São Paulo, quinta-feira, 19 de março de 2009

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ORIENTE MÉDIO REAL

Filho de beduíno e neozelandesa quer abrir acampamento

Mãe conta mudança de vida em livro

DA ENVIADA ESPECIAL A PETRA

Há 26 anos, quando Marguerite van Geldermalsen, 52, entrou em trabalho de parto, o carro que a levaria ao hospital de Amã quebrou. E o menino Raami Manaja acabou nascendo dentro da caverna da família. Até aí, nada incomum. Pelo menos, nada incomum quando se trata da vida de um beduíno.
Mas há um detalhe na história de Raami que a deixa com cara de roteiro de cinema. Marguerite não é árabe, mas neozelandesa. Em 1978, ela e uma amiga passeavam por Grécia e Egito quando resolveram passar uma semana na Jordânia. Lá, elas conheceram Amã, Madaba e Jerash. E terminaram a viagem em Petra. Na verdade, a amiga Elizabeth terminou a viagem. Marguerite, convidada por um beduíno chamado Mohammad Abdallah para passar uma noite em sua caverna, aceitou, gostou e ficou. Só voltou para sua terra natal há sete anos, quando Abdallah, com quem se casou e teve três filhos, morreu. Em 2006, ela lançou o livro "Married to a Bedouin" ("casada com um beduíno", em português). No mesmo ano, voltou a Petra, onde, segundo Raami, quer passar o resto da vida. Na tenda em que vende o livro da mãe e peças de artesanato, Raami fez uma pausa no bate-papo com os turistas para conversar com a Folha.
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)

 

FOLHA - Você conhece a Nova Zelândia, onde sua mãe nasceu?
RAMMI MANAJA
- Sim, fiz todo o colegial lá. Depois estudei engenharia por quatro anos na Austrália e passei seis meses viajando. Conheci algumas cidades dos Estados Unidos e do México e fui para a Europa. Em Portugal o dinheiro acabou e eu voltei para casa [risos].

FOLHA - Você queria voltar?
MANAJA
- Muito. Sentia muita falta dos meus amigos, da minha rotina, da vida de beduíno.

FOLHA - E como é essa vida?
MANAJA
- É mais simples que a vida nas cidades. Não demoro três horas para chegar ao trabalho, não tem correria. E posso sair de casa e tomar chá no vizinho, sem esperar ser convidado. A amizade entre os beduínos é um elo realmente forte.

FOLHA - Qual a característica mais forte de um beduíno?
MANAJA
- A hospitalidade. É uma longa tradição, que nasceu porque, antigamente, tomava muito tempo ir de um lugar para outro. Para viajar daqui a Amã [viagem que, de carro, leva três horas], as pessoas iam a camelo e precisavam fazer paradas no caminho. Você parava e podia passar uns três dias descansando com os beduínos.

FOLHA - Você tem uma irmã e um irmão. Eles moram aqui?
MANAJA
- Meu irmão estuda em Aqaba, na área de saúde; e minha irmã, em Amã, em um curso de relações públicas.

FOLHA - Seus planos para o futuro estão em Petra?
MANAJA
- Sim. Minha vida é aqui. Estou trabalhando para abrir uma agência de turismo que ofereça um acampamento permanente, uma verdadeira "experiência beduína", aos turistas. A ideia é que eles possam dormir aqui, jantar e tomar café da manhã com os pratos tradicionais do nosso povo.

FOLHA - Você mora com a sua mãe?
MANAJA
- Sim, sou casado e moramos com ela no vilarejo. Ela deve lançar logo o livro em português [há edições em inglês e alemão], mas ele não terá fotos. E está trabalhando numa cooperativa de mulheres, que fazem o artesanato vendido aos turistas.



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