São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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MARCO ALEMÃO

Vendedor vive dos resquícios da história

De acordo com dados do centro de turismo do país, em torno de 117 mil turcos se mudaram para Berlim

DA ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

Todos os dias, por volta das 10h, Izmir, 43, inicia sua jornada de trabalho nas proximidades do Checkpoint Charlie -local onde ficava a guarita que controlava o cruzamento da fronteira entre os setores norte-americano e soviético- à espera de turistas interessados em suvenires que tenham alguma relação com essa fase da história alemã. Por lá fica até umas 17h, "dependendo do movimento e do dia da semana".
Simpático e prosa, Izmir é um dos 117 mil turcos foram a Berlim -cidade de 3,4 milhões de habitantes- à procura de trabalho, segundo dados do Centro de Turismo Alemão/ DZT (www.visitealemanha.com). A maioria ganha a vida como motorista de táxi, garçom ou, a exemplo do nosso personagem, vendedor ambulante. Todos serviços bastante usados por qualquer turista.
Por isso, na hora de colocar na mala aquele guia superprático, que traz as principais expressões em alemão, como "obrigada" (danke), "por favor" (bitte) e "socorro!" (hilfe!), não se esqueça de anotar algumas palavrinhas em turco.
Izmir, agraciado com um sonoro "techekur ederim" (obrigada, em seu idioma) depois de aceitar dar uma pequena entrevista à Folha, vende uniformes de soldados, chapéus, broches, bonequinhas russas, moedas e passaportes antigos que, garante o vendedor, eram usadas para a passagem entre os lados oriental e ocidental.

Pedras "preciosas"
Mas o carro-chefe da sua mercadoria são mesmo os pedaços do muro -ou do que os turistas mais otimistas acreditam ser os restos dele.
Sabe-se lá porquê pintados com cores vibrantes de um lado e "ao natural" do outro, eles são vendidos a aproximadamente 15 cada um.
Izmir conta que vende, por dia, de dois a quatro pedaços de aproximadamente 10 cm de altura por 10 cm comprimento e 5 cm de espessura. Mas há fragmentos maiores, fator determinante para a variação considerável nos preços.
"Já houve tempos melhores, mas pelo menos sei que trazendo as pedras todos os dias eu volto para casa, no mínimo, com 30 no bolso", diz.
Há 15 anos morando em Berlim e há dois trabalhando com a barraquinha no Checkpoint Charle, Izmir tem um vocabulário em inglês limitado às negociações com os turistas.
O nome das mercadorias e todos os preços ele sabe de cor nas três línguas -na sua, em alemão e em inglês.
De resto, é difícil estabelecer uma conversa mais longa. Logo ele mistura tudo e o jeito é partir para mímicas, caretas e o que mais for preciso para tentar entender e ser razoavelmente compreendido.
Mas, como de números e do Muro de Berlim ele entende muito bem, quando questionado sobre a autenticidade das pedras, ele manda ver em dados quase precisos.
Izmir explica que haviam dois muros: um com mais de 40 km e 3,60 m de altura e outro com quase 60 km e 3,40 m de altura. "Com esse tamanho todo, deve ter muro pra eu vender por muito tempo ainda", diz. (PRISCILA PASTRE-ROSSI)


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