São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2007

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SERRA GAÚCHA

Gastronomia local carece de refinamento

Para crítico, gastronomia regional vive "caricaturização" das suas tradições, e Gramado não foge à regra

DO ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO

Autor de "Estrelas no Céu da Boca -Escritos sobre Culinária e Gastronomia" (2006), o sociólogo Carlos Alberto Dória comentou, a pedido da Folha, a gastronomia de Gramado e do Rio Grande do Sul. (TM)

 

GASTRONOMIA E CULINÁRIA
"Gastronomia é o aperfeiçoamento do prazer de comer. Culinária é simplesmente o comer. Então, a necessidade da gastronomia é sempre acessória, um refinamento da culinária. Não seu aspecto principal."

GRANO DURO
"O Rio Grande do Sul tem uma culinária diversificada, com coisas muito destacadas em termos gastronômicos. Em geral, resquícios da sua colonização variada, da presença forte dos italianos e alemães. Há coisas boas, embutidos, uma tradição "rural" de culinária italiana. Mas há uma carência de modernização que ameaça esse patrimônio. Ainda não se vê, em roteiros como o do Vale dos Vinhedos, a utilização do macarrão de trigo de grano duro, persistindo a massa de menor qualidade, que já foi banida das mesas "gastronômicas" de São Paulo e do Rio de Janeiro."

CARICATURA
"Há em curso uma caricaturização da tradição gaúcha. As cantinas populares, de tradição italiana, imitam a novela "América". O décor, as músicas, a auto-imagem. A televisão comanda a tradição. As pessoas fazem coisas para agradar os turistas."


RARAS EXCEÇÕES
"Gramado não foge à regra. É subitaliana, subalemã. Uma caricatura, em termos culinários, do que as comunidades gaúchas já foram. O resultado é que não se come bem, com raras exceções. Uma delas é uma loja que vende salsichas, na estrada Porto Alegre-Gramado. É a melhor salsicha do Brasil, mas só é vendida ali. Outra exceção é um recente e moderno bistrô, chamado "O Lugar". [Mas] é um bistrô antenado com o mundo, não com a cidade."

CHOCOLATE
"O mundo todo já sabe que, para algo ser chamado de "chocolate", precisa ter, no mínimo, 70% de cacau. Senão nem pode receber a denominação na União Européia. É lei. Em Gramado, ao contrário, o tal doce deve ter, no mínimo, 70% de açúcar. Não existe elaboração de chocolate, mas uma fundição de chocolate industrial à qual são acrescentadas outras coisas. Inclusive, me parece, mais açúcar. Eles são vendidos a preços astronômicos, mais caros do que um bom cacau. É uma enganação, como os chocolates de Campos de Jordão e de Penedo. São todos imitação daquele de Bariloche. Mas os argentinos já deram a volta por cima. Agora fazem o excelente chocolate "Salgado", da Chocolates Fenix, com grand crus que já recebem prêmios internacionais. E eles não produzem uma única baga de cacau! Nós insistimos no equívoco Bariloche, apesar da infra-estrutura chocolateira que existe em Gramado."


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