São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

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DE OLHO NA PARAÍBA

Comunidade hippie mostra seu modo de vida a turistas que mergulham na argila e são rebatizados

Passeio bicho-grilo termina com todos nus

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA PARAÍBA

O clima é meio "bicho-grilo" e não tem nada a ver com praia, embora o tradicional banho não fique de fora. Só que, em vez da água, entra o banho de argila branca e, no lugar do mar, entram piscinas de água límpida.
A visita à fazenda Aldeia Flor D'Água, onde vivem 16 famílias, na vila Gurugy (um antigo quilombo), a 4 km da praia de Jacumã, é uma atração inusitada.
O ponto de partida é a oca erguida pelo paraense Julio Lisboa de Magalhães, o Julíndio, morador do local e guia da "aldeia".
As paredes são de madeira e barro com garrafas. O telhado é de palha de coqueiro. Na entrada, uma rede faz as vezes de porta. O chuveiro é uma panela furada.
Na oca, acontece, à noite, o ritual de iniciação ao naturismo, prática comum por ali, com fogueira, incenso, velas e danças.
"Cada participante tem que atirar um pedaço de si (unha, cabelo, etc.) ao fogo para se libertar da matéria. Depois todos caminham pelados pela mata e se pintam com argila e urucum", explica Julíndio. O ritual não está incluído no passeio, que é de manhã.
Dá para seguir uma trilha longa ou uma curta. Ambas passam pela mata ciliar e levam ao banho de argila. O solo se torna mais úmido, por conta das nascentes de água pura. Na primeira parada, Julíndio pede a todos que fiquem de cócoras e de olhos fechados para ouvir a mata. O passeio intensifica o contato com a natureza.
Chega-se à "piscina" de argila branca. Depois de pisar a "lama", o grupo se lambuza à vontade. Então é a hora de tirar a argila do corpo em um lago. A parada seguinte é um cajueiro. Uma placa avisa: a partir desse ponto, só se pode prosseguir sem roupa.
Se não se sentir à vontade, o visitante pode esperar a turma voltar. Após o cajueiro, fica a Panela da Vida, lago que alterna água gelada e morna, e o banho do Beija-flor, junção de todas as águas da fazenda. Lá os participantes são batizados com nomes indígenas. A professora italiana Beta Romano, que mora em João Pessoa, virou Iauí, que significa "gota de orvalho".
Ao longo do passeio, Julíndio fala sobre plantas como a tiririca, utilizada pelos índios para cortar os cabelos, e o cajueiro-bravo, cuja folha serve de lixa de unha.
Para o passeio, é possível solicitar um almoço regional ou vegetariano. Em um roteiro criado pelo bugueiro George Jales, o itinerário segue com uma visita à cachaçaria Tambaba, onde aprende-se como é feita a cachaça e degustam-se licores, acompanhados de frutas regionais. Tudo na companhia dos proprietários Antônio Chagas, 72, e Carmita da Silva, 37. A garrafa de 700 ml da cachaça custa R$ 10.
(AUGUSTO PINHEIRO)


Onde - Contatos para o passeio: Julíndio (tel. 0/xx/83/9108-3278) e o bugueiro George Jales (tel. 0/xx/83/9304-7379)

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