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TURISTA APRENDIZ
Combinar as regras de convivência antes da partida ajudar a manter a linha
Quem apronta pode voltar para casa
DA REPORTAGEM LOCAL
Cantoria no ônibus, guerra de
travesseiro, muita bagunça.
Quem nunca se divertiu assim
com os amigos quando era criança ou adolescente? Leika Ejiri, 16,
e os colegas do Colégio Bandeirantes voltaram da Amazônia no
ano passado entoando no avião,
entre outras canções, a irritante
"Um elefante incomoda muita
gente..." Certamente a turma de
Leika incomodou muita gente e
até entendeu por que os companheiros de vôo se recusaram a fazer uma ola no fim da trajeto.
"O adolescente é barulhento
por natureza e não tem noção do
volume da sua voz", diz Paulo
Marcos Ragnole Silva, dono da
operadora Quíron, que sempre
tenta manter os estudantes isolados dos outros hóspedes ao fazer
a reserva de um hotel.
A solução adotada por alguns
colégios para manter os alunos na
linha é formular junto com eles as
regras de convivência antes da
viagem. E, segundo as escolas, o
esquema dá certo. "Quando a
gente combina junto, fica tudo
mais fácil", comenta Cecília Lennan, do colégio Madre Alix. "Trata-se de um exercício de democracia." A orientadora direciona o
debate a partir de sugestões feitas
pelas próprias crianças, que nem
sempre são acatadas. Segundo
ela, muitos levantam a possibilidade de levar televisão ou bateria.
Também faz parte das leis da
viagem ressarcir o hotel ou a empresa de ônibus quando se quebra
algo. "Eu detecto na hora o responsável e vou com ele pedir desculpas para o proprietário", diz
Cecília. Nem sempre alguma coisa se quebra por causa do mau
comportamento de um aluno.
Uma vez um gordinho quebrou
uma cadeira de plástico numa
viagem organizada pela Uggi, e o
grupo fez uma vaquinha para pagá-la, lembra a proprietária da
empresa, Ana Lucia Ugrinovich.
Decisão da escola
Seja qual for o problema relacionado a comportamento, as operadoras especializadas em viagens
pedagógicas costumam deixar a
decisão sobre o que fazer com o
aluno indisciplinado a cargo da
escola, pois os professores que
acompanham os grupos conhecem os estudantes. Na opinião de
Paulo César Ardison Oliveira, dono da Meeting Way, o apoio da
escola é fundamental. "Já ouvi
muito a frase "meu filho não mente", diz, referindo-se a alunos que
não assumem seu mau comportamento para os pais.
"Disciplina e segurança estão
intimamente ligadas", comenta
Demian Topel, da Terra Nativa.
Oliveira concorda. Para ele, quem
põe em risco a sua vida ou a do colega tem que voltar para casa. Em
viagens organizadas pela empresa, isso já aconteceu com um garoto prestes a jogar suco em pó na
caixa-d'água de um acampamento e com outro que tirou o estrado
da cama do amigo mantendo o
colchão na posição normal, podendo machucá-lo.
Numa saída coordenada pela
Chão Nosso, um estudante encheu a bagagem de fogos de artifício e foi suspenso pela escola. "Os
fogos poderiam ter estourado e
todo mundo podia ter morrido",
lembra Thiago Vidigal Cavalcanti
de Lacerda, um dos proprietários
da empresa, espécie de braço pedagógico da operadora Biotrip.
Nem sempre o comportamento
indisciplinar pode ter conseqüências tão graves. Certa vez o dono
de um hotel de uma viagem organizada pela Quíron fechou o
quarto de alguns estudantes por
causa do caos existente lá dentro,
segundo Silva, incluindo paredes
imundas. "Os alunos pediram
desculpas, arrumaram tudo e deixaram o quarto até melhor do que
estava antes", lembra o proprietário da operadora.
Para resolver problemas de
comportamento, não adianta medir forças com os alunos, na opinião de Oliveira, da Meeting Way.
"O grande lance é conversar. A
queda de braço não leva a nada."
Às vezes a própria forma como
os monitores e os professores tratam os alunos influi no seu comportamento. Bruno Villamea
Santos, 16, que viajou para as escolas do Objetivo de Angra dos
Reis e de Manaus, diz que "o pessoal é tão legal que você fica com
pena de bagunçar".
Professores e monitores ficam
em vigília quase o tempo todo. Segundo as escolas e as operadoras,
eles dormem depois dos alunos,
levantam-se antes deles e mal têm
tempo de comer.
Quando não existe algum professor da escola por perto, a coisa
pode desandar. Como aconteceu
há alguns anos numa viagem organizada pela Ambiental na qual
se assistiu a um "recorde de jogar
controles remotos na piscina do
hotel", segundo um dos donos da
operadora, Israel Waligora. "A
gente nunca mais trabalha com
essa escola."
(MARISTELA DO VALLE)
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