São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 2002

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PEZINHO NA ESTRADA

Pais interagem mais com os filhos quando estão fora da correria diária

Viajar estimula integração familiar

MARISTELA DO VALLE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu precisava de um tempo para ser mãe 24 horas por dia", disse à Folha Rosemeire Bassan, que grudou na filha Lara na Costa do Sauípe, em julho, por sentir falta dela na correria do dia-a-dia.
Embora muitos pais temam viajar com filhos pequenos, por fatores como excesso de bagagem e medo de que eles não se adaptem ao destino, as férias em família fora de casa possibilitam importante integração "pais-e-filhos", difícil de acontecer no cotidiano.
"Toda mãe que trabalha fora deveria viajar com os filhos", diz Magda Nassar, mãe de Leonardo, 2, que afirma ter adorado ver as "caras de espanto" do filho na Universal, em Orlando.
A família Arcangeli costuma ir no inverno para a estação de esqui de Portillo, no Chile. "As férias dos meus filhos são o momento de nós [pais" nos dedicarmos a eles", diz Luciana Arcangeli, mãe de Gianluca, 3, e Julia, 6. Para ela, o caçula foi o que mais aproveitou a última temporada. "Ele aprendeu a esquiar e nos acompanhava em todas as pistas."
Além de divertido, viajar em família não tem contra-indicação -a menos que o bebê tenha menos de um mês, pois ainda não está imunizado. "É super-recomendável sair da cidade, estar ao ar livre", atesta a pediatra Renata Waksman, do hospital Albert Einstein e co-autora de "A Saúde de Nossos Filhos" (Publifolha).
Para irmãos de casamentos distintos, as férias também são uma boa oportunidade de convivência, como aconteceu com a família de Helio de la Peña, ator e redator do programa "Casseta e Planeta Urgente", da Rede Globo, que tem os filhos Joaquim, 10, e João, sete meses. "Não sei se o João curtiu a viagem, mas eu curti que ele tenha ido", comenta o pai. "Da próxima vez faremos um programa que ele interaja mais, como uma praia, e não um passeio que vire só álbum de família."
A praia é um programa interativo para Victor Teixeira Pereira Bueno, 1, desde os seis meses, quando começou a mergulhar com a mãe, Ana Luiza Teixeira.
Mesmo que no futuro a criança não se lembre de seus passeios, ela pode apreciar o momento. Como aconteceu com Giulia Dominici, 4, que hoje não se recorda do seu tour pela Itália, feito aos dois anos. Mas "ela adorava, por exemplo, conhecer restaurantes diferentes. Cada dia ela pedia para ir a um", lembra a mãe, Gabriela.
De qualquer forma, os pais devem ter consciência de que o estilo da viagem muda quando há crianças. Quando foi à Disney com a filha Fernanda, 3, o casal Siufi dispensou as atrações radicais e se ateve aos shows. "Ela sabe que, no Brasil, os bonecos são pessoas fantasiadas. Mas acredita que, na Disney, os mesmos personagens são verdadeiros", conta a mãe, Fabiane.
Para quem não dispensa programas de adulto, uma alternativa é levar a babá junto, como fez Aldo Leone Filho quando foi para a ilha de Comandatuba (BA) com a mulher e os filhos Aldinho, 3, e Marco, 1. "Assim eu podia ir jantar, por exemplo." Para Bariloche, Leone só levou o primogênito. "Ele ficou alucinado na neve."
Mas nem sempre a viagem com os pequenos é um mar de rosas e alguns roteiros são mais apropriados para crianças maiores. Apesar de Rafaela Osso Pacotto, 3, ter se divertido nos parquinhos do Central Park quando foi para Nova York, há dois anos, as recordações da mãe, Renata, não são as mais agradáveis. "Tive muita dificuldade em encontrar papinhas em potinho, o que me surpreendeu na maior metrópole do mundo. Também era complicado usar ônibus e metrô com o carrinho do bebê, então eu pegava táxi e perdia muito tempo no trânsito."
O transporte até Fortaleza foi traumático para os pais de Mariana Moia, 6, há três anos. Para economizar, eles foram de ônibus (cerca de 48 h) e voltaram de avião. "À noite Mariana dormia, mas de dia era difícil entretê-la. O pior era arrumar comida para ela nas paradas. Eu não repetiria a experiência. Mas Mariana até hoje pede para voltar à cidade."
Também visitar um museu não é um programa adequado para os muito pequenos. Quando foi para Ouro Preto, aos dois anos, Iago Pegoraro Barbosa, 3, tentava subir nas charretes e não queria ficar quieto durante um concerto numa igreja. "A solução foi encher a boca dele de salgadinhos", lembra a mãe, Silvia Pegoraro. "Mas ele adorou o passeio a uma caverna e também o teatro de rua [pois era época do festival de inverno"."


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