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São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2003

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"Townships" lembram favelas do Brasil

DA ENVIADA ESPECIAL

"Molweni" é uma palavra repetida a cada esquina, nas portas de todas as casas, quando o visitante percorre as "townships" (guetos criados na época do apartheid para segregar os negros). A palavra de origem xhosa, uma das etnias da África do Sul, quer dizer "olá".
A visita pode até parecer programa de gringo na Rocinha, no Rio de Janeiro, mas a experiência é válida para quem tem interesse em conhecer um pouco das etnias e da realidade do país fora dos hotéis de luxo. Em Knysna (leia texto na pág. F8), há um "township tour" organizado pela agência Eco Africa Tours (dura duas horas e custa 180 rands).
O passeio é seguro e não faltam semelhanças entre as "town- ships" sul-africanas e as favelas brasileiras. Barracos remendados, crianças pelas ruas de terra, mulheres com latas d'água na cabeça e cabras fazem parte do cenário.
Nas "townships" Nekkies, Dam, Damsebos e Concórdia (é difícil saber onde começa uma e onde termina a outra), que ficam a 5 km do centro de Kysna, a maioria dos habitantes é da etnia xhosa, a mesma de Nelson Mandela. As pessoas são receptivas e sempre fazem pose para as câmeras.
O guia xhosa Patrick Gobeni, morador do local, acompanha os visitantes. Ele explica que os barracos de madeira não recebem água encanada e faz questão de mostrar a casa onde mora também uma mulher branca. Durante a visita, os turistas conhecem a creche, as igrejas e os "shebeens" (bares ilegais na época do apartheid, que durou de 1948 a 1994).
Apesar do inglês ruim que a maioria dos moradores desses guetos fala, "fome" e "desemprego" foram duas palavras citadas nas conversas rápidas com a reportagem da Folha. Nokubonga Njemla, 14, que estudou inglês na escola, diz que o "principal problema [do país] é a fome".
Bastante sorridente e usando um belo lenço na cabeça, Nokhasa Jako, 53, reclama da "falta de emprego" e aponta para os homens e as mulheres que parecem estar desocupados, conversando na porta das casas -cena bastante comum no lugar.
Os curandeiros (chamados de "healing doctors") são procurados pelos turistas. Theodora Bavuyise, 37, é jovem, mas passa seu conhecimento sobre diferentes ervas que curam problemas de estômago, por exemplo, para outras pessoas da comunidade. "Podemos curar todas as doenças, menos a Aids", conta Bavuyise.
O artesanato é outra atração desses guetos, onde as crianças só começam a falar inglês depois dos sete anos, quando ingressam na escola -primeiro elas aprendem a língua étnica. Em Damsebos, Evelinah Skeyi, 63, faz colares, pulseiras e cintos de miçangas coloridas. O preço não é dos mais baratos (uma pulseira custa cerca de 50 rands, e um colar, 120 rands). (GABRIELA ROMEU)

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