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Moradora de 108 anos lamenta mudanças
ESPECIAL PARA A FOLHA
"A senhora era parteira? Era
não, eu sou parteira. Pode trazer a
mulher aqui que eu faço o parto.
Mas hoje todo mundo quer ir para o hospital. O pessoal tem muito
orgulho e só quer grã-finagem.
Ninguém mais quer parteira nem
remédio do mato." O diálogo com
Joana Francisco Maia, 108 (a idade foi indicada por parentes embora ela não tenha documentos
que a comprovem), moradora na
comunidade calunga do Engenho
2, demonstra que algumas tradições estão se perdendo.
Os calungas conservaram seu
modo tradicional de vida principalmente porque se mantiveram
de certo modo isolados por muitos anos. Aprenderam a conhecer
as plantas que servem de remédio
com índios, de acordo com alguns
habitantes.
A vassourinha e a folha de manga são usadas contra dor de barriga. A folha de laranja e o capim-de-cheiro, contra a febre da gripe.
A folha de limão, contra dor de
garganta (ou, como dizem as
crianças da região, para tratar "espinho na goela"). A folha do algodão e a aroeirinha são antiinflamatórios, e a folha da goiabeira
combate disenteria.
"Muita coisa mudou do meu
tempo de juventude", lamenta
"tia Joana", como é conhecida no
local. "Espero que não percam
mais as tradições."
Marco Antônio, 24, bisneto dela
que tem uma filha com pouco
mais de um ano, diz que "não trocaria a comunidade calunga por
nenhum outro local".
Joana tem mais de dez tataranetos e é respeitada como uma espécie de autoridade local.
A aldeia tem outros moradores
cuja experiência de vida é valorizada. Pedro Ferreira dos Santos,
102, não nasceu no povoado, mas
mora ali há quase um século. A família costuma se reunir para ouvi-lo contar histórias, especialmente sobre as festas que promoviam na comunidade. "Comecei
no garimpo com nove anos. Tirei
muito ouro, mas não enriquei
[sic]", conta. Pedro não conhece o
nome do presidente brasileiro e
nunca votou. "Nunca quis", explica. Sobre a implementação da
energia, diz achar ser "muito
bom". (PDF)
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