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MARCO ALEMÃO
Vendedor vive dos resquícios da história
De acordo com dados do centro de turismo do país, em torno de 117 mil turcos se mudaram para Berlim
DA ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Todos os dias, por volta das
10h, Izmir, 43, inicia sua jornada de trabalho nas proximidades do Checkpoint Charlie -local onde ficava a guarita que
controlava o cruzamento da
fronteira entre os setores norte-americano e soviético- à espera de turistas interessados
em suvenires que tenham alguma relação com essa fase da
história alemã. Por lá fica até
umas 17h, "dependendo do movimento e do dia da semana".
Simpático e prosa, Izmir é
um dos 117 mil turcos foram a
Berlim -cidade de 3,4 milhões
de habitantes- à procura de
trabalho, segundo dados do
Centro de Turismo Alemão/
DZT (www.visitealemanha.com). A maioria ganha a
vida como motorista de táxi,
garçom ou, a exemplo do nosso
personagem, vendedor ambulante. Todos serviços bastante
usados por qualquer turista.
Por isso, na hora de colocar
na mala aquele guia superprático, que traz as principais expressões em alemão, como
"obrigada" (danke), "por favor"
(bitte) e "socorro!" (hilfe!), não
se esqueça de anotar algumas
palavrinhas em turco.
Izmir, agraciado com um sonoro "techekur ederim" (obrigada, em seu idioma) depois de
aceitar dar uma pequena entrevista à Folha, vende uniformes
de soldados, chapéus, broches,
bonequinhas russas, moedas e
passaportes antigos que, garante o vendedor, eram usadas
para a passagem entre os lados
oriental e ocidental.
Pedras "preciosas"
Mas o carro-chefe da sua
mercadoria são mesmo os pedaços do muro -ou do que os
turistas mais otimistas acreditam ser os restos dele.
Sabe-se lá porquê pintados
com cores vibrantes de um lado
e "ao natural" do outro, eles são
vendidos a aproximadamente
15 cada um.
Izmir conta que vende, por
dia, de dois a quatro pedaços de
aproximadamente 10 cm de altura por 10 cm comprimento e
5 cm de espessura. Mas há fragmentos maiores, fator determinante para a variação considerável nos preços.
"Já houve tempos melhores,
mas pelo menos sei que trazendo as pedras todos os dias eu
volto para casa, no mínimo,
com 30 no bolso", diz.
Há 15 anos morando em Berlim e há dois trabalhando com
a barraquinha no Checkpoint
Charle, Izmir tem um vocabulário em inglês limitado às negociações com os turistas.
O nome das mercadorias e
todos os preços ele sabe de cor
nas três línguas -na sua, em
alemão e em inglês.
De resto, é difícil estabelecer
uma conversa mais longa. Logo
ele mistura tudo e o jeito é partir para mímicas, caretas e o
que mais for preciso para tentar entender e ser razoavelmente compreendido.
Mas, como de números e do
Muro de Berlim ele entende
muito bem, quando questionado sobre a autenticidade das
pedras, ele manda ver em dados quase precisos.
Izmir explica que haviam
dois muros: um com mais de 40
km e 3,60 m de altura e outro
com quase 60 km e 3,40 m de
altura. "Com esse tamanho todo, deve ter muro pra eu vender por muito tempo ainda",
diz.
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)
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