São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008

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"MY KIND OF TOWN"

Instituto de 115 anos deve parte de acervo a mecenato

No séc. 19, comerciantes e investidores financiaram aquisição de obras para coleção que iniciou o museu

DO ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

Instituto de Arte de Chicago (ou Chicago Art Institute; www.artic.edu), na South Michigan avenue, 111, maior museu de arte da metrópole, consta do best-seller "1.000 Lugares para Conhecer Antes de Morrer", de Patrícia Schultz, editado no Brasil pela Sextante.
E não é para menos: instalada num prédio neoclássico que arquitetos contemporâneos como Sullivan e Adler criticaram à sua abertura, em 1893, a coleção compreende 225 mil peças, expostas em dez setores.
Preocupados com a modernidade da arquitetura na época, Adler e Sullivan afirmaram que, ao inaugurar essa construção passadista e neoclássica, "a arquitetura americana recuou 50 anos". Já a autora do livro, parece, morre de amores pelo velho prédio...
Polêmicas à parte, talvez mais do que qualquer outro museu dos EUA essa instituição deve sua coleção ao mecenato: ricos comerciantes, investidores e industriais de Chicago financiaram a aquisição eclética e abundante de obras de arte desde 1879, quando a coleção que originou o museu, a Chicago Academy of Fine Arts, foi inaugurada. Em 1882, o museu foi rebatizado e se tornou o instituto de arte.
O mecenato foi tão pródigo que logo as obras não cabiam na sede antiga. Martin A. Ryerson, que morreu em 1933, deve ter sido o maior entre os doadores, legando em vida ao museu 227 pinturas, além de esculturas, objetos de arte e gravuras flamengas. Foram ao menos seis óleos de Renoir, 13 de Monet, além de quadros de Cézanne e Degas e de pinturas holandesas de mestres como Rembrandt e Van der Weyden.
A coleção foi transferida para o local atual às vésperas da Exposição Mundial Colúmbia, em 1893. O prédio foi ampliado posteriormente e, hoje, exibe óleos de Veronese, Tiepolo, Constable e Turner, Delacroix, Van Gogh, Picasso, Modigliani, Léger, Klee, Magritte, Dalí, Miró, Mondrian, Matisse, Giacometti, Tolouse-Lautrec, Utrillo e Seurat. Entre as obras de artistas norte-americanos expostas ali, o destaque é a obra-prima "Vida Noturna", de Edward Hopper, óleo urbano retratando a solidão num coffee shop.
Entre os contemporâneos mais festejados que têm obras nesse museu, os destaques são Pollock, Sargent e Albright.
Mas arte moderna genuinamente americana, se é que se pode falar assim, está também representada em obras mais conhecidas localmente, caso de "American Gothic", de Grant Wood, um óleo de 1930 que mostra um velho fazendeiro segurando um ancinho em companhia de uma mulher, na verdade baseados no dentista do autor e em sua irmã, que posaram para a pintura.
A obra azul celeste "America Windows", vitral de Marc Chagall, de 1977, alude à Declaração de Independência -que então completava 200 anos- e à pintura, à música, ao teatro, à dança e ao patriotismo. Conhecido por seu lirismo e por obras que remetem ao judaísmo, o autor, de origem russa, dedicou essa obra ao prefeito Richard J. Daley, pioneiro na instalação de gigantescas estátuas públicas nas ruas de Chicago (veja texto nas págs. F4 e F5). Anos antes, em 1974, o próprio Chagall havia feito um mosaico ao ar-livre para o First National.
O artista pós-impressionista/pontilhista francês Georges Seurat também tem sua obra emblemática "Um Domingo em La Grande Jatte" exibida nesse museu. A entrada suntuosa é guardada por dois leões esculpidos por Edward Kemeys (1843-1907).
Daria para passar dias admirando sua coleção. Nos dias ensolarados, o restaurante do pátio interno tem música ao vivo.
Mas é melhor não perder ali tempo com a música de diletantes contemporâneos: o instituto de arte tem 5.000 anos de artes plásticas e visuais para exibir, incluindo aí óleos e gravuras, esculturas, objetos, tapeçarias e artefatos que contam a história da civilização mundial. (SILVIO CIOFFI)


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