São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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Gantois é Vaticano da Roma Negra

DO ENVIADO ESPECIAL

A beleza do mundo está no Gantois, cantou Dorival Caymmi na "Oração de Mãe Menininha" (1972). Bem divulgado turisticamente, mas nem por isso menos autêntico e cativante, o Gantois, na Roma Negra que é Salvador, perfaz uma espécie de imprescindível Vaticano baiano.
Situado no bairro da Federação, o terreiro de candomblé mais afamado do país foi capitaneado entre 1926 e 1986 por Escolástica Maria da Conceição Nazaré, a mãe Menininha (1894-1986), e hoje é regido por mãe Carmem, sua filha. Notabilizou-se pelos freqüentadores ilustres e poderosos: entre eles, Jorge Amado e Antonio Carlos Magalhães.
Desde a sua fundação por Maria Júlia da Conceição Nazaré em 1849, o Ilê Iyá Omin Axé Iyamassê (o nome Gantois evoca a antiga família dona do terreno) foi sempre dirigido por mulheres da mesma família. Maria Júlia integrava o Ilê Iyanassô, a Casa Branca do Engenho Velho hoje ainda em atividade, quando perdeu a disputa da sucessão e decidiu inaugurar domínio próprio.
O ideal é tentar descobrir as datas das festas abertas ao público não-iniciado (rua Mãe Menininha do Gantois, 23, tel. 0/xx/71/ 331-9231). A Folha acompanhou duas celebrações: a de Omolu (sincretizado com são Lázaro, são Roque e, algumas vezes, com são Sebastião) e outra dedicada ao dual Ibeji (no sincretismo, os gêmeos Cosme e Damião).
A primeira, hierática, solene, foi dedicada ao orixá das pragas e das doenças, que se manifesta por uma dança dolorosa e com o rosto coberto por uma palha que lhe oculta a lepra. No Dia das Crianças, que ocuparam o recinto em massa, Ibeji foi festejado com um tom dionisíaco, zombeteiro. Detalhe fundamental para antes da partida para o candomblé: os homens ali presentes devem sempre usar calça comprida. (PID)


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