São Paulo, segunda, 16 de março de 1998

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POR DENTRO DE FORTALEZA
Provincianismo resiste à modernidade

PAULO MOTA
da Agência Folha, em Fortaleza

Visitar Fortaleza é entrar em contato com uma espécie de balneário litorâneo pós-moderno, no qual convivem praias selvagens e o que existe de mais avançado em tecnologia de serviços turísticos.
Sem possuir um passado colonial, a cidade é marcada pelo ecletismo de estilos e pela novidade. Não por acaso, Fortaleza tem uma praia chamada do Futuro. Como contraponto, o mito de Iracema evoca um passado idealizado pelo escritor cearense José de Alencar.
O mar determina o cotidiano de Fortaleza. Nas praias, que oferecem sol todos os dias do ano, estão os pontos mais frequentados da movimentada noite da cidade.
Quinta capital do país em população, Fortaleza é como uma criança em corpo de adulto. Mesmo com porte de metrópole, a cidade ainda mantém características de província. Ao lado de arranha-céus luxuosos, famílias ainda se reúnem nas ruas para conversar. O trânsito é tranquilo.
A cidade expressa exemplarmente as contradições sociais do Nordeste. Na zona leste, encontram-se prédios e casas que são paradigmas do luxo e da sofisticação arquitetônica. Na zona oeste, há oficialmente 550 mil favelados.

O barquinho vai
Um passeio de barco pela orla marítima é um dos programas mais agradáveis. Os barcos saem diariamente da praia do Mucuripe e oferecem serviço de bar e restaurante a bordo. Da praia do Futuro à Barra do Ceará, passando pela praia de Iracema e pelo cais do porto do Mucuripe, o trajeto permite vislumbrar uma cidade que cresce rodeada por dunas.
Para quem gosta de natureza, a sugestão é passear pelo Parque Ecológico do Cocó. Considerado o maior parque ecológico urbano da América Latina, tem área de camping, cooper e playground.
Chega-se ao parque, localizado nos bairros do Papicu e do Cocó, pelas avenidas Pontes Vieira ou Santana Júnior.
A área deve ser evitada depois das 19h, por conta dos mosquitos e da falta de segurança.
Caminhar pela avenida Beira-Mar, entre as praias do Mucuripe e Iracema, é desfrutar da paisagem mais bela da cidade.
Diariamente, centenas de cearenses de classe média usam esse trecho para a prática do cooper. Nos dois pólos -Iracema e o Mucuripe-, é costume entre intelectuais, artistas e boêmios apreciar o pôr-do-sol de um dos vários bares da área.
Uma volta pelas ruas do centro revela a radiografia cultural do cearense, marcada pela molecagem e pelo bom humor. Na praça do Ferreira, é comum encontrar grupos que riem das sessões intermináveis de piadas ou dos personagens tipicamente cearenses que passam por ali.
O humorista Tom Cavalcante, o "brega-star" Falcão e o colunista da Folha José Simão costumam renovar seus estoques de maledicências e anedotas nessas rodas.



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