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TAXIANDO NA CAPITAL
Taxistas voltam à sala de aula e estudam história e geografia para apresentar a cidade ao visitante
Motoristas se preparam para ser guias
DA REPORTAGEM LOCAL
"A cidade começou no princípio do século 16 com a chegada de
Pedro de Mendoza. Essa é uma
dessas controvérsias sem fim,
porque se fala em duas fundações
de Buenos Aires. Pedro de Mendoza construiu um forte -e não
uma cidade. Setenta anos depois
veio Juan de Garay; ele sim deu
forma de vilarejo e fundou o que
se chamou naquele tempo de praça Mayor, depois o Cabildo, que
era algo como um palácio do governo e uma igreja. Tudo em frente à praça, que, por sua vez, ficava
em frente ao porto. Naquele tempo, onde havia água é o que chamamos hoje de Puerto Madero."
As afirmações não saíram da
boca de um historiador, tampouco foram extraídas de um guia de
Buenos Aires: foram ditas pelo taxista Luis Alberto Giordano, 50,
que há duas décadas roda pelas
ruas da capital portenha.
Giordano é um dos 800 motoristas de táxi que, até meados de
julho, acrescentarão ao seus currículos uma função a mais, que vai
além da pecha de que taxistas são
palpiteiros, sabem de tudo um
pouco -política, futebol, tempo- e cobram mais em algumas
corridas, principalmente se o passageiro é estrangeiro. Eles também serão "guias turísticos".
Os motoristas portenhos estão
fazendo um curso de 14 aulas, no
qual aprendem geografia, história
e inglês. O objetivo é ter na ponta
da língua boas dicas para dar aos
turistas locais e estrangeiros.
"Os taxistas são a primeira pessoa com quem o turista se depara", explica o idealizador do curso, o deputado portenho Diego
Santilli (Partido Justicialista).
Quem visitar a capital argentina e
tomar um táxi com um motorista
capacitado pelo curso, além da
corrida, ganha uma explicação
histórica da arquitetura e das tradições portenhas, segundo Santilli. Aulas de português estão programadas para a próxima turma,
no segundo semestre.
Por enquanto, os motoristas estudam cinco circuitos -os mais
tradicionais. São eles: Centro Cívico, que percorre a tradicional
avenida de Mayo, da praça de Mayo, em frente à Casa Rosada, até o
prédio do Congresso; Buscando
as Pegadas do Passado, que circula pelos bairros de Moserrat, San
Telmo e Boca; Coqueta Buenos
Aires, que percorre um trecho sofisticado, passando por Palermo,
Recoleta e Retiro; um de tango,
relacionado a Carlos Gardel, cruzando os bairros de Abastos, Balvanera e a avenida Corrientes, incluindo o Obelisco e a zona financeira; o quinto roteiro concentra-se nos atrativos da costa.
"Podemos mostrar circuitos turísticos diferentes dos tradicionais", diz Giordano, que faz o curso "para relembrar e aprender".
Como bons palpiteiros, os taxistas sempre têm boas dicas. Para os
brasileiros, Giordano indica a feira de Mataderos, que acontece todos os domingos e mostra a cultura gaúcha com danças e comidas
típicas. "É para a gente da cidade,
para os tradicionalistas. Recomendo sempre, mas é um passeio
artesanal, no sentido mais puro
da palavra. É uma alternativa [a
roteiros tradicionais] linda."
A partir de julho, quem quiser
reconhecer quais dos táxis pretos
e amarelos têm um motorista-guia, precisa observar se há um
adesivo no carro dando conta da
certificação do curso.
(MARGARETE MAGALHÃES)
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