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ECOTURISMO
Convivência de queixadas, que circulam pelas fazendas vizinhas em busca de comida, não é nada pacífica
Parque das Emas achega turista a bichos
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM GOIÁS
Uma das maiores áreas preservadas do bioma cerrado no mundo, o Parque Nacional das Emas,
no extremo sudoeste de Goiás,
possui uma variedade impressionante de plantas e de animais
-só de aves, são 220 espécies diferentes-, incluindo algumas
ameaçadas de extinção.
Tamanduá-bandeira, anta,
queixada, onça, lobo-guará, tatu-canastra, veado-campeiro, jaguatirica, gavião, pica-pau, seriema,
tucano, mutum, arara, pássaro-preto e ema (a maior ave brasileira, símbolo do lugar) são alguns
dos animais que podem ser vistos
nessa reserva.
Reconhecido pela Unesco como
Patrimônio Natural da Humanidade, o parque abriga em 132 mil
hectares diversos tipos de vegetação do cerrado. Destaca-se o capim-flecha, que toma 60% da extensão do parque.
Como em geral essa vegetação
não é muita densa, o visitante
consegue facilmente observar os
animais no período de seca, entre
abril e setembro. A probabilidade
de avistá-los cresce na mesma
proporção do silêncio adotado.
Os cupinzeiros, muito presentes
no parque, em determinada época do ano -especialmente após
outubro, no período de chuvas-
irradiam uma luz fosforescente
caracterizando uma bioluminescência num tom azul-esverdeado
produzido por larvas dos vaga-lumes. Pena que não se permite a
permanência no parque à noite.
Embora a maior parte da área
pertença à cidade de Mineiros, a
visitação é mais fácil por Chapadão do Céu, a 460 km de Goiânia.
Fundada em 1983, essa cidade
tem 4.000 habitantes.
Trilhas e guias
O parque possui 400 km de estradas -as trilhas são extensas,
algumas com mais de 40 km.
Contratar guias credenciados e
condutores autorizados pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente) ajuda o turista a compreender a diversidade natural.
Há três tipos de trilha. A tradicional, em que se atravessa o campo, onde bichos e natureza podem ser apreciados e tocados de
perto. Na trilha interpretativa,
identifica-se os animais pelas pegadas, fezes e alimentos consumidos, além de poder tomar conhecimento da vegetação. Na motorizada, de ônibus ou carro, observam-se animais escondidos ou os
que não conseguem se ocultar
com uma aproximação mais rápida que a das caminhadas.
Vizinhança
O parque é cercado por fazendas que plantam milho, soja, algodão e girassol. Em outros locais, a
vegetação nativa virou pasto para
o gado. É comum ver bichos que
vivem no parque alimentarem-se
nas fazendas próximas. Emas e
araras gostam de soja, papagaios
preferem grãos de girassol.
Em vários pontos, a única separação entre a área do parque e as
fazendas é uma estrada. Pesquisadores tentam convencer os fazendeiros de que os danos provocados pelos animais à lavoura podem ser reduzidos. As queixadas
costumam entrar nas plantações e
comer o que for possível. Por isso,
pesquisadores tentam encontrar
uma solução que não seja a morte
indiscriminada dos animais.
Em julho, na fazenda RS Perdizes, perto de Chapadão do Céu,
fazendeiros usaram um trator e
uma caminhonete para atropelar
e cercar queixadas. Em seguida,
mataram a tiros algumas delas.
"Fiquei chocada com o que vi.
Ontem, recebemos educação ambiental, e hoje, isso... Que exemplo é esse para minhas filhas", indaga Cristina Matsuzaki, turista
de Mairiporã (SP), que entrou na
fazenda para expressar sua indignação. "Não sei se resolve, mas ele
disse que nunca mais fará isso."
Outro problema no entorno do
parque são as queimadas. Para
evitar catástrofes como a que atingiu boa parte do parque em 1994,
o Ibama acabou com as áreas contíguas entre as terras preservadas
e as propriedades particulares em
1995, evitando que as chamas de
um lado passassem para o outro.
Atualmente, o instituto provoca
queimadas controladas, criando
barreiras naturais entre uma região e outra do parque.
"O bioma cerrado é o que está
sofrendo o maior processo de depredação", afirma Gabriel Borges,
diretor do parque. "Infelizmente,
hoje o parque está quase ilhado
por grãos e pastagens."
(PAULO DANIEL FARAH)
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