São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2004

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TURISTA APRENDIZ

Viagens de estudo do meio despertam interesse nos alunos e fortalecem amizades

Tour educacional integra currículos

MARISTELA DO VALLE
DA REPORTAGEM LOCAL

Viagem de estudo do meio, turismo pedagógico ou educacional, as antigamente chamadas excursões escolares agora têm esses nomes pomposos para deixar nítido aos pais e aos alunos que se trata de mais um recurso para o aprendizado, e não simples saídas de lazer -embora em certos casos as escolas adotem também esse tipo de programa, visando principalmente a integração.
"É importante que o projeto pedagógico da escola esteja muito claro para garantir a qualidade da viagem", afirma Elvira Maria Godinho Aranha, coordenadora pedagógica de quintas e sextas séries do Colégio Rainha da Paz.
As saídas costumam se adequar ao currículo anual de cada série, com a vantagem de misturar várias disciplinas. Normalmente as viagens incluem uma preparação anterior em classe, com aulas teóricas sobre o que vai ser visto, e um trabalho na volta. "A vivência em campo é uma ferramenta muito forte e útil para o professor", comenta Demian Topel, sócio-proprietário da Terra Nativa, operadora especializada nesse tipo de viagem.
A diretora-geral do colégio Oswald de Andrade-Caravelas, Maria de Lourdes Trevisan, diz perceber um envolvimento muito grande dos alunos em tudo o que diz respeito a viagens de estudo do meio. Em geral, a garotada aprova esse método de ensino.
"Saindo do ambiente escolar, você aprende de um jeito muito mais descontraído", comenta Vera Bain, 15, aluna do colégio I. L. Peretz, que foi para Goiás no ano passado. "Quando você vê, não tem erro, é aquilo mesmo."
Muitas escolas exigem, durante a pesquisa in loco, o preenchimento de apostilas, que podem ser formuladas pela própria escola, pela operadora que organiza a viagem ou por ambas em conjunto. Porém a eficácia do procedimento é discutível. "Os estudantes já vivem com papel em classe. Em campo, eles têm que sujar a mão", opina Ana Lucia Ugrinovich, dona da operadora Uggi. Para ela, mais importante do que estudar as disciplinas é o aluno viver novas sensações e vencer desafios. "Se chover, melhor. Hoje ninguém mais toma chuva."
Mas as novas experiências acontecem mesmo em saídas carregadas de conteúdo. "Os alunos acham muito divertido o banho de lama no mangue [da região de Parati]. É a coisa mais esperada da viagem", comenta Cecília Lennan, orientadora pedagógica de quinta a oitava série do Madre Alix, referindo-se a uma viagem para estudar o ecossistema do manguezal.
Fora da escola, os estudantes têm a oportunidade de observar os limites de outros espaços, na opinião de Maria Celina Cattini, diretoria da unidade do Morumbi do Colégio Visconde do Porto Seguro, que, porém, não tem mais realizado saídas com pernoite porque, segundo ela, os pais têm reclamado dos seus custos.
O auto-conhecimento e o trabalho de valores de cidadania como respeito e sociabilidade estão entre os objetivos da Escola da Granja Viana ao organizar essas viagens, segundo sua proprietária, Odete Leiko Nakassima.
Nesse contexto, o envolvimento do grupo marca os estudantes. Para Bruno Villamea Santos, 16, o mais importante da sua viagem para as escolas da Natureza e do Mar do colégio Objetivo, onde estuda, foi ter aprendido a fazer amizades. "Eu era um pouco isolado."
Esse aspecto também marcou a estudante Isabella Affonso, 16, que em 2001, quando estava na oitava série, foi para as serras gaúchas com os colegas do Instituto Divina Pastora. "Consegui entrar em várias "panelinhas" novas."
O fortalecimento de amizades nessas viagens é muito importante para Fernanda Pasquale, mãe de Luna Pasquale Ghinato, 12, que no ano passado foi para a Fazenda Monjolinho com o Beatíssima. "Não devia ter a opção de não ir. É caro, sacrificado, mas os pais precisam dar um jeito. É muito triste para o aluno ficar de fora."
Normalmente quem fica faz trabalhos paralelos. Mas alguns colégios consideram tão importante esse tipo de viagem que embutem o preço delas na mensalidade escolar, segundo Thiago Vidigal, um dos donos da operadora Chão Nosso. E às vezes os próprios estudantes se solidarizam com quem não pode pagar o programa. Certa vez os alunos da Santo Inácio fizeram rifas e coisas do gênero para pagar a viagem de formatura de oitava série de um colega, segundo a diretora-geral Beka Kuri. "Ele ficou muito feliz."


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