São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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ESTÂNCIA ACIMA

Degustação da bebida em pequenas propriedades da região é acompanhada de bate-papo descontraído

Prosa de produtores dá mais sabor ao vinho

DA ENVIADA ESPECIAL A SERRA NEGRA

O vinho tinto preparado pelos pequenos produtores descendentes de italianos de Serra Negra ajuda a levantar a temperatura do corpo, mas fica mais saboroso quando acompanhado dos causos contados pelos produtores, como Décio Girardi Cilotto, mais conhecido como Neno, ou os membros da família Carra.
Ambos compram as uvas no Sul do país, principalmente da região de Bento Gonçalves, e, junto com outros produtores da região, pensam em montar a Confraria do Vinho, com o objetivo de minimizar os preços dos fornecedores.
Proprietários do sítio Bom Retiro, os Carra explicam para o visitante o processo de produção da pinga, do vinho e da rapadura que fazem e depois lhes oferecem degustação das bebidas.
Para os apreciadores de cachaça, há preciosidades de longa data, como uma produzida em 1978, e outras surpresas raras.
Em relação ao vinho, o envolvimento com a bebida é tamanho que Laércio Carra garante que a primeira palavra falada pelo seu filho foi "vinho". A família produz vários tipos da bebida, e o comprador pode encomendar vinhos com características específicas. Normalmente a garrafa de 750 ml custa R$ 5 (uva isabel), R$ 7 (merlot) e R$ 12 (cabernet).
Embora tenham herdado a técnica dos antepassados, os irmãos Carra pesquisam em livros e revistas sobre o setor e nunca foram à Itália. "Quem sabe um dia nossos filhos poderão conhecer a terra de nosso bisavô. Nossa família sempre foi muito sofrida, meu avô era marceneiro e fez com as próprias mãos a capota do seu jipe", diz Clóvis Carra, acrescentando que o forte do sítio é a produção de mangas.
O patriarca, Dalcin, 72, lembra bem do avô, o italiano que trouxe a família ao Brasil. "Ele morreu aos 84 anos sem ter rugas. Dava para ver até as veias do seu rosto", comenta, lembrando-se de uma foto que foi tirada um ano antes da sua morte, em 1931.
Dalcin tem uma prosa animada. "Todo ano faço 400 litros de vinho do meu jeito." Casado há 48 anos com a mesma mulher, ele diz tomar vinho todo dia e costuma receitar vinho de laranja com café como remédio até para as crianças da família. "É melhor que xarope." Já a cachaça não parece fazer sua cabeça, embora, segundo ele, os filhos costumem brincar: "A gente faz pinga para nosso pai e só vende o que sobra".
(MARISTELA DO VALLE)


Sítio Bom Retiro - Tel. 0/xx/19/3892-3574.



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