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ORIENTE MÉDIO REAL
Filho de beduíno e neozelandesa quer abrir acampamento
Mãe conta mudança de vida em livro
DA ENVIADA ESPECIAL A PETRA
Há 26 anos, quando Marguerite van Geldermalsen, 52, entrou em trabalho de parto, o
carro que a levaria ao hospital
de Amã quebrou. E o menino
Raami Manaja acabou nascendo dentro da caverna da família. Até aí, nada incomum. Pelo
menos, nada incomum quando
se trata da vida de um beduíno.
Mas há um detalhe na história de Raami que a deixa com
cara de roteiro de cinema. Marguerite não é árabe, mas neozelandesa. Em 1978, ela e uma
amiga passeavam por Grécia e
Egito quando resolveram passar uma semana na Jordânia.
Lá, elas conheceram Amã,
Madaba e Jerash. E terminaram a viagem em Petra. Na verdade, a amiga Elizabeth terminou a viagem. Marguerite, convidada por um beduíno chamado Mohammad Abdallah para
passar uma noite em sua caverna, aceitou, gostou e ficou.
Só voltou para sua terra natal
há sete anos, quando Abdallah,
com quem se casou e teve três
filhos, morreu. Em 2006, ela
lançou o livro "Married to a Bedouin" ("casada com um beduíno", em português). No mesmo
ano, voltou a Petra, onde, segundo Raami, quer passar o
resto da vida. Na tenda em que
vende o livro da mãe e peças de
artesanato, Raami fez uma pausa no bate-papo com os turistas
para conversar com a Folha.
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)
FOLHA - Você conhece a Nova Zelândia, onde sua mãe nasceu?
RAMMI MANAJA - Sim, fiz todo o
colegial lá. Depois estudei engenharia por quatro anos na
Austrália e passei seis meses
viajando. Conheci algumas cidades dos Estados Unidos e do
México e fui para a Europa. Em
Portugal o dinheiro acabou e eu
voltei para casa [risos].
FOLHA - Você queria voltar?
MANAJA - Muito. Sentia muita
falta dos meus amigos, da minha rotina, da vida de beduíno.
FOLHA - E como é essa vida?
MANAJA - É mais simples que a
vida nas cidades. Não demoro
três horas para chegar ao trabalho, não tem correria. E posso
sair de casa e tomar chá no vizinho, sem esperar ser convidado. A amizade entre os beduínos é um elo realmente forte.
FOLHA - Qual a característica mais
forte de um beduíno?
MANAJA - A hospitalidade. É
uma longa tradição, que nasceu
porque, antigamente, tomava
muito tempo ir de um lugar para outro. Para viajar daqui a
Amã [viagem que, de carro, leva
três horas], as pessoas iam a camelo e precisavam fazer paradas no caminho. Você parava e
podia passar uns três dias descansando com os beduínos.
FOLHA - Você tem uma irmã e um
irmão. Eles moram aqui?
MANAJA - Meu irmão estuda
em Aqaba, na área de saúde; e
minha irmã, em Amã, em um
curso de relações públicas.
FOLHA - Seus planos para o futuro
estão em Petra?
MANAJA - Sim. Minha vida é
aqui. Estou trabalhando para
abrir uma agência de turismo
que ofereça um acampamento
permanente, uma verdadeira
"experiência beduína", aos turistas. A ideia é que eles possam
dormir aqui, jantar e tomar café da manhã com os pratos tradicionais do nosso povo.
FOLHA - Você mora com a sua mãe?
MANAJA - Sim, sou casado e moramos com ela no vilarejo. Ela
deve lançar logo o livro em português [há edições em inglês e
alemão], mas ele não terá fotos.
E está trabalhando numa cooperativa de mulheres, que fazem o artesanato vendido aos
turistas.
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