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MODERNA E TRADICIONAL
Região convida a desacelerar, com cenário de cavernas e morros intocados em que tudo parece primitivo
Guilin é oposto da imagem vendida hoje pela China
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Imagine o Pão de Açúcar, o
Corcovado e o morro Dois Irmãos, todos no Rio Janeiro.
Multiplique por cem esses picos, ponha um rio costurando
os morros, tire a maior parte da
população, dos prédios e dos
carros e você começa a ter uma
ideia aproximada do que é Guilin, um dos cenários mais atordoantes da China.
Guilin (pronuncia-se Gu-i-lin) é o oposto da imagem que a
China vende ao mundo hoje, de
potência do século 21.
Ali, tudo soa primitivo
-morros intocados, cavernas,
rios de águas puras, pescadores
com jangadas de bambus, búfalos puxando arado nas plantações de arroz.
O escritor e jornalista americano Jasper Becker diz que até
há 20 anos era possível encontrar gente vivendo nas cavernas
perto do rio Li.
É de autoria dele uma das
melhores definições do que era
Guilin há três décadas: "O mais
pobre dos pobres passa fome
rodeado pelo cenário mais bonito do mundo".
A fome, ao que tudo indica,
virou coisa do passado. Mas foram a miséria e a distância do
poder que mantiveram praticamente intacta a paisagem.
O acúmulo de montanhas a
perder de vista dá um efeito tão
extraterrestre à região que ela
foi parar no cinema. O diretor
George Lucas usou o cenário
como o planeta Kashyyyk em
"Star Wars - Episódio 3 - A Vingança dos Sith" (2005).
Culturalmente, a região de
Guilin, no sul do país, parece
mais próxima do Vietnã do que
do interior chinês. A razão é a
proximidade -Guilin fica a
cerca de 700 quilômetros da
fronteira do Vietnã. Os chineses daquela região são mais magros e morenos do que os nascidos no norte.
Cruzeiro
A maneira mais tranquila de
conhecer a região é fazer um
cruzeiro pelo rio Li.
O trajeto, que tem 80 quilômetros, aproximadamente, é
demorado: leva cerca de cinco
horas. Mas vale a pena.
E não é somente no cenário
que se vê uma China que ficou
intocada pela vertigem industrial. As pessoas também são de
outro mundo.
Pescando com pássaros
O rio Li é um dos poucos lugares da China onde há pescadores que adestram um pássaro chamado cormorão, com o
objetivo de ensiná-lo a pescar.
Os pássaros ficam presos numa corrente ou corda, a qual é
puxada assim que o pássaro bica o peixe -o enforcamento
evita que ele coma o pescado.
Mas, mesmo em Guilin, os pescadores que usam cormorão estão em extinção.
E com bambus
Pescadores também usam
jangadas feitas com seis ou sete
bambus grossos. Mas já começa
a aparecer uma versão moderna do bambu, feita de fibra de
vidro, horrível quando comparada com a original.
A região de Guilin, que fica a
oeste do rio Li, tem uma variedade étnica que choca quem está acostumado com o chinês de
Cantão que imigrou para São
Paulo. Há pelo menos uma dúzia de minorias, entre as quais
os yao e os dong.
Os mais diferentes são alguns
moradores das montanhas. Pequeninos e simpáticos, por vezes eles parecem os hobbits de
"O Senhor dos Anéis".
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