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"Townships" lembram favelas do Brasil
DA ENVIADA ESPECIAL
"Molweni" é uma palavra repetida a cada esquina, nas portas de
todas as casas, quando o visitante
percorre as "townships" (guetos
criados na época do apartheid para segregar os negros). A palavra
de origem xhosa, uma das etnias
da África do Sul, quer dizer "olá".
A visita pode até parecer programa de gringo na Rocinha, no
Rio de Janeiro, mas a experiência
é válida para quem tem interesse
em conhecer um pouco das etnias
e da realidade do país fora dos hotéis de luxo. Em Knysna (leia texto
na pág. F8), há um "township
tour" organizado pela agência
Eco Africa Tours (dura duas horas e custa 180 rands).
O passeio é seguro e não faltam
semelhanças entre as "town-
ships" sul-africanas e as favelas
brasileiras. Barracos remendados,
crianças pelas ruas de terra, mulheres com latas d'água na cabeça
e cabras fazem parte do cenário.
Nas "townships" Nekkies, Dam,
Damsebos e Concórdia (é difícil
saber onde começa uma e onde
termina a outra), que ficam a 5
km do centro de Kysna, a maioria
dos habitantes é da etnia xhosa, a
mesma de Nelson Mandela. As
pessoas são receptivas e sempre
fazem pose para as câmeras.
O guia xhosa Patrick Gobeni,
morador do local, acompanha os
visitantes. Ele explica que os barracos de madeira não recebem
água encanada e faz questão de
mostrar a casa onde mora também uma mulher branca. Durante a visita, os turistas conhecem a
creche, as igrejas e os "shebeens"
(bares ilegais na época do apartheid, que durou de 1948 a 1994).
Apesar do inglês ruim que a
maioria dos moradores desses
guetos fala, "fome" e "desemprego" foram duas palavras citadas
nas conversas rápidas com a reportagem da Folha. Nokubonga
Njemla, 14, que estudou inglês na
escola, diz que o "principal problema [do país] é a fome".
Bastante sorridente e usando
um belo lenço na cabeça, Nokhasa Jako, 53, reclama da "falta de
emprego" e aponta para os homens e as mulheres que parecem
estar desocupados, conversando
na porta das casas -cena bastante comum no lugar.
Os curandeiros (chamados de
"healing doctors") são procurados pelos turistas. Theodora Bavuyise, 37, é jovem, mas passa seu
conhecimento sobre diferentes
ervas que curam problemas de estômago, por exemplo, para outras
pessoas da comunidade. "Podemos curar todas as doenças, menos a Aids", conta Bavuyise.
O artesanato é outra atração
desses guetos, onde as crianças só
começam a falar inglês depois dos
sete anos, quando ingressam na
escola -primeiro elas aprendem
a língua étnica. Em Damsebos,
Evelinah Skeyi, 63, faz colares,
pulseiras e cintos de miçangas coloridas. O preço não é dos mais
baratos (uma pulseira custa cerca
de 50 rands, e um colar, 120
rands). (GABRIELA ROMEU)
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