São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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ALEMANHA

Obras do projeto que deve reerguer setor do muro em ocasião do 15º aniversário de sua queda já foram iniciadas

Memorial do Muro gera protesto em Berlim

TONY PATERSON
DO INDEPENDENT

A reconstrução de uma parte do Muro de Berlim, no centro da capital alemã, está causando uma tempestade de protestos de políticos, de historiadores e de antigas vítimas do comunismo que alegam que o projeto tem traços de Disneylândia. A idéia de refazê-lo foi lançada por um museu privado que pretende criar o Memorial do Muro na cidade, coincidindo com o 15º aniversário de sua queda, que será celebrado em 10 de novembro deste ano. A decisão reacende o debate sobre a necessidade de a capital alemã ter um memorial do Muro de Berlim autêntico e permanente.
Trabalhadores já estão reinstalando 120 seções da antiga barreira em um local perto do "Checkpoint Charlie", o antigo posto militar de checagem entre o que, antes de 1989, dividia Berlim Oriental e Berlim Ocidental.
"A questão é construir um memorial para que as pessoas nunca se esqueçam [do Muro]", disse Alexandra Hildebrandt, diretora do Museu de Checagem Charlie, responsável pelo projeto.
Dezenas de vendedores de suvenires que utilizam o espaço como um mercado de troca de objetos da época do comunismo para turistas estão sendo obrigados a deixar o local para que o projeto seja desenvolvido. Eles serão substituídos por 120 seções do concreto original do antigo muro, que será decorado por artistas norte-coreanos, sul-coreanos, israelenses e palestinos.
"Esses países também sofreram a experiência da divisão", diz Hildebrandt. O museu arrendou o local até o final do ano. "Nós devemos brigar para manter o memorial pelo maior tempo possível."
Porém a ausência de torres de vigilância, de arame farpado, da então chamada faixa da morte e sobretudo dos tiros de Kalashnikov dos soldados alemães na fronteira, que tinham ordem de atirar nos desertores para o lado ocidental, têm enfurecido muitas das vítimas do antigo regime comunista. Eles dizem que o projeto não fez nada para informar as pessoas de que mais de mil alemães orientais foram mortos tentando escapar para o lado ocidental durante o comunismo.
Peter Hussock, 61, um cidadão da antiga Alemanha Oriental que foi encarcerado ao tentar escapar para o Ocidente disse: "O muro reconstruído não tem nada a ver com a coisa real, é preocupante ver a verdade distorcida dessa maneira".
Segundo Walter Momper, antigo prefeito de Berlim Ocidental à época que o Muro veio abaixo em 1989, "o Muro era um instrumento de assassinato não uma atração turística". "Existem alguns lugares em Berlim onde ele ainda está de pé. Autêntico. O resto é Disneylândia", acrescentou.
A maioria dos turistas que visitam a nova locação do Muro é favorável ao projeto apresentado na semana passada. O casal londrino Renate e Oliver Farley disse achar "maravilhoso que um memorial para o Muro seja colocado nesse local".
Para críticos como Hubertus Knabe, do Museu Stasi, que representa mais de 250 mil vítimas do comunismo da Alemanha Oriental, "o Muro de Berlim foi uma monstruosidade, mas esse projeto o faz inofensivo e banal. Qualquer jovem olhando para ele pensaria: "Do que os alemães orientais tinham tanto medo?'". "O que precisamos é um um memorial adequado que revele o completo horror do Muro", diz.


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