São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005

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CARIBE DE SALTO ALTO

Na cultura local, acredita-se que o produto afaste espíritos; mulheres o traficavam em espartilhos

Exportação de sal sustentou a região

DO ENVIADO ESPECIAL A ST. MARTIN E ST. BARTH

Em meados do 1500, no sudoeste da França, o rei Francisco 1º guardava o sal de mesa em um saleiro feito pelo célebre escultor florentino Benvenuto Cellini (1500-1571).
Há vários tipos de sal comestível. O mais comum é o cloreto de sódio, cujo sabor é o que chamamos de salgado.
O corpo humano não consegue fabricar o sódio, essencial para o seu funcionamento. Um homem adulto guarda em seu corpo uma quantidade de sal equivalente a três ou quatro saleiros convencionais. Entretanto, essa quantidade tende naturalmente a se reduzir, e o sal deve ser constantemente reposto.
De plástico ou de ouro maciço, qualquer mesa, hoje, exibe seu saleiro. Mas, por séculos, o sal foi mercadoria preciosa e chegou a ter função de moeda. E, por ser indispensável à sobrevivência, foi também o primeiro monopólio estatal, na China.
Na cultura afro-caribenha, não se come sal durante as refeições ritualísticas porque se acredita que ele afaste os espíritos. Todos: benéficos ou maléficos.
Quando, a partir do século 16, o Caribe tornou-se lugar de produção de sal marinho, as potências européias começaram a disputar as ilhas salíferas. O sal servia para conservar o peixe, sobretudo o bacalhau, ou era levado para o consumo nas capitais da mãe pátria. Anguilla, que fica um pouco acima de St. Martin e de St. Barthélemy, era um dos pontos mais prósperos de produção e comércio do produto.
Muitos navios viajavam carregados apenas de sal e precisavam se unir em comboio, pois podiam ser pilhados como se transportassem ouro. Por vezes, faziam-se alianças em que proteção naval era trocada por sal.
Vale lembrar que na França o imposto sobre sal chamava-se gabela. No final do século 18, por causa das alíquotas diferenciadas em cada região, havia contrabando de sal. As mulheres, como fazem hoje as "mulas" com a cocaína, escondiam sal no espartilho e nas nádegas. A gabela foi um dos símbolos de injustiça que levaram à revolução de 1789.
No mesmo ano, a Assembléia Nacional aboliu a lei da gabela e, no ano seguinte, anulou todos os julgamentos por violação a essa lei. Em 1875, o botânico alemão Matthias Jakob Schleiden escreveu um livro para sustentar que havia uma correlação direta entre os impostos sobre sal e os déspotas. (VINCENZO SCARPELLINI)


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