São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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Único a retratar a rainha sozinha no dia de sua coroação, fotógrafo se mostrou ao mundo através do cinema americano

Olhar de Beaton capturou alma da realeza

DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Tão refinado quanto exuberante e indiscreto, Cecil Beaton (1904-1980) foi o único a fotografar a rainha Elizabeth 2ª sozinha na abadia de Westminster em 2 de junho de 1953, dia de sua coroação.
Descrito ainda como espirituoso, o fotógrafo que fez a ponte entre a vida mundana e a realeza, entre a Inglaterra e o cinema norte-americano, nasceu Cecil Walter Hardy Beaton, em Londres, numa família bem estabelecida -mas que não chegou a enriquecer.
A família morava em Knightsbridge, no número 3 da Hyde Park Street, e desde cedo Beaton passou a fotografar as irmãs Baba e Nancy no salão de vestir de sua mãe, usando abajures e cortinas para recriar os ambientes que via nas fotos de londrinos ilustres que apareciam nos jornais britânicos.

Esnobe
Cecil Beaton foi educado inicialmente em internatos vitorianos e, depois, em Harrow e em Cambridge, de onde herdou seu jeito aristocrático. Alguns críticos, entretanto, afirmam que ele gastou muito tempo da vida dando vida ao personagem Cecil Beaton.
Exagerado ou genial, o fato é que a sua obra, hoje um tanto esquecida, tem inquestionável qualidade. Suas imagens não só não envelheceram, como conciliam uma ironia extravagante a um gosto pela tradição.
Retratista ativo entre as décadas de 20 e 50, Beaton foi também cenógrafo, figurinista, escultor, pintor e até escritor bissexto.
A partir do final dos anos 50, sua obra atravessou o Atlântico, dando substância estética para filmes de norte-americanos.
Mesmo quando apenas retratava pessoas, o trabalho fotográfico de Beaton avançava pelo capítulo das artes decorativas, pois ele esboçava em detalhe a cena e cuidava do figurino, pré-produzindo a imagem com rigor.
As fotos que flagram a intimidade da família real, da princesa Elizabeth Alexandra Mary, depois coroada Elizabeth 2ª, e da sua mãe, Elizabeth Bowes-Lyon Windsor, chamada de rainha-mãe, foram feitas com tal esmero.
Ainda no âmbito dos retratos, suas lentes flagraram instantâneos quase cinematográficos de Pablo Picasso, Jean Cocteau, Coco Chanel e Mick Jagger.

Estrelato
Entre os atores hollywoodianos, Beaton fotografou de Johnny Weissmuller, o Tarzã, em pose lânguida, até Yul Brynner de cabelos negros; capturou também a imagem de Marlene Dietrich, Audrey Hepburn e Elizabeth Taylor.
Nos EUA, onde voltou seu talento para o cinema, fez, além das roupas e dos cenários de "My Fair Lady" (direção de George Cukor, 1963), com Audrey Hepburn e Rex Harrison, a produção artística de "Gigi" (direção de Vincent Minelli, 1958), com Leslie Caron e Maurice Chevalier, trabalhos que lhe renderam dois Oscars.

Sir
Cecil Beaton virou cavaleiro (sir) do Império Britânico em 1972. Até o fim da vida, dizia que deveria ter se casado com Greta Garbo, por quem se apaixonou -pelo menos era o que afiançavam as revistas e jornais à época. Beaton e Garbo teriam tido um "affair" depois que ele a fotografou para a "Vogue", nos anos 40.
Beaton morreu solteiro, em 1980, dois dias após completar 76 anos, na sua casa de campo de Salisbury, no interior da Inglaterra. A Sotheby's leiloou então seu equipamento por 92.803 libras.
Em 1986, David Mellor, professor na Universidade de Sussex e seu biógrafo (autor de "Cecil Beaton: a Retrospective", no qual Beaton curiosamente aparece como tendo nascido em 1910), organizou no centro Barbican, de Londres, a última grande exibição da obra do fotógrafo. (SILVIO CIOFFI)


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