São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2011

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Milão exibe apenas resquícios da rede de canais de 1177

Bairro boêmio marcado por arco triunfal é, atualmente, o reduto milanês da vida cultural e da ferveção noturna

O inventor Da Vinci (1452-1519) melhorou canais nos quais Marinetti (1876-1944) odiava 'ver a luz da lua'

SILVIO CIOFFI

EDITOR DE TURISMO

Fora da área propriamente turística no entorno do Duomo e do teatro alla Scala, Milão também tem seus canais, os Navigli (www.naviganavigli.it), num bairro boêmio repleto de sebos, lojas de antiguidades, sorveterias antigas, locais para dançar e pequenos restaurantes.
Um arco chamado Porta Ticinese, a antiga entrada triunfal ao sul da metrópole, sinaliza a entrada do bairro.
Lá, o maior dos canais se chama Naviglio Grande e é margeado pelas ruas Alzaia Naviglio Grande e pela Ripa di Porta Ticinese.
Hoje um reduto cultural fervilhante, o conjunto compreende ainda o canal Naviglio Pavese, que tem de um lado a rua Alzaia Naviglio Pavese e, do outro, a via A. Sforza; isso além da Darsena, um portinho que remonta a 1603.
Na verdade, esses canais são remanescentes de uma longa rede de vias aquáticas construída a partir de 1177 e que, no século 15, tinha um total de 150 km de extensão.
Concebidos como fossos de defesa e usados no fornecimento de água, os canais logo viraram vias navegáveis ­-e até Leonardo Da Vinci se dispôs a melhorar seu desempenho entre 1506 e 1513, quando viveu em Milão.
Não era fácil fazer o sistema funcionar, havia o problema com os mosquitos e, nos anos 1800, esse conjunto de canais estava em desuso.
Nos anos 1930, a rede, abandonada, foi quase que totalmente coberta (além dos mencionados, resta ainda o Naviglio Martesana, na área nordeste da cidade).

FUTURISMO FRUSTRADO
Avessos a coisas antigas e adversários de tudo que aludisse ao romantismo, os futuristas odiavam os Navigli.
E mesmo agora, numa casa situada no número 23 do corso Venezia, uma placa registra que o pintor e escultor Filippo Tommaso Marinetti, líder desse movimento artístico, fundou ali a revista "Poesia" e que, no mesmo lugar, em 1905, registrou o seu "repúdio à luz da lua espelhada nos Navigli".
Marinetti, aliás, dizia também que um ferro elétrico (aquele de passar roupas) era mais bonito que a clássica estátua grega Vitória de Samotrácia e, de troça, sugeria até o asfaltamento em Veneza, do Grande Canal.
Gosto não se discute, mas ainda bem que os canais de Milão não sumiram por completo. Assim, os turistas e os casais enamorados ainda podem admirar o luar nos Navigli de Milão, idem à beira do Grande Canal veneziano. Podem também curtir Bruges ou Amsterdã, passeando por ali numa lua de mel, como sugere esta edição da Folha.


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