|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LEGADO RUSSO
Além de poucos motoristas terem carteira há mais de 15 anos, excesso de carros inferniza trânsito no país
Barbeiragem protagoniza cenas urbanas
DO ENVIADO ESPECIAL À RÚSSIA
Esqueçam aquela imagem das
amplas avenidas quase desertas
nas cidades russas. As avenidas
estão igualzinhas, mas hoje quase
todas estão congestionadas.
A produção dos Lada ou dos
Volga não daria conta da demanda. O governo russo então autorizou a importação maciça de carros usados, geralmente da Alemanha. Eles somaram 80% dos veículos estrangeiros que a Rússia
comprou no ano passado.
Moscou, com 10 milhões de habitantes, já tem 2 milhões de carros. Mas, como são poucos os russos que usavam carteira de habilitação há 15 anos, agora é um deus-nos-acuda. Fecha-se o cruzamento e se avança o sinal vermelho
sem a menor cerimônia.
A poluição começa a se tornar
um problema. Afeta a qualidade
de vida nas grandes cidades com
uma parcela invejável -40% em
Moscou- de áreas verdes.
A balbúrdia convive com um
sistema de transporte coletivo
exemplar. Em São Petersburgo, os
bondes e o metrô cobram 6 rublos
por trajeto. Em Moscou, a tarifa é
ainda de 5 rublos (cerca de R$
0,50). Os bondes são frequentes,
para que no inverno ninguém
congele no ponto por mais de
dois minutos. O metrô acompanha esse padrão. Suas linhas circulam a 100 m de profundidade.
Funcionariam como abrigo em
caso de guerra nuclear.
Vida nova
As grandes fortunas são muito
recentes na Rússia. Têm pouco
mais de dez anos. Os muito ricos
frequentam lojas de grife internacional, em que um casaco de pele
custa US$ 7.000 e um par de sapatos, até US$ 700. Há muitos Mercedes 600 pelas ruas.
No pólo oposto, a óbvia pobreza. É comovente ser abordado em
Moscou, num inglês perfeito, por
um homem de meia-idade, malvestido, engenheiro químico desempregado. Pede US$ 2 para comer. Em São Petersburgo, choca a
imagem de um soldado, uniforme
de infantaria, numa cadeira de rodas e duas pernas amputadas no
Afeganistão ou na Tchetchênia.
No peito, ostenta quatro medalhas. A mão está estendida. Pedindo esmola.
O pobre russo é ainda um dependente do Estado. Não entrou
no mercado imobiliário. Mora em
apartamentos públicos, onde calefação (faz 25C negativos no inverno), gás e telefone custam uma
taxa mensal simbólica. Mas é entre eles que ocorre o retrocesso
nos indicadores sociais: diminuição da expectativa de vida, aumento da mortalidade infantil.
Há também crescimento demográfico negativo. Cada casal tem
hoje, em média, só 1,25 filho.
A população que empobreceu
sente saudades do regime anterior. É gente que vota em Zyuganof, chefe do Partido Comunista,
segundo colocado na eleição que
elegeu Vladimir Putin.
Os comunistas são ruidosos.
Com a primavera, encontram-se
junto ao Kremlin, em Moscou,
próximo à estátua do marechal
Georgy Zhukov, comandante do
Exército Vermelho que ocupou
Berlim em 1945. Empunham bandeiras vermelhas e cantam hinos à
glória do proletariado.
(JOÃO BATISTA NATALI)
Texto Anterior: Ibirapuera dá mostra da arte russa Próximo Texto: Russos são rígidos, mas corteses Índice
|