poderá ser só
um prato de sopa. Para quem
dorme tarde, as horas entre a
sopa e o sono podem ser as
mais difíceis. Insônia ou fome?
Apostaria nas duas. Caso o número de calorias da sua dieta
permita, essa é a melhor hora
para pedir um extra -uma xícara de leite ou uma torrada.
Folclore ou não, você ficará
sabendo de histórias de gente
que ligou altas horas da noite
para o disque-pizza ou de
quem escondeu biscoitos na
mala. Como existem spas e
spas, tudo isso fica por conta
do estilo de cada um. Enquanto
alguns revistam malas, outros
liberam os spasianos para passeios. Peso na consciência ou
na balança? Na dúvida, apenas
comportados copos de Coca
light na noite de "indulto".
Ah, sim, a balança. Nessa hora, todos os conhecimentos da
física são postos à prova. Pesar-se de cabelo ou de maiô molhado? Nem pensar! Tiram-se
brincos, pulseiras, relógio, fivelas, prendedores de cabelo, tira-se até o ar dos pulmões.
Após a briga diária com uma
dieta de 600 calorias, o ponteiro, às vezes, desaponta. Quem
não tinha participado de nenhuma atividade física, o único
homem no spa, foi quem mais
emagreceu. O médico diz que
eles têm mais facilidade para
perder peso. Feliz da vida, ele
fez as malas antes do tempo e
voltou para casa. Nós, as mulheres continuamos tentando.
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