|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Único a retratar a rainha sozinha no dia de sua coroação, fotógrafo se mostrou ao mundo através do cinema americano
Olhar de Beaton capturou alma da realeza
DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
Tão refinado quanto exuberante e indiscreto, Cecil Beaton (1904-1980) foi o único a fotografar a rainha Elizabeth 2ª sozinha na abadia de Westminster em 2 de junho
de 1953, dia de sua coroação.
Descrito ainda como espirituoso, o fotógrafo que fez a ponte entre a vida mundana e a realeza, entre a Inglaterra e o cinema norte-americano, nasceu Cecil Walter
Hardy Beaton, em Londres, numa
família bem estabelecida -mas
que não chegou a enriquecer.
A família morava em Knightsbridge, no número 3 da Hyde
Park Street, e desde cedo Beaton
passou a fotografar as irmãs Baba
e Nancy no salão de vestir de sua
mãe, usando abajures e cortinas
para recriar os ambientes que via
nas fotos de londrinos ilustres que
apareciam nos jornais britânicos.
Esnobe
Cecil Beaton foi educado inicialmente em internatos vitorianos e,
depois, em Harrow e em Cambridge, de onde herdou seu jeito
aristocrático. Alguns críticos, entretanto, afirmam que ele gastou
muito tempo da vida dando vida
ao personagem Cecil Beaton.
Exagerado ou genial, o fato é
que a sua obra, hoje um tanto esquecida, tem inquestionável qualidade. Suas imagens não só não
envelheceram, como conciliam
uma ironia extravagante a um
gosto pela tradição.
Retratista ativo entre as décadas
de 20 e 50, Beaton foi também cenógrafo, figurinista, escultor, pintor e até escritor bissexto.
A partir do final dos anos 50, sua
obra atravessou o Atlântico, dando substância estética para filmes
de norte-americanos.
Mesmo quando apenas retratava pessoas, o trabalho fotográfico
de Beaton avançava pelo capítulo
das artes decorativas, pois ele esboçava em detalhe a cena e cuidava do figurino, pré-produzindo a
imagem com rigor.
As fotos que flagram a intimidade da família real, da princesa Elizabeth Alexandra Mary, depois
coroada Elizabeth 2ª, e da sua
mãe, Elizabeth Bowes-Lyon
Windsor, chamada de rainha-mãe, foram feitas com tal esmero.
Ainda no âmbito dos retratos,
suas lentes flagraram instantâneos quase cinematográficos de
Pablo Picasso, Jean Cocteau, Coco
Chanel e Mick Jagger.
Estrelato
Entre os atores hollywoodianos, Beaton fotografou de Johnny
Weissmuller, o Tarzã, em pose
lânguida, até Yul Brynner de cabelos negros; capturou também a
imagem de Marlene Dietrich, Audrey Hepburn e Elizabeth Taylor.
Nos EUA, onde voltou seu talento para o cinema, fez, além das
roupas e dos cenários de "My Fair
Lady" (direção de George Cukor,
1963), com Audrey Hepburn e
Rex Harrison, a produção artística de "Gigi" (direção de Vincent
Minelli, 1958), com Leslie Caron e
Maurice Chevalier, trabalhos que
lhe renderam dois Oscars.
Sir
Cecil Beaton virou cavaleiro
(sir) do Império Britânico em
1972. Até o fim da vida, dizia que
deveria ter se casado com Greta
Garbo, por quem se apaixonou
-pelo menos era o que afiançavam as revistas e jornais à época.
Beaton e Garbo teriam tido um
"affair" depois que ele a fotografou para a "Vogue", nos anos 40.
Beaton morreu solteiro, em
1980, dois dias após completar 76
anos, na sua casa de campo de Salisbury, no interior da Inglaterra.
A Sotheby's leiloou então seu
equipamento por 92.803 libras.
Em 1986, David Mellor, professor na Universidade de Sussex e
seu biógrafo (autor de "Cecil Beaton: a Retrospective", no qual
Beaton curiosamente aparece como tendo nascido em 1910), organizou no centro Barbican, de Londres, a última grande exibição da
obra do fotógrafo.
(SILVIO CIOFFI)
Texto Anterior: Pacotes, na alta Próximo Texto: Fotógrafo ganhou 1ª câmera de sua babá Índice
|