São Paulo, quinta-feira, 22 de outubro de 2009

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MODERNA E TRADICIONAL
Construções como o novo aeroporto e o prédio da CCTV são convincentes demonstrações de progresso

Pequim coloca arquitetura contemporânea no roteiro

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Com a Grande Muralha e a Cidade Proibida como cartões-postais, surpreende que a arquitetura contemporânea possa estar no topo de qualquer roteiro na capital chinesa.
Mas o atual Partido Comunista, com os antigos imperadores, sabem que construções ousadas e gigantes são convincentes demonstrações de progresso para seus súditos.
O novo aeroporto, que lembra a cauda de um dragão desenhado pelo arquiteto britânico Norman Foster (com orçamento de US$ 3,6 bi), é o cartão de boas-vindas.
Pela cidade, há a polêmica nova ópera, um ovo revestido de titânio enterrado em um largo artificial - saído da prancheta do francês Paul Andreu (US$ 400 milhões), e o Estádio Olímpico, Ninho de Passarinho, assinado pelos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron (US$ 430 mi).
Ainda incompleta, a nova sede da rede estatal CCTV provoca deslocamento do queixo. São duas torres de 54 andares inclinadas, que criam um arco distorcido unido nas alturas e na base, saído da mente fértil do holandês Rem Koolhaas (a obra deve sair por US$ 1 bilhão)
Mesmo depois da euforia olímpica, que ainda rendeu o ginásio de natação "Cubo d'água" (do escritório australiano PTW), novos prédios não param de ser acrescentados à paisagem urbana, como a nova Biblioteca Nacional, do escritório alemão Engel e Zimmermann, e o Museu da Capital, do francês Jean-Marie Duthilleul.
Essas obras foram feitas por concurso internacional. Depois de décadas de isolamento e crise econômica, os comunistas deixaram o nacionalismo de lado e foram atrás dos melhores arquitetos do mundo. Jovens chineses colaboram com as estrelas internacionais, maneira local de transferir expertise.

Arquitetura pirata
Com tantas obras icônicas, a arquitetura já deixou os gabinetes palacianos e foi adotada entre os construtores da nova China. Dos edifícios residenciais e de escritórios aos shopping centers, o que for convencional (ou passadista) está praticamente vetado.
O conglomerado empresarial Poly Group construiu sua nova sede de 100 mil metros quadrados com o escritório americano SOM. Sem nenhuma coluna, o lobby é iluminado naturalmente por uma cortina de vidro de 90 metros de altura.
Quase vizinha, a sede da companhia petrolífera CNOOC, do escritório americano KPF, lembra a proa de um navio (ou um barril de petróleo feito de vidro, segundo a observação popular).
A atual tendência que se espalha em Pequim é a de grandes complexos que misturam apartamentos e escritórios, com restaurantes e lojas no térreo (como o paulistano Conjunto Nacional, na avenida Paulista, em São Paulo).
A construtora MoMa fez um condomínio de oito torres ligadas por pontes com o americano Steven Holl e sua concorrente, Soho, já fez seis desses complexos, onde não há muros ou grades - as áreas internas e ajardinadas se misturam com o espaço público.
A mesma empreiteira fez o primeiro complexo arquitetônico que colocou a China no mapa da arquitetura contemporânea Mundial, na vizinhança da Grande Muralha, em Badaling, a 70 km de Pequim.
Chamado de "Comuna da Grande Muralha", é um conjunto de 12 casas desenhadas por grandes arquitetos asiáticos, como os japoneses Shigeru Ban e Kengo Kuma.
A obra foi premiada com o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza e virou um hotel seis estrelas. Empolgados com o sucesso da obra, os empreiteiros não tiveram dúvida: construíram 12 réplicas, de qualidade muito inferior, no terreno, para poder abrigar mais hóspedes. Sinal de sua grife, a arquitetura já é pirateada em Pequim.


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