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SOS MAR
Ações para tratar e devolver gaivotas, pingüins e fragatas dependem da dedicação de especialistas e voluntários
Animais esperam centro de reabilitação
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM UBATUBA
Duas vezes por semana, Mel vai
à praia. Olha para a areia com
atenção, dá uma espiada no céu.
Treina algumas corridas curtas,
foge das ondas, mas nada de voar.
Depois de 30 minutos, acaba sua
aula de vôo. A rotina de Mel tem
sido a mesma desde setembro de
2005, quando a gaivota foi operada de uma fratura na asa. Com
um metro de envergadura, Mel
não quer saber de vida selvagem
por enquanto.
O caso de Gaspar é mais complicado. O jovem pingüim-de-magalhães até gostaria de sair da
quarentena do Aquário de Ubatuba, mesmo lugar onde está Mel.
Aliás, ele não vê a hora. "É só alguém dar uma bobeada que ele
escapa", comenta a estudante de
veterinária e estagiária Adriana
Simões Espinosa, 20, enquanto
corre atrás do fujão pela terceira
vez no dia.
O que Gaspar não sabe é que seu
destino será bem diferente do de
Mel. Especialistas em vida marinha como o oceanógrafo Hugo
Gallo, diretor do Aquário de Ubatuba, entendem que o animal que
vai dar nas praias brasileiras provavelmente foi vítima de suas
próprias debilitações.
"Esses indivíduos são fracos,
muito jovens, muito velhos ou
doentes. Seriam excluídos da natureza de qualquer jeito. Por isso,
não os devolvemos", explica o
oceanógrafo. Só nos casos desencadeados pela ação do homem
-como derramamento de óleo
ou poluição das águas- é que esses animais são tratados e reintegrados à natureza.
Quando se trata de espécie
ameaçada de extinção, no entanto, manter o patrimônio genético
é mais importante e o animal é devolvido de qualquer jeito. Como
esse não é o caso da espécie de
Gaspar, ele vai morar no tanque
dos outros três pingüins-de-magalhães em exposição no aquário.
Shing também deve fazer companhia a Gaspar e seus colegas,
mas antes precisa receber alta da
quarentena. Acometido por um
sério problema respiratório, o
pingüim lembra um asmático.
Respira com dificuldade, afundando tanto o peito que parece
sufocar. Duas vezes por dia, um
dos estagiários faz inalação em
Shing. O pingüim já se acostumou
com o paparico. Quietinho, de bico aberto, ele recebe o vapor com
o remédio.
Enquanto a veterinária Paula
Baldassin orienta os estagiários
sobre o tratamento de cada um
dos 20 animais que estão sob cuidados médicos no aquário, ela faz
os últimos preparativos para a cirurgia de Neguinha. Espécie de
ave marinha comum em todo litoral brasileiro, ela teve fratura exposta na asa esquerda ao fazer o
que toda fragata faz desde criancinha: pescar.
"Como é que ela foi quebrar isso?", comentava Max Rondon
Werneck, veterinário do Projeto
Tamar-Ibama de Ubatuba, enquanto costurava a asa partida.
Em menos de vinte minutos, Neguinha estava de volta a seu poleiro, devidamente operada. Não
deu um pio.
A situação de Mel, Gaspar,
Shing e Neguinha coloca em pauta a urgência de um centro de reabilitação de animais marinhos.
Tartarugas estão bem servidas pelo trabalho competente dos funcionários das 17 unidades fixas e
quatro temporárias do Tamar, espalhadas por nove estados da costa brasileira. Já baleias, golfinhos,
leões-marinhos, focas, pingüins e
outras aves marinhas contam
apenas com pequenas ações isoladas e a dedicação de gente como
Gallo e Paula.
O Aquário de Ubatuba, por
exemplo, realizou, só em 2005,
cerca de 40 resgates de pingüins-de-magalhães, espécie típica do
sul das costas Atlântica e Pacífica;
em outros anos, esse número chegou a cem. Quando apareceu um
filhote de golfinho, no começo de
janeiro, a equipe do aquário teve
de trabalhar em parceria com o
Tamar -as instalações do aquário eram pequenas para o animal,
que morreu cinco dias depois
(leia na pág.F10).
Dori, como foi chamada a fêmea de golfinho, consumia uma
lata de leite em pó sem lactose (R$
70) a cada 36 horas, fora todo o
custo da medicação, pago pelo diretor do aquário. "Já pensou se ela
tivesse sobrevivido?", diz Gallo,
com um misto de tristeza e
apreensão. "Sem um centro de
reabilitação, como é que manteríamos um golfinho?"
Ao contrário do Projeto Tamar-Ibama -que se mantém com o
patrocínio da Petrobras, o apoio
de várias empresas e a venda de
camisetas e acessórios-, o Aquário de Ubatuba é uma instituição
privada, que não se mantém só
com a venda de ingressos (R$ 10 a
entrada inteira). "Criamos a ONG
Instituto Argonauta justamente
para ver se conseguimos captar
recursos para manter o aquário",
explica Gallo. "Vamos tentar colocar em pé um centro de reabilitação para atender essas espécies
marinhas."
(CAROLINA COSTA)
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