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Com muita neve, temporada atinge auge
DO ENVIADO ESPECIAL
Um dia perfeito no Valle Nevado. Após um dia e uma noite em
que flocos de neve caíram sem parar, essas montanhas a mais de
3.000 metros de altitude estão cobertas por uma camada de neve
fresca e solta sobre o gelo já prensado de nevascas anteriores.
Já são 8h30 de uma terça-feira
no início de agosto, e o sol finalmente surge por trás dos picos
dos Andes. A temporada de esportes de inverno chega ao auge, e
o sorriso está estampado no rosto
de seus praticantes concentrados
no Valle Nevado. Não é a toa. O
dia é ideal para realizar o sonho de
todos eles: praticar o "powder
ski" ou o "powder snowboard".
Lá fora, faz um frio intenso, mas
seco e sem vento. Bem agasalhado
por dentro, roupa impermeável
por fora, luvas, gorro, óculos escuros. Os pés metidos nas não
muito confortáveis botas, esquis a
postos, a emoção de ter todo um
dia para vivenciar a mais longa
cordilheira do mundo (7.200 km)
e a segunda mais alta.
Ao tomar um dos meios de elevação -no caso um simples cano
preso, na ponta superior, a um cabo de aço em movimento e, na de
baixo, a um círculo que se encaixa
entre as pernas-, a sensação é de
um misto de plenitude e de estranhamento. A paisagem parece de
outro mundo: o céu absurdamente azul contrasta com o branco total das encostas, que, banhadas
pelo sol da manhã, brilham como
diamantes.
Na primeira descida -a pista
vermelha (nível intermediário)
Can can-, os esquis desaparecem ao deslizar sob a neve fofa e, a
cada virada, uma nuvem de pó
branco se levanta ora para a esquerda ora para a direita.
O esqui, além de um esporte
complexo, desafiador e excitante,
é uma incrível oportunidade de
estar no meio das montanhas, de
fazer, ao menos por alguns momentos (horas, dias?), parte delas.
O Valle Nevado tem 37 km de
pistas demarcadas (verdes, azuis,
vermelhas e pretas, cores que sinalizam níveis crescentes de dificuldade), situadas entre 2.860 metros e 3.670 metros de altitude.
A altitude pode dificultar a atividade física. Por isso, é importante
fazer uma curta adaptação ao chegar ao Valle Nevado. No primeiro
dia, pegue mais leve no esqui ou
no snowboard, beba bastante
água, coma comidas mais leves e
durma bem.
A altitude também impede que
cresçam árvores na região, o que,
apesar de inicialmente dar uma
certa sensação de desolação, logo
revela um outro tipo de beleza,
marcada pela imponência dos
maciços cobertos de neve, de gelo
eterno, com pedras pontiagudas.
Embora os centros de esportes
de inverno de ponta do hemisfério Norte sejam obviamente mais
desenvolvidos, do ponto de vista
de estrutura de pistas, meios de
elevação, hotéis e restaurantes, o
Valle Nevado já tem um bom nível e está avançando rumo ao objetivo de se tornar o principal centro de esqui do hemisfério Sul.
Nos últimos anos, já têm atraído
americanos e europeus fanáticos
pelos esportes de neve ou profissionais das pistas, inclusive membros de seleções nacionais que
precisam se preparar, durante o
inverno no sul, para as competições que ocorrerão alguns meses
depois no norte do planeta.
Também há visitantes de outros
países da América do Sul e chilenos, é claro. Mas a maioria dos esquiadores e dos snowboarders
entusiasmados vem do Brasil.
O português -com sotaques
do Oiapoque ao Chuí, numa clara
demonstração de que o Brasil, felizmente, não é mais São Paulo e
Rio- é a língua oficial das pistas.
E Valle Nevado, com seu visual
radicalmente glacial, transforma-se, especialmente em julho e na
primeira semana de setembro,
num posto avançado do Brasil
tropical. (OD)
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