UOL


São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Com muita neve, temporada atinge auge

DO ENVIADO ESPECIAL

Um dia perfeito no Valle Nevado. Após um dia e uma noite em que flocos de neve caíram sem parar, essas montanhas a mais de 3.000 metros de altitude estão cobertas por uma camada de neve fresca e solta sobre o gelo já prensado de nevascas anteriores.
Já são 8h30 de uma terça-feira no início de agosto, e o sol finalmente surge por trás dos picos dos Andes. A temporada de esportes de inverno chega ao auge, e o sorriso está estampado no rosto de seus praticantes concentrados no Valle Nevado. Não é a toa. O dia é ideal para realizar o sonho de todos eles: praticar o "powder ski" ou o "powder snowboard".
Lá fora, faz um frio intenso, mas seco e sem vento. Bem agasalhado por dentro, roupa impermeável por fora, luvas, gorro, óculos escuros. Os pés metidos nas não muito confortáveis botas, esquis a postos, a emoção de ter todo um dia para vivenciar a mais longa cordilheira do mundo (7.200 km) e a segunda mais alta.
Ao tomar um dos meios de elevação -no caso um simples cano preso, na ponta superior, a um cabo de aço em movimento e, na de baixo, a um círculo que se encaixa entre as pernas-, a sensação é de um misto de plenitude e de estranhamento. A paisagem parece de outro mundo: o céu absurdamente azul contrasta com o branco total das encostas, que, banhadas pelo sol da manhã, brilham como diamantes.
Na primeira descida -a pista vermelha (nível intermediário) Can can-, os esquis desaparecem ao deslizar sob a neve fofa e, a cada virada, uma nuvem de pó branco se levanta ora para a esquerda ora para a direita.
O esqui, além de um esporte complexo, desafiador e excitante, é uma incrível oportunidade de estar no meio das montanhas, de fazer, ao menos por alguns momentos (horas, dias?), parte delas.
O Valle Nevado tem 37 km de pistas demarcadas (verdes, azuis, vermelhas e pretas, cores que sinalizam níveis crescentes de dificuldade), situadas entre 2.860 metros e 3.670 metros de altitude.
A altitude pode dificultar a atividade física. Por isso, é importante fazer uma curta adaptação ao chegar ao Valle Nevado. No primeiro dia, pegue mais leve no esqui ou no snowboard, beba bastante água, coma comidas mais leves e durma bem.
A altitude também impede que cresçam árvores na região, o que, apesar de inicialmente dar uma certa sensação de desolação, logo revela um outro tipo de beleza, marcada pela imponência dos maciços cobertos de neve, de gelo eterno, com pedras pontiagudas.
Embora os centros de esportes de inverno de ponta do hemisfério Norte sejam obviamente mais desenvolvidos, do ponto de vista de estrutura de pistas, meios de elevação, hotéis e restaurantes, o Valle Nevado já tem um bom nível e está avançando rumo ao objetivo de se tornar o principal centro de esqui do hemisfério Sul.
Nos últimos anos, já têm atraído americanos e europeus fanáticos pelos esportes de neve ou profissionais das pistas, inclusive membros de seleções nacionais que precisam se preparar, durante o inverno no sul, para as competições que ocorrerão alguns meses depois no norte do planeta.
Também há visitantes de outros países da América do Sul e chilenos, é claro. Mas a maioria dos esquiadores e dos snowboarders entusiasmados vem do Brasil.
O português -com sotaques do Oiapoque ao Chuí, numa clara demonstração de que o Brasil, felizmente, não é mais São Paulo e Rio- é a língua oficial das pistas. E Valle Nevado, com seu visual radicalmente glacial, transforma-se, especialmente em julho e na primeira semana de setembro, num posto avançado do Brasil tropical. (OD)

Texto Anterior: Pacotes
Próximo Texto: Esquiar expõe personalidade
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.