São Paulo, quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NILO SEM MISTÉRIO

Já foram descobertos 60 túmulos de faraós; transporte motorizado até as tumbas dá trégua ao calor

Deserto do Vale dos Reis resguarda sepulcro monarca

COLABORAÇÃO PARA FOLHA, NO EGITO

Na margem oeste do Nilo, do outro lado de Luxor, estende-se a área da antiga necrópole de Tebas, onde vilas e plantações dividem espaço com túmulos de faraós, nobres, artesãos e ruínas de templos dedicados aos mortos. Ali fica o Vale dos Reis, onde, até o momento, foram encontrados pouco mais de 60 túmulos.
Para despistar saqueadores e melhor proteger os tesouros enterrados, as tumbas do Vale dos Reis ficam longe dos santuários usados para cultuar os faraós. Protegidos pelo calor e pelo deserto, os senhores do Egito aguardavam a imortalidade. O lugar foi escolhido porque era afastado das enchentes do Nilo, encimado por um morro cujo topo lembra a forma de uma pirâmide, e a rocha era fácil de ser escavada. O vale também era fácil de ser protegido e, visto de longe, parece ser o local onde o sol se põe.
Leve muita água para o passeio. A distância da entrada do vale até a área onde estão os túmulos não é grande, mas você ficará muito feliz em pagar para andar nos carrinhos, em forma de trenzinho, que percorrem esse trecho.
Dentro dos túmulos é mais quente ainda, e as pessoas não ficam muito tempo lá dentro. O que não é de todo ruim, já que só a respiração dos visitantes contribui para a degradação das pinturas. Mas os poucos minutos que o visitante passa ali serão o suficiente para admirar as paredes que ilustram a vida do faraó, cenas de caças, de festivais, de adoração a deuses e do "Livro dos Mortos".
Nem todos os túmulos estão abertos à visitação, e alguns fecham às vezes para pesquisas. O ingresso dá acesso a três túmulos, e os guias dão dicas sobre quais visitar. Entre os maiores está o de Tutmosis 3º (reinou de 1479 a 1425 a.C.), que realizou grandes campanhas militares, chegando até a Síria. O túmulo de Ramsés 1º (1295-1294 a.C.) é pequeno, mas tem belíssimas pinturas. Apenas o de Tutancâmon é cobrado à parte. A múmia ainda está lá, mas o local não é dos mais belos. Assim, muitos se contentam em ver só o seu tesouro no Museu Egípcio.
Atrás do Vale dos Reis fica o templo de Hatshesput (1473-1458 a.C.), uma mulher que se tornou faraó. É um belo monumento, de fachada imponente, em parte esculpido na rocha de um paredão que domina a paisagem. Ao ver os trenzinhos que levam os turistas da entrada para a primeira das três escadarias que conduzem aos terraços do templo -de novo, a distância é curta, mas no calor esse transporte é mais que bem-vindo-, é difícil imaginar que no passado toda a frente era cercada de plantas e árvores exóticas.
Hatshesput reinou como faraó por 20 anos. Em algumas pinturas, é retratada como homem, usando até barba. Duas capelas homenageiam Hathor (deusa do amor e do prazer, associada à vaca) e Anubis (deus da mumificação). O interior está bastante danificado pela ação do tempo e de sucessores de Hatshesput: Akenáton (aquele que, sem sucesso, quis estabelecer culto a um deus único, Aton) removeu as referências a Amon, e cristãos chegaram a transformar o local em mosteiro.
Entre o Vale dos Reis e o templo fica uma vila chamada Gurna. Os habitantes eram os guardiões das tumbas, mas também, suspeitam alguns, saqueadores. Hoje, suas coloridas casas chamam a atenção, e é possível visitar lojas onde artesãos produzem peças de alabastro e outras pedras.
O passeio é completado com uma visita ao Vale das Rainhas -que abriga também tumbas de príncipes e nobres- e pelos dois colossos de Memnon. Com 18 metros de altura, é tudo que resta do antigo templo funerário dedicado a Amenhotep 3º, morto em 1352 a.C. As águas do Nilo, que no passado chegavam até ali, varreram tudo e deixaram apenas essas estátuas como uma lembrança de que por ali ainda existe muito a ser descoberto sobre a civilização egípcia. (CHIAKI KAREN TADA)


Texto Anterior: Templo surge no centro de Luxor
Próximo Texto: Nilo sem mistério: Navegar em faluca cria intimidade com rio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.