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SERRA GAÚCHA
Castelo convida à imersão medievalista
Canivete suíço de 1941, faca egípcia, acha alemã e machado celta integram "arsenal globalizado" do local
DO ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO (RS)
Gilberto Guzenski, 52, não
gosta que palitem os dentes no
seu museu.
É o que ele deixa claro, com
seu forte sotaque gaúcho. E é
por isso que a entrada, antes
gratuita, agora custa R$ 5. Para
tentar evitar que aqueles que
almoçam nos restaurantes próximos façam uma digestão desinteressada por ali, entre os
seus machados, elmos, facas,
espadas, livros e milhares de
brasões de estimação.
Guzenski simpatiza com
quem simpatiza com a heráldica, a arte ou ciência dos brasões. É um tema que ele fuça há
décadas, muito antes de abrir o
Museu Medieval (www.museumedieval.com.br), na virada do século.
"Há 30 anos, ninguém sabia
o que era heráldica. Hoje, há
uma identificação com o que é
medieval. Muito por causa de
videogame e de filmes como
"Cruzadas" (2005) e "Rei Arthur" (2004). São fantasiosos,
mas ajudam a difundir", diz.
O museu fica em um castelo,
e, se um viajante numa noite de
inverno for parar na rua Júlio
Hanke, 94, em Gramado, topará com um Guzenski vestindo
roupas da Idade Média.
Sob encomenda, ele faz brasões de todos os tipos: em pratos de madeira ou de porcelana, em couro, em bronze. Nos
seus arquivos, há mais de 750
mil nomes para isso. O estudo
da genealogia do cliente e um
subseqüente brasão talhado
em madeira custam R$ 85; em
pergaminho, R$ 155.
Arsenal
Outra praia de Guzenski é a
cutelaria, ofício ligado a instrumentos de corte. Autodidata,
ele já fabricava espadas e escudos de madeira para brincar de
luta com seus amigos.
Mais tarde, carregou milhares de quilos de pedra para edificar o castelo que é também a
sua casa. Mas o entusiasmo é
mais seu: "A prefeitura nunca
botou os pés aqui", reclama. E
resmunga, ainda, sobre a falta
de interesse dos brasileiros em
heráldica: "Na Europa, é muito
mais valorizada. Nós perdemos
muito esse vínculo".
O museu tem peças saborosamente inusitadas, como um
elmo inglês do século 14, um canivete suíço de 1941, uma faca
egípcia, uma acha (arma antiga,
que lembra um machado) alemã, um machado celta e por aí
afora. Destaque para uma espada de 1,08 m e quase dois quilos,
réplica da usada em "O Senhor
dos Anéis". Por R$ 480, o visitante encomenda uma.
Por R$ 450, pode encomendar uma espada flamenga; por
R$ 550, uma da Manchúria.
Esses artefatos globalizados
ocupam cinco espaços de exposição, com vitrines para os dois
lados. Guzenski diz que, após
uma reforma, que fará o castelo
"crescer 30 m para trás", haverá mais 25 espaços.
Entre outras atrações, como
demonstrações de cutelaria ao
vivo, um vídeo sobre a construção do local e uma mostra de
armaduras, uniformes históricos e miniaturas de soldados.
A primeira parte da reforma
deve ficar pronta ainda neste
ano. Depois de palitar os dentes, dê uma passada por lá.
(TM)
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