São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SERRA GAÚCHA

Castelo convida à imersão medievalista

Canivete suíço de 1941, faca egípcia, acha alemã e machado celta integram "arsenal globalizado" do local

DO ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO (RS)

Gilberto Guzenski, 52, não gosta que palitem os dentes no seu museu.
É o que ele deixa claro, com seu forte sotaque gaúcho. E é por isso que a entrada, antes gratuita, agora custa R$ 5. Para tentar evitar que aqueles que almoçam nos restaurantes próximos façam uma digestão desinteressada por ali, entre os seus machados, elmos, facas, espadas, livros e milhares de brasões de estimação.
Guzenski simpatiza com quem simpatiza com a heráldica, a arte ou ciência dos brasões. É um tema que ele fuça há décadas, muito antes de abrir o Museu Medieval (www.museumedieval.com.br), na virada do século.
"Há 30 anos, ninguém sabia o que era heráldica. Hoje, há uma identificação com o que é medieval. Muito por causa de videogame e de filmes como "Cruzadas" (2005) e "Rei Arthur" (2004). São fantasiosos, mas ajudam a difundir", diz.
O museu fica em um castelo, e, se um viajante numa noite de inverno for parar na rua Júlio Hanke, 94, em Gramado, topará com um Guzenski vestindo roupas da Idade Média.
Sob encomenda, ele faz brasões de todos os tipos: em pratos de madeira ou de porcelana, em couro, em bronze. Nos seus arquivos, há mais de 750 mil nomes para isso. O estudo da genealogia do cliente e um subseqüente brasão talhado em madeira custam R$ 85; em pergaminho, R$ 155.

Arsenal
Outra praia de Guzenski é a cutelaria, ofício ligado a instrumentos de corte. Autodidata, ele já fabricava espadas e escudos de madeira para brincar de luta com seus amigos.
Mais tarde, carregou milhares de quilos de pedra para edificar o castelo que é também a sua casa. Mas o entusiasmo é mais seu: "A prefeitura nunca botou os pés aqui", reclama. E resmunga, ainda, sobre a falta de interesse dos brasileiros em heráldica: "Na Europa, é muito mais valorizada. Nós perdemos muito esse vínculo".
O museu tem peças saborosamente inusitadas, como um elmo inglês do século 14, um canivete suíço de 1941, uma faca egípcia, uma acha (arma antiga, que lembra um machado) alemã, um machado celta e por aí afora. Destaque para uma espada de 1,08 m e quase dois quilos, réplica da usada em "O Senhor dos Anéis". Por R$ 480, o visitante encomenda uma.
Por R$ 450, pode encomendar uma espada flamenga; por R$ 550, uma da Manchúria.
Esses artefatos globalizados ocupam cinco espaços de exposição, com vitrines para os dois lados. Guzenski diz que, após uma reforma, que fará o castelo "crescer 30 m para trás", haverá mais 25 espaços.
Entre outras atrações, como demonstrações de cutelaria ao vivo, um vídeo sobre a construção do local e uma mostra de armaduras, uniformes históricos e miniaturas de soldados.
A primeira parte da reforma deve ficar pronta ainda neste ano. Depois de palitar os dentes, dê uma passada por lá. (TM)


Texto Anterior: Música gauchesca se avizinha a sons como house ou forró
Próximo Texto: Serra gaúcha: Museu tem Elvis e carro 20 vezes mais pesado que ele
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.