São Paulo, quinta-feira, 22 de outubro de 2009

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MODERNA E TRADICIONAL
Região convida a desacelerar, com cenário de cavernas e morros intocados em que tudo parece primitivo

Guilin é oposto da imagem vendida hoje pela China

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Imagine o Pão de Açúcar, o Corcovado e o morro Dois Irmãos, todos no Rio Janeiro. Multiplique por cem esses picos, ponha um rio costurando os morros, tire a maior parte da população, dos prédios e dos carros e você começa a ter uma ideia aproximada do que é Guilin, um dos cenários mais atordoantes da China.
Guilin (pronuncia-se Gu-i-lin) é o oposto da imagem que a China vende ao mundo hoje, de potência do século 21.
Ali, tudo soa primitivo -morros intocados, cavernas, rios de águas puras, pescadores com jangadas de bambus, búfalos puxando arado nas plantações de arroz.
O escritor e jornalista americano Jasper Becker diz que até há 20 anos era possível encontrar gente vivendo nas cavernas perto do rio Li.
É de autoria dele uma das melhores definições do que era Guilin há três décadas: "O mais pobre dos pobres passa fome rodeado pelo cenário mais bonito do mundo".
A fome, ao que tudo indica, virou coisa do passado. Mas foram a miséria e a distância do poder que mantiveram praticamente intacta a paisagem.
O acúmulo de montanhas a perder de vista dá um efeito tão extraterrestre à região que ela foi parar no cinema. O diretor George Lucas usou o cenário como o planeta Kashyyyk em "Star Wars - Episódio 3 - A Vingança dos Sith" (2005).
Culturalmente, a região de Guilin, no sul do país, parece mais próxima do Vietnã do que do interior chinês. A razão é a proximidade -Guilin fica a cerca de 700 quilômetros da fronteira do Vietnã. Os chineses daquela região são mais magros e morenos do que os nascidos no norte.

Cruzeiro
A maneira mais tranquila de conhecer a região é fazer um cruzeiro pelo rio Li.
O trajeto, que tem 80 quilômetros, aproximadamente, é demorado: leva cerca de cinco horas. Mas vale a pena.
E não é somente no cenário que se vê uma China que ficou intocada pela vertigem industrial. As pessoas também são de outro mundo.

Pescando com pássaros
O rio Li é um dos poucos lugares da China onde há pescadores que adestram um pássaro chamado cormorão, com o objetivo de ensiná-lo a pescar.
Os pássaros ficam presos numa corrente ou corda, a qual é puxada assim que o pássaro bica o peixe -o enforcamento evita que ele coma o pescado. Mas, mesmo em Guilin, os pescadores que usam cormorão estão em extinção.

E com bambus
Pescadores também usam jangadas feitas com seis ou sete bambus grossos. Mas já começa a aparecer uma versão moderna do bambu, feita de fibra de vidro, horrível quando comparada com a original.
A região de Guilin, que fica a oeste do rio Li, tem uma variedade étnica que choca quem está acostumado com o chinês de Cantão que imigrou para São Paulo. Há pelo menos uma dúzia de minorias, entre as quais os yao e os dong.
Os mais diferentes são alguns moradores das montanhas. Pequeninos e simpáticos, por vezes eles parecem os hobbits de "O Senhor dos Anéis".


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