São Paulo, segunda-feira, 26 de novembro de 2001

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AÇÃO NOS ALPES

Estreitas e atravessando prédios antigos, "traboules" servem de comunicação ao ligar ruas e o rio Saône

Passagens "secretas" levam charme ao bairro de Velha Lyon

DO ENVIADO ESPECIAL À FRANÇA

Classificado em 1998 pela Unesco como patrimônio da humanidade, o bairro de Velha Lyon ("Vieux Lyon", em francês) é hoje o principal sítio turístico da cidade, em total contraste com o que era há apenas duas décadas, um local malcheiroso e praticamente abandonado.
Após a recuperação, as estreitas ruas de paralelepípedo com ar de vilarejo italiano voltaram a exibir o charme que fez da cidade um importante centro comercial na Idade Média e principalmente durante a Renascença.
Mas a história do bairro é ainda mais antiga. Embora o nascimento da cidade tenha ocorrido no alto da colina de Fourvière, os antigos moradores preferiram viver mais próximos ao rio Saône, limitador natural do bairro em uma das extremidades (a própria colina faz o outro limite).
Com a construção no século 12 da igreja de Saint Jean, uma das mais antigas da cidade, teve início o desenvolvimento do bairro ao seu redor. Até hoje a igreja é uma das principais atrações de Velha Lyon, com sua fachada de estilo predominantemente gótico e sem boa parte dos detalhes originais -muitas estátuas de santos foram destruídas durante as guerras que a região atravessou.
Apesar dos ataques, o prédio conseguiu manter um belo relógio astronômico do século 13, com todos os conhecimentos de astronomia da época, e os belos vitrais da mesma época, que só estão intactos por terem sido retirados em razão da investida iminente de inimigos durante a Segunda Guerra Mundial.

"Traboules"
A maior beleza de Velha Lyon pode ser vista ao se passear por qualquer uma de suas ruas: a influência da arquitetura italiana -graças à presença maciça no passado de mercadores italianos, principalmente no período renascentista- aparece em fachadas e no interior dos seus misteriosos casarões.
Para reconhecê-la, basta observar a predominância de escadas em formato espiral, conhecidas em francês como "petit escargot" (pequeno caramujo) ou os vãos centrais das edificações com inúmeras arcadas com vista para um jardim interno.
Outra marca registrada de Lyon são as "traboules", estreitas passagens no meio dos prédios antigos que servem de comunicação, ao ligar ruas paralelas ao rio Saône. Não se conhece exatamente o número total de "traboules" que podem ser encontradas em Lyon.
Muitas abrem somente para travessia em um sentido, enquanto outras têm horários específicos para funcionar, mas descobrir algumas delas é uma forma divertida de conhecer a cidade em seu interior (pois atravessam prédios ainda habitados) e de se surpreender com os pátios internos que algumas apresentam.
À noite, Velha Lyon é refúgio para quem busca diversão: reúne uma grande quantidade de bares e restaurantes, compensando talvez o principal defeito da cidade, a falta de vida noturna. Ali podem ser saboreadas as comidas típicas da região até altas horas da madrugada, com o privilégio de ter a vista para o rio Saône de um lado, e para a iluminada colina de Fourvière, do outro. (CÁSSIO AOQUI)


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