São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2011

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MINHA HISTÓRIA FLAVIA MARIA DESTRO

Cuidando de leões

MARIUCCIA ANCONA LOPEZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O primeiro contato que tive com os três "Cs" -Chisa, Cundu e Chobe, filhotes de leões de cinco meses de idade com quem eu passaria duas semanas trabalhando como voluntária- foi num fim de tarde de domingo de outubro, após a chuva de meio dia em Victoria Falls, no Zimbábue.
Eu tinha acabado de chegar de uma viagem com 24 horas de duração, com conexões em Frankfurt e Johanesburgo. O cansaço era grande, mas a vontade de finalmente me encontrar com os leões era maior ainda.
De repente eu, urbana dos pés à cabeça, estava ali para cuidar de bichos -leões, ainda por cima- e passar meus dias caminhando pela savana africana, sem internet nem os confortos com os quais eu estou acostumada quando saio de férias.
Foi um ano de preparativos que incluiu um minucioso calendário de vacinas e remédios absolutamente obrigatórios para quem vai conviver com animais selvagens. Na bagagem, além das pastilhas contra malária, muito "spray" contra mosquitos e protetor solar, produtos imprescindíveis para enfrentar a savana africana.
Nosso dia, no Zimbábue, era organizado em função dos leões. Todo mundo de pé às 5h30 e, às 6h30, já em plena savana. Calor de 40 ºC que nem mesmo os leões aguentam. Assim, fazíamos duas horas de caminhada logo cedo e outras tantas no fim da tarde, quando a temperatura era mais amena.
Um prazer enorme era observar o comportamento dos filhotes, como brincam, como descobrem uma possível caça, como sobem nas árvores... Era também parte das minhas tarefas orientar os grupos de turistas que visitavam diariamente a reserva.
Muita gente me pergunta se não tínhamos medo de os leões ficarem ferozes de repente. Nenhum de nós -a maioria, moças- teve medo.
Nesse projeto, chamado ALERT (African Lion & Environmental Research Trust), os leões ficam ali até 18 meses (idade em que começam a ganhar juba). Depois, não podem mais conviver de forma tão próxima com os seres humanos.
Há também tratadores africanos especializados, que nos orientavam.
Vivi duas semanas em função dos leões. Até mesmo o café da manhã só acontecia às 9h, na reserva Masuwe, quando os leões voltavam às suas jaulas (na verdade, grandes espaços gradeados). Enquanto os bichos cochilavam, nós, voluntários, cumpríamos uma programação paralela, com aulas de indebele, a língua nativa, e de história do Zimbábue, além de lições sobre a flora local.
O melhor de tudo era visitar escolas da região para dar aulas de ecologia e sustentabilidade para crianças. Semanalmente, visitávamos o orfanato Rose of Charity, numa das vizinhanças mais pobres de Victoria Falls, para dar o almoço e brincar com as crianças. Se eu fosse a Madonna ou a Angelina Jolie, teria tentado adotar uma delas com certeza.
Nos momentos de folga, aproveitei cada minuto livre visitando as cachoeiras de Victoria Falls no parque que faz limite com a Zâmbia. Só não tive coragem suficiente para pular de "bungee jump". Preferi provar o coquetel long island ice tea acompanhado de um brownie, no jeito britânico de ser.


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