São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TAXIANDO NA CAPITAL

Taxistas voltam à sala de aula e estudam história e geografia para apresentar a cidade ao visitante

Motoristas se preparam para ser guias

DA REPORTAGEM LOCAL

"A cidade começou no princípio do século 16 com a chegada de Pedro de Mendoza. Essa é uma dessas controvérsias sem fim, porque se fala em duas fundações de Buenos Aires. Pedro de Mendoza construiu um forte -e não uma cidade. Setenta anos depois veio Juan de Garay; ele sim deu forma de vilarejo e fundou o que se chamou naquele tempo de praça Mayor, depois o Cabildo, que era algo como um palácio do governo e uma igreja. Tudo em frente à praça, que, por sua vez, ficava em frente ao porto. Naquele tempo, onde havia água é o que chamamos hoje de Puerto Madero."
As afirmações não saíram da boca de um historiador, tampouco foram extraídas de um guia de Buenos Aires: foram ditas pelo taxista Luis Alberto Giordano, 50, que há duas décadas roda pelas ruas da capital portenha.
Giordano é um dos 800 motoristas de táxi que, até meados de julho, acrescentarão ao seus currículos uma função a mais, que vai além da pecha de que taxistas são palpiteiros, sabem de tudo um pouco -política, futebol, tempo- e cobram mais em algumas corridas, principalmente se o passageiro é estrangeiro. Eles também serão "guias turísticos".
Os motoristas portenhos estão fazendo um curso de 14 aulas, no qual aprendem geografia, história e inglês. O objetivo é ter na ponta da língua boas dicas para dar aos turistas locais e estrangeiros.
"Os taxistas são a primeira pessoa com quem o turista se depara", explica o idealizador do curso, o deputado portenho Diego Santilli (Partido Justicialista). Quem visitar a capital argentina e tomar um táxi com um motorista capacitado pelo curso, além da corrida, ganha uma explicação histórica da arquitetura e das tradições portenhas, segundo Santilli. Aulas de português estão programadas para a próxima turma, no segundo semestre.
Por enquanto, os motoristas estudam cinco circuitos -os mais tradicionais. São eles: Centro Cívico, que percorre a tradicional avenida de Mayo, da praça de Mayo, em frente à Casa Rosada, até o prédio do Congresso; Buscando as Pegadas do Passado, que circula pelos bairros de Moserrat, San Telmo e Boca; Coqueta Buenos Aires, que percorre um trecho sofisticado, passando por Palermo, Recoleta e Retiro; um de tango, relacionado a Carlos Gardel, cruzando os bairros de Abastos, Balvanera e a avenida Corrientes, incluindo o Obelisco e a zona financeira; o quinto roteiro concentra-se nos atrativos da costa.
"Podemos mostrar circuitos turísticos diferentes dos tradicionais", diz Giordano, que faz o curso "para relembrar e aprender". Como bons palpiteiros, os taxistas sempre têm boas dicas. Para os brasileiros, Giordano indica a feira de Mataderos, que acontece todos os domingos e mostra a cultura gaúcha com danças e comidas típicas. "É para a gente da cidade, para os tradicionalistas. Recomendo sempre, mas é um passeio artesanal, no sentido mais puro da palavra. É uma alternativa [a roteiros tradicionais] linda."
A partir de julho, quem quiser reconhecer quais dos táxis pretos e amarelos têm um motorista-guia, precisa observar se há um adesivo no carro dando conta da certificação do curso.
(MARGARETE MAGALHÃES)

Texto Anterior: Taxiando na capital: Templos contam história da fundação
Próximo Texto: Pacotes para Bueno Aires
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.