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AUTOFAGIA À PAULISTA
Grupo XIX de Teatro realiza pesquisa no local e prepara estréia no próprio espaço em 2005
Maria Zélia vira palco de espetáculo
DO ENVIADO ESPECIAL AO INTERIOR DE SP
A Vila Maria Zélia deve ingressar no cenário cultural paulistano
em março ou abril do ano que
vem. Há seis meses vem sendo ali
preparado o novo espetáculo do
grupo XIX de Teatro. A peça, cujo
tema é a casa, entrará em cartaz
em 2005 no próprio espaço.
Batizado de "A Residência", o
projeto da jovem companhia, que
estreou com muita aclamação sua
primeira montagem, "Hysteria",
em 2002, contempla um longo estudo do meio, que enfeixa a coleta
de depoimentos de moradores, a
realização de oficinas teatrais e a
apresentação de outras encenações -entre as quais "Hysteria".
Dez artistas freqüentam a vila
quase diariamente. Eles se encontram baseados num armazém que
estava desativado havia 37 anos.
"Muita gente nunca tinha entrado
ali antes de nós chegarmos", afirma o diretor Luiz Fernando Marques, 26.
Ele diz que a escolha da Maria
Zélia tem uma dupla função.
"Tem a ver com a discussão do
grupo, que quer ocupar espaços
históricos, e tem a ver com a vontade de chamar a atenção do poder público e de revelar a cidade",
declara o encenador. "A vila é a
única que possui, além das casas,
aparelhos públicos como duas escolas, hoje abandonadas."
Tem ocorrido no local a interação entre visitadores e visitados.
O grupo já realizou na área sessões de cinema ao ar livre e organizou uma mostra com fotografias antigas. "No aniversário da vila, montamos uma pequena peça
especialmente para eles [os moradores]", recorda Marques. O projeto é viabilizado por uma verba
de R$ 250 mil do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a
Cidade de São Paulo.
Propulsora da trupe, "Hysteria"
despontou numa aula ministrada
pelo diretor do incensado Teatro
da Vertigem, Antônio Araújo, na
USP. O espetáculo estreou no Festival de Teatro de Curitiba dois
anos atrás e foi considerado a surpresa do evento. Foi indicado ao
prêmio Shell e chegou a ser encenado em Portugal e na França.
Tanta curiosidade derivou do
modo como era tratado o assunto
da peça: a vida de internas de um
hospício do século 19. Apropriando-se em todas as sessões de espaços não-convencionais, de preferência antigos -o prédio da FAU
Maranhão, por exemplo-, a encenação dividia a platéia de acordo com o sexo. As mulheres eram
postas em cena com as atrizes, e
os homens apenas assistiam ao
que disso resultava. A interação
surgida, coisa rara, não caía no
constrangimento típico.
Praticamente todo o mundinho
de teatro -e de TV e de cinema- assistiu a "Hysteria": Antonio Fagundes, Antunes Filho, Eva
Wilma, Matheus Nachtergaele
etc. Fernanda Montenegro ficou
sabendo da companhia por intermédio da produtora e decidiu dar
um curso às intérpretes. Ela compareceu à peça no Rio de Janeiro e
em Portugal. "Quando me ligaram [para conversar a respeito do
curso], achei que fosse mentira",
lembra Luiz Fernando Marques.
A próxima peça ainda não tem
nome, e o esboço da sua dramaturgia está prestes a ser começado. O XIX de Teatro mantém um
site -www.grupoxixdeteatro.ato.br- com mais informações.
(PEDRO IVO DUBRA)
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