São Paulo, quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

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Trem segue roteiro antes percorrido com camelos

Árido, deserto é visto do vagão do The Ghan

ENVIADO AO DESERTO AUSTRALIANO

Ele não é o trem-bala francês TGV ou o AVE, o Alta Velocidade Espanhola, mas, logo no embarque, o fiscal de vagão Ben Carty empolga os passageiros: "Preparem-se para uma das maiores viagens ferroviárias do mundo".
E não exagera. Com duas partidas semanais, uma de norte a sul, outra no sentido inverso, o comboio percorre 2.979 km entre a tropical Darwin e a temperada Adelaide, distância equivalente a São Paulo e Natal (RN).
A jornada no trem The Ghan, assim batizado em homenagem aos nômades afegãos que, no passado, fizeram essa rota a camelo, dura três dias e duas noites.
Tão logo o trem parte de Darwin, não demoram alguns minutos para que os sinais de civilização fiquem para trás. Em horas e horas de viagem não se veem fazendas nem estradas, tampouco animais selvagens.
É o "outback", o deserto árido, remoto e avermelhado que, de tão seco, é chamado, num certo ponto, de "moonwalk", alusão à superfície da lua. Por ali, não há nada além de pedregulho.
Aos 400 passageiros desse comboio gigante de 700 metros de comprimento, 26 vagões e 100 km/h, só resta contemplar a paisagem.
Como nos aviões, o trem é dividido em classes, das poltronas econômicas (US$ 358) à primeira classe (US$ 1.946).
Como nos navios, o comboio faz algumas paradas, onde é possível descer e tomar passeios locais. Uma das escalas é em Alice Spring, de onde partem excursões para o Uluru, também conhecido como Ayers Rock.
Para os aborígenes, o gigantesco rochedo vermelho -o maior monólito do mundo, com 3,6 km de extensão, 2,4 km de largura e que atinge 348 metros no ponto mais alto-, é o centro da Terra.
Escalá-lo ofende o povo nativo australiano, vai de encontro às suas crenças espirituais de que aquela região possui uma energia que vem de seus ancestrais.
Apesar do número crescente de visitantes, cada vez menos turistas escalam o Uluru. Todos os anos há casos de mortes em quedas ao longo da subida, ou de infarto. O calor passa de 45º.
"Foi aqui, no Uluru, que cerimônias uniram antigas tribos rivais", explica o guia aborígene Doug Taylor.
De volta ao trem, o serviço de bordo varia segundo a classe. Na econômica é comum os passageiros levarem a própria comida ou comprarem as refeições no bar.
Na executiva, os turistas fazem as refeições em pratos de louça e guardanapos de pano, tudo incluído no preço da passagem.
A importância da rota percorrida pelo trem The Ghan é tanta que um museu foi montado em Alice Springs para relatar, por meio de uma coleção de objetos, sua história, iniciada em 1929.
(VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO)


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