São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2008

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O PAÍS E O POETA

Caminhadas por Qadisha inspiraram obra do autor

Vale Sagrado, patrimônio da humanidade desde 1988, abriga antigas comunidades monásticas cristãs

DO ENVIADO ESPECIAL AO LÍBANO

Wadi Qadicha (vale Sagrado) abriga algumas das comunidades monásticas cristãs mais antigas do Oriente Médio e mosteiros como Deir Qannubin, Deir Mar Elisha e Deir Mar Antonios Qozhaya.
Mosteiros talhados nas montanhas, refúgios para escapar das adversidades, o rio homônimo e as fontes que irrigam os terraços agrícolas: o vale onde Gibran costumava caminhar convida à meditação e à expressão literária. Aldeias próximas são renomadas pela tradição poética, e um dos principais poetas do Líbano, Asaad Sibeeli, provém da região.
A tradição oral conta que o vale se dirige ao mar Mediterrâneo, que ouve suas palavras como se lesse um caderno a relatar suas histórias. O vale teria, assim, vários contos a narrar, e quem por ele passa pode levá-los ao mar e a outras terras.
"Gibran foi muito influenciado pelo vale e pelas montanhas que conduzem ao infinito. É o poeta de seu meio. Como na pintura "Dança Para o Infinito", em que cinco espíritos dançam para o infinito, o infinito não é mais absoluto, pois se oferece ao homem", afirma Wahib Keyrouz, curador do Museu Gibran desde 1971.
O mosteiro de Mar Antonios (santo Antônio) Qozhaya ("o tesouro da vida", em siríaco) também aparece na obra de Gibran. Remonta ao início do século 5º, quando a vida monástica estava consolidada na região. Foi a primeira sede episcopal maronita. Ali se reuniam os eremitas do vale, com a presença do bispo, semanalmente.
Na visita ao mosteiro, é possível aprender sobre a vida de santo Antônio e sobre a Igreja Maronita (em referência a são Marun, monge eremita do século 4º), predominante no país. Diariamente, há orações e litanias, e, aos domingos, são celebradas cinco missas. Outros santos importantes são Nimatullah al-Hardini e santa Rafqa.
Ao lado do mosteiro, há uma caverna à qual se atribuem propriedades curativas. O museu do local expõe, além de objetos religiosos, paramentos, quadros e instrumentos agrícolas antigos, a primeira prensa gráfica do Oriente (do século 16) e o primeiro texto impresso, o "Livro dos Salmos", em caracteres siríacos.
"A história dos maronitas e a origem do Líbano estão totalmente vinculadas ao vale", afirma Wadi Waji Chbat, 54, presidente da Sociedade de Turismo da Região dos Cedros e de Bcharre. "Favor respeitar a santidade deste local", dizem algumas placas no vale.
"Muitos grupos vêm fazer trekking", diz Chbat, dono do hotel de mesmo nome na cidade de Bcharre.
Em dezembro de 1988, a Unesco declarou o mosteiro, o vale e os cedros do Líbano patrimônio da humanidade. (PDF)


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