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CARIBE DE SALTO ALTO
Na cultura local, acredita-se que o produto afaste espíritos; mulheres o traficavam em espartilhos
Exportação de sal sustentou a região
DO ENVIADO ESPECIAL A ST. MARTIN E ST. BARTH
Em meados do 1500, no sudoeste da França, o rei Francisco 1º
guardava o sal de mesa em um saleiro feito pelo célebre escultor
florentino Benvenuto Cellini
(1500-1571).
Há vários tipos de sal comestível. O mais comum é o cloreto de
sódio, cujo sabor é o que chamamos de salgado.
O corpo humano não consegue
fabricar o sódio, essencial para o
seu funcionamento. Um homem
adulto guarda em seu corpo uma
quantidade de sal equivalente a
três ou quatro saleiros convencionais. Entretanto, essa quantidade
tende naturalmente a se reduzir, e
o sal deve ser constantemente reposto.
De plástico ou de ouro maciço,
qualquer mesa, hoje, exibe seu saleiro. Mas, por séculos, o sal foi
mercadoria preciosa e chegou a
ter função de moeda. E, por ser indispensável à sobrevivência, foi
também o primeiro monopólio
estatal, na China.
Na cultura afro-caribenha, não
se come sal durante as refeições
ritualísticas porque se acredita
que ele afaste os espíritos. Todos:
benéficos ou maléficos.
Quando, a partir do século 16, o
Caribe tornou-se lugar de produção de sal marinho, as potências
européias começaram a disputar
as ilhas salíferas. O sal servia para
conservar o peixe, sobretudo o
bacalhau, ou era levado para o
consumo nas capitais da mãe pátria. Anguilla, que fica um pouco
acima de St. Martin e de St. Barthélemy, era um dos pontos mais
prósperos de produção e comércio do produto.
Muitos navios viajavam carregados apenas de sal e precisavam
se unir em comboio, pois podiam
ser pilhados como se transportassem ouro. Por vezes, faziam-se
alianças em que proteção naval
era trocada por sal.
Vale lembrar que na França o
imposto sobre sal chamava-se gabela. No final do século 18, por
causa das alíquotas diferenciadas
em cada região, havia contrabando de sal. As mulheres, como fazem hoje as "mulas" com a cocaína, escondiam sal no espartilho e
nas nádegas. A gabela foi um dos
símbolos de injustiça que levaram
à revolução de 1789.
No mesmo ano, a Assembléia
Nacional aboliu a lei da gabela e,
no ano seguinte, anulou todos os
julgamentos por violação a essa
lei. Em 1875, o botânico alemão
Matthias Jakob Schleiden escreveu um livro para sustentar que
havia uma correlação direta entre
os impostos sobre sal e os déspotas.
(VINCENZO SCARPELLINI)
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