São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2007

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DESTINO BRASIL/SE

Gavião abana, se finge de morto e salva vida do dono

José Percílio, 30, que ganhou a primeira ave aos sete anos, hoje tem mais de 300 delas sob seus cuidados

DO ENVIADO ESPECIAL A SERGIPE

Aos sete anos, José Percílio Mendonça Costa, 30, ganhou um ovo de presente de um lenhador. Sem saber do que se tratava, colocou-o para chocar no ninho de uma galinha. Foram 28 dias de espera até o nascimento de Tito, um carcará, que hoje tem 23 anos e é o seu amigo mais antigo.
Autodidata na arte de cuidar de aves, Percílio hoje cuida de cerca de 300 delas, dentre falcões, gaviões, corujas, pombas e seriemas, totalizando 29 espécies. Com o apoio do Ibama, ele fundou o Parque dos Falcões, que fica entre os municípios de Areia Branca e Itabaiana, a 46 km de Aracaju. Dedica-se à recuperação de aves machucadas, ao adestramento e à reprodução em cativeiro. É o primeiro centro de conservação de aves de rapina na América Latina.
Dentre essas aves, há algumas raridades: ele possui o menor falcão, o menor gavião e a menor coruja do Brasil, além de espécies ameaçadas de extinção, como o gavião-pato. Além de Tito, há mais 29 aves adestradas (12 falcões e 17 gaviões). Elas ficam presas em árvores em seu quintal e possuem uma rotina digna de um atleta. Têm hora para voar, tomar banho, comer, descansar.
Segundo ele, a técnica utilizada para o adestramento é a "amizade". Em apenas 15 dias, ele adestra um falcão selvagem. Seu entrosamento com as aves é grande: "Se eu estiver com calor, bato palmas e o falcão Dedé vem me abanar". É impressionante a facilidade com que ele consegue segurar uma ave dessas no colo, fazê-la se fingir de morta e levantá-la pelo bico.
Dedé já salvou a vida dele três vezes. Na primeira, o falcão afastou um cão raivoso com vôos rasantes, gritos e bicadas.
Depois, descobriu uma cobra próxima ao dono e, na terceira vez, pousou em sua cabeça e começou a bater as asas para afastar um enxame de abelhas. Antes da era do celular, Percílio comunicava-se com a mãe, que mora do outro lado da serra, há cerca de 4 km, por meio de pombos-correio. Ainda troca dinheiro e remédios com ela.
O visitante não é saudado por cachorros, mas por corujas. A primeira dá um grito de aviso e, caso o intruso chegue sozinho muito perto da casa, "outra vem e dá um cascudo".
Além de turistas e estudantes de biologia, Percílio recebe índios atrás de penas, utilizadas como enfeites para seus cocares. Ele recolhe e doa as penas que as aves expelem naturalmente durante a muda.
Percílio é referência quando o assunto é aves de rapina. Sua experiência dispensa o diploma. Há dois documentários sobre seu trabalho. Ele costuma ser convidado para dar palestras em colégios e faculdades.
Uma vez esteve no Rio Grande do Sul para dar um curso sobre manejo de aves, durante 15 dias, e quase endoidou de saudades. Por isso, não foi para o Japão, onde ficaria seis meses dando um curso semelhante.
Quem conhece sua paixão pelas aves entende o porquê.
Ele já viu "Os Pássaros", de Alfred Hitchcock? "Ainda não, mas todo mundo me pergunta isso." (LEONARDO WEN)

PARQUE DOS FALCÕES
Visitas devem ser agendadas pelo tel.: 0/xx/79/9131-3496; ingresso: R$ 10


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