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DESTINO BRASIL/SE
Gavião abana, se finge de morto e salva vida do dono
José Percílio, 30, que ganhou a primeira ave aos sete anos, hoje tem mais de 300 delas sob seus cuidados
DO ENVIADO ESPECIAL A SERGIPE
Aos sete anos, José Percílio
Mendonça Costa, 30, ganhou
um ovo de presente de um lenhador. Sem saber do que se
tratava, colocou-o para chocar
no ninho de uma galinha. Foram 28 dias de espera até o nascimento de Tito, um carcará,
que hoje tem 23 anos e é o seu
amigo mais antigo.
Autodidata na arte de cuidar
de aves, Percílio hoje cuida de
cerca de 300 delas, dentre falcões, gaviões, corujas, pombas e
seriemas, totalizando 29 espécies. Com o apoio do Ibama, ele
fundou o Parque dos Falcões,
que fica entre os municípios de
Areia Branca e Itabaiana, a 46
km de Aracaju. Dedica-se à recuperação de aves machucadas,
ao adestramento e à reprodução em cativeiro. É o primeiro
centro de conservação de aves
de rapina na América Latina.
Dentre essas aves, há algumas raridades: ele possui o menor falcão, o menor gavião e a
menor coruja do Brasil, além de
espécies ameaçadas de extinção, como o gavião-pato.
Além de Tito, há mais 29 aves
adestradas (12 falcões e 17 gaviões). Elas ficam presas em árvores em seu quintal e possuem
uma rotina digna de um atleta.
Têm hora para voar, tomar banho, comer, descansar.
Segundo ele, a técnica utilizada para o adestramento é a
"amizade". Em apenas 15 dias,
ele adestra um falcão selvagem.
Seu entrosamento com as aves
é grande: "Se eu estiver com calor, bato palmas e o falcão Dedé
vem me abanar". É impressionante a facilidade com que ele
consegue segurar uma ave dessas no colo, fazê-la se fingir de
morta e levantá-la pelo bico.
Dedé já salvou a vida dele três
vezes. Na primeira, o falcão
afastou um cão raivoso com
vôos rasantes, gritos e bicadas.
Depois, descobriu uma cobra
próxima ao dono e, na terceira
vez, pousou em sua cabeça e começou a bater as asas para afastar um enxame de abelhas.
Antes da era do celular, Percílio comunicava-se com a mãe,
que mora do outro lado da serra, há cerca de 4 km, por meio
de pombos-correio. Ainda troca dinheiro e remédios com ela.
O visitante não é saudado por
cachorros, mas por corujas. A
primeira dá um grito de aviso e,
caso o intruso chegue sozinho
muito perto da casa, "outra
vem e dá um cascudo".
Além de turistas e estudantes
de biologia, Percílio recebe índios atrás de penas, utilizadas
como enfeites para seus cocares. Ele recolhe e doa as penas
que as aves expelem naturalmente durante a muda.
Percílio é referência quando
o assunto é aves de rapina. Sua
experiência dispensa o diploma. Há dois documentários sobre seu trabalho. Ele costuma
ser convidado para dar palestras em colégios e faculdades.
Uma vez esteve no Rio Grande
do Sul para dar um curso sobre
manejo de aves, durante 15
dias, e quase endoidou de saudades. Por isso, não foi para o
Japão, onde ficaria seis meses
dando um curso semelhante.
Quem conhece sua paixão pelas
aves entende o porquê.
Ele já viu "Os Pássaros", de
Alfred Hitchcock? "Ainda não,
mas todo mundo me pergunta
isso."
(LEONARDO WEN)
PARQUE DOS FALCÕES
Visitas devem ser agendadas pelo
tel.: 0/xx/79/9131-3496; ingresso:
R$ 10
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